Turbulência a caminho: hora de a bolsa cair na real?
FMI fala de um nível de incerteza nunca antes visto, justamente no momento em que investidores começam a questionar as políticas econômicas de Bolsonaro
Da Redação
Publicado em 15 de outubro de 2018 às 05h37.
Última atualização em 15 de outubro de 2018 às 10h07.
Eis uma consequência inevitável da avalanche eleitoral: a dissociação da realidade brasileira do contexto global. Enquanto nos debatemos entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), o mundo segue seu curso. E, infelizmente, o cenário não é dos mais promissores para a economia brasileira no curto ou no médio prazos.
Enquanto a bolsa brasileira estava fechadas por conta do feriado na sexta-feira, as bolsas internacionais encerraram uma semana de queda sob impacto de uma confluência de números negativos. Na terça-feira, o Fundo Monetário Internacional reduziu a previsão de crescimento da economia global de 3,9% para 3,7%.
Entre os motivos estão a guerra comercial entre Estados Unidos e China, um arrefecimento na economia europeia e o aumento de juros nos Estados Unidos, que leva a cortes de investimentos em países emergentes, como Brasil. Ao encerrar o encontro anual do fundo, ontem na Indonésia, sua diretora-geral, Christine Lagarde, lamentou “o questionamento do multilateralismo”, fonte de “um nível de incerteza nunca visto”.
Segundo um número crescente de analistas, o ciclo de crescimento global pode estar no fim justamente quando o Brasil tenta sair da maior recessão de sua história. Na semana passada, o Dow Jones, o principal índice de ações americano, fechou em queda de 4,5%. A expectativa é que a temporada de balanços, que começa hoje, traga algum alento de curto prazo para um cenário sombrio.
A grande pergunta para investidores de olho no Brasil é o quanto o país consegue se blindar do cenário externo. Os bons números de Bolsonaro fizeram com que a bolsa brasileira ficasse estável na semana passada, apesar da turbulência internacional. O problema é que o capitão reformado do exército vem dando reiterados indícios de ser menos comprometido com o liberalismo econômico e com as reformas do que o mercado convenientemente supôs nas últimas semanas.
“A reforma da Previdência está sob risco, as privatizações ficaram no passado e por onde se olha nas propostas tudo passa por forte aumento de gastos, como no Bolsa Família”, diz Sérgio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados e colunista de EXAME.
Em artigo recente a EXAME, Harold James, professor de Princeton, alertou para a demora em medidas populistas causarem danos na economia real. A única certeza, para James, é que um dia o chão acaba, seja para Donald Trump nos Estados Unidos ou para Recep Erdogan, na Turquia. A vantagem de chegar atrasado à corrida populista global dá ao Brasil a vantagem de analisar os erros externos.
“Um eventual governo Bolsonaro corre o risco de fazer menos do que Michel Temer vinha fazendo”, diz Vale.