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Títulos da Usiminas ficam para trás com venda de carros

As vendas de veículos caíram 10,8% em abril, mesmo após cortes na taxa básica de juros desde agosto, promovidos pelo Banco Central

O rendimento dos títulos da Usiminas em dólar com vencimento em 2018 estava em 5,23% (Divulgação)

O rendimento dos títulos da Usiminas em dólar com vencimento em 2018 estava em 5,23% (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 15 de maio de 2012 às 08h47.

Nova York/Rio de Janeiro - A Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais SA, fabricante de aços planos usados na indústria automotiva, está perdendo a confiança dos investidores de títulos de dívida. Os esforços do governo em promover o crescimento econômico ainda não conseguiram impedir a queda nas vendas de automóveis.

O rendimento dos títulos da Usiminas em dólar com vencimento em 2018 estava em 5,23 por cento, ou 92 pontos-base mais que os papéis de vencimento similar da Gerdau SA, maior fabricante de aço da América Latina. O diferencial de rendimento, que está na máxima histórica, saltou de 25 pontos- base, ou 0,25 ponto percentual, três meses atrás, segundo dados apurados pela Bloomberg.

As vendas de veículos caíram 10,8 por cento em abril, mesmo após cortes de 350 pontos-base na taxa básica de juros desde agosto pelo Banco Central e reduções na taxa cobrada dos consumidores para estimular o crescimento da maior economia da América Latina. O mercado doméstico responde por cerca de 88 por cento das vendas da Usiminas, deixando a empresa mais vulnerável às oscilações da economia brasileira, disse Charles de Quinsonas, analista da Spread Research. A Gerdau obtém 56 por cento de suas receitas no exterior.

“Se você concentra todos os ativos em um país como o Brasil, uma vez que há uma desaceleração, você é mais afetado que seus concorrentes”, disse Quinsonas em entrevista por telefone de Lyon, na França. “Isso claramente tem sido um driver para o crédito. A diversificação geográfica tem sido positiva para a Gerdau.”

Prêmio de risco

O rendimento dos bônus da Usiminas deu um salto de 35 pontos-base nos últimos dois meses, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. A taxa de papéis vendidos por empresas globais de metais, mineração e siderurgia, incluindo a ArcelorMittal de Luxemburgo e a sul-coreana Posco, caiu 24 pontos-base no mesmo período para 3,72 por cento, de acordo com índices do Bank of America Corp.

Os títulos da Usiminas pagam 267 pontos-base a mais do que a dívida do governo brasileiro de prazo similar, comparado a uma diferença de 218 pontos em abril.

Um representante da Usiminas em Belo Horizonte, que pediu para não ser identificado em obediência à política interna, se recusou a fazer comentários para esta reportagem. Um representante da Gerdau em Porto Alegre também se recusou a comentar.

A Usiminas divulgou em 23 de abril prejuízo de R$ 70,8 milhões no primeiro trimestre, que foi o pior em três anos e o segundo resultado negativo em cinco trimestres. A produção de aço bruto caiu pelo sexto trimestre consecutivo na comparação anual para 1,67 milhão de toneladas.

"Situação muito difícil"

“A Usiminas está numa situação muito difícil e complexa e isso está se refletido nos números”, disse o presidente Julián Eguren durante teleconferência com analistas em 24 de abril.


Os licenciamentos de automóveis em abril tiveram a maior queda em mais de um ano, de acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores. As vendas da General Motors Co., sediada em Detroit, despencaram 23 por cento no mercado brasileiro.

A assessoria de imprensa da GM em São Paulo se negou a fazer comentários.

A Usiminas tem exposição “relativamente alta” ao setor automotivo brasileiro, disse Bárbara Mattos, analista da Moody’s Investors Service. A Moody’s rebaixou a classificação de risco da Usiminas em dois níveis para Ba2 em 10 de maio, fazendo dela a primeira empresa brasileira a perder o grau de investimento este ano. A Gerdau é menos vulnerável ao desaquecimento das vendas de veículos no Brasil porque é focada em aços longos, usados principalmente na construção civil, de acordo com a analista.

"Trimestre mais fraco"

“Os principais setores que demandam produtos da Usiminas tiveram um primeiro trimestre mais fraco”, disse Bárbara em entrevista por telefone de São Paulo. “Produtoras de aços planos sofreram mais do que produtoras de aços longos.”

A economia brasileira expandiu 2,7 por cento no ano passado, o segundo pior desempenho desde 2003, e menos do que a Alemanha, que cresceu 3 por cento, e a Suécia, que cresceu 4 por cento. O crescimento brasileiro vai se acelerar para 3,2 por cento neste ano, de acordo com a estimativa mediana em sondagem do Banco Central com 100 economistas publicada ontem.

O Comitê de Política Monetária do BC vai baixar a taxa básica Selic para a mínima histórica de 8 por cento até o fim de 2012, de acordo com a pesquisa da autoridade monetária. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou um pacote de medidas em 3 de abril, quatro meses após anunciar US$ 1,5 bilhão em isenções fiscais. Como parte das iniciativas, o governo vai desonerar a folha de pagamento de 15 dos setores mais prejudicados pela disparada das importações, além de expandir os empréstimos subsidiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social para impulsionar as exportações e os investimentos.

Lucratividade

O aumento das importações de aço limitou a capacidade de elevação de preços da Usiminas, afetando a lucratividade, de acordo com a Moody’s.

Para Omar Zeolla, analista da Oppenheimer & Co., a desvalorização do real vai encarecer o aço importado, beneficiando a Usiminas. O real perdeu 6,5 por cento neste ano, a maior queda entre as moedas de países emergentes, e ontem chegou a 2 por dólar pela primeira vez em quase três anos. A moeda terminou o dia com depreciação de 1,5 por cento, cotada em 1,9962 por dólar.

“O real mais baixo ajuda a Usiminas”, disse Zeolla em entrevista por telefone de Nova York. “Está tornando as importações menos atraentes e tomara que permita que subam os preços.”

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