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Temores sobre interferência no BC são exagerados e dólar deve cair, diz Gavekal Research

Analista de mercados emergentes ressalta unanimidade em última decisão do Copom após divisão na reunião passada

Roberto Campos Neto, presidente do BC, e Fernando Haddad, ministro da Fazenda: governo vem pressionando BC por juros mais baixos (Andressa Anholete/Bloomberg/Getty Images)
Guilherme Guilherme

Repórter de Invest

Publicado em 20 de junho de 2024 às 15h59.

A pressão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que o Banco Central reduza a taxa Selic tem mantido investidores cautelosos sobre os rumos da autarquia. No início da semana, Lula afirmou que o próximo presidente da autarquia "não vai se submeter às pressões do mercado " e terá que contribuir para o crescimento do país. Nesta quinta-feira, 20, Lula voltou a criticar o BC, lamentando a impossibilidade de remover o atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, antes do fim de seu mandato, previsto para a virada do ano. Apesar do risco, a casa de análise internacional Gavekal Research avalia que o medo é "exagerado".

"A interferência política nos bancos centrais é sempre uma preocupação nos mercados emergentes. Mas o Copom mostrou o oposto ao concordar por unanimidade em manter a Selic em 10,5%, apesar da intensa pressão política para o corte. Além disso, os quatro membros do Copom que Lula já nomeou (incluindo Gabriel Galípolo, amplamente cotado para suceder Campos) minimizaram ativamente os rumores de divisões políticas", afirma Udith Sikand, analista sênior de mercados emergentes da Gavekal Research, em relatório.

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Vale recordar que a última decisão do Copom foi dividida, com os quatro membros indicados por Lula votando pela continuidade dos cortes de 0,50 ponto percentual (p.p.) e os cinco indicados pelo governo anterior votando por um corte de 0,25 p.p. Tal divisão suscitou questionamentos sobre se o BC será mais leniente com a inflação a partir do ano que vem. Essa preocupação levou à piora das expectativas de inflação e à alta do dólar frente ao real. No ano, a moeda americana subiu cerca de 10% no Brasil, com o real entre as piores moedas do mundo.

"No mínimo, esta demonstração de unanimidade deverá ajudar a acalmar as preocupações do mercado sobre a credibilidade do BCB no combate à inflação", diz Sikand. Por outro lado, o analista pontua que, além das incertezas relacionadas ao BC, a moeda brasileira também vem sofrendo com a deterioração das perspectivas fiscais.

"Dólar ainda deve cair"

Mas o analista aponta que as razões da desvalorização do real vão além dos fatores internos. O enorme interesse de investidores por teses relacionadas à inteligência artificial, diz ele, também tem pesado negativamente sobre a moeda brasileira. "O mercado está com uma visão negativa sobre ativos cíclicos, e o Brasil pode ser considerado o país 'cíclico' por excelência. Mas, como o desempenho inferior dos cíclicos é em função do foco em inteligência artificial, e não de qualquer mudança no ambiente macro global, o revés é, de certa forma, exagerado."

Embora considere exagerado o pessimismo do mercado sobre o real, a Gavekal pontua que ainda é preciso um gatilho para o real ganhar tração contra o dólar. "Um exemplo seria a queda de juros do Federal Reserve."

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