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Setembro: o mês mais cruel para os bancos

Pesquisadores apontam que crises bancárias podem ser seguidas por cambiais e soberanas

Lehman Brothers quebrou em setembro de 2008, o pior mês para crises bancárias (Oli Scarff/Getty Images)

Lehman Brothers quebrou em setembro de 2008, o pior mês para crises bancárias (Oli Scarff/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 27 de junho de 2012 às 09h07.

São Paulo – Se os bancos de países como Espanha e Chipre estão pedindo resgate agora, é melhor se preparar para o que pode acontecer em setembro. Ao menos para quem acredita em padrões históricos, o mês pode ser preocupante para os mercados financeiros.

Um relatório elaborado pelos pesquisadores Luc Laeven e Fabián Valencia, do departamento de estudos do Fundo Monetário Internacional (FMI), apontou um padrão nas crises bancárias desde 1970 até 2011: a maior parte começa na segunda metade do ano, com fortes efeitos nos meses de setembro e dezembro.

E se é para pensar em histórico, não custa lembrar que o americano Lehman Brothers, na época um dos maiores bancos de investimentos do mundo, quebrou no fatídico dia 15 de setembro de 2008, data vista como o início da atual crise financeira.

Laeven e Valencia também notaram que crises cambiais e de dívidas soberanas tendem a seguir as bancárias. Enquanto 16% das crises bancárias são precedidas por uma cambial no mesmo país em um período de até três anos, 21% são seguidas por um cambial nos três anos seguintes.

A ocorrência de dívidas soberanas é menor, mas a diferença é maior. Apenas 1% das crises bancárias assiste a uma soberana no período analisado, enquanto 5% delas vê uma crise soberana após a bancária.

Metodologia

O relatório considerou o período entre 1970 e 2011 e identificou padrões de 147 crises bancárias, 218 crises cambiais e 66 crises de solvência neste período. Segundo os pesquisadores, apenas dois países tiveram mais que duas crises bancárias no intervalo estudado, a Argentina e a República do Congo, com quatro crises cada um.

O Brasil registrou duas, uma com início em 1990 e outra em 1994. Nos Estados Unidos, também aconteceram duas, uma com início em 1988 e outra com início em 2007 (que culminou na quebra do Lehman Brothers no ano seguinte).

Como se resolve

Os dados também apontaram como os países costumam resolver os problemas dos bancos. Em geral, políticas monetárias e fiscais são as medidas preferidas dos governos de países desenvolvidos, mas não tão populares nos países emergentes.


"Uma explicação é que as economias avançadas têm opções melhores para utilizar políticas anticíclicas e, em geral, têm mais espaço para usar políticas monetárias”, explicam os pesquisadores.

A pesquisa mostrou que a combinação entre esse tipo de política e os resgates bancários, incluindo capitalização com fundos do governo, acontece em dobro em mercados em desenvolvimento e emergentes.

Mas afinal, o que é crise bancária?

Um ou dois bancos de um país podem estar muito mal das contas, mas se estiverem numa situação isolada, não dá para chamar essa de crise. Por isso, os pesquisadores desenvolveram uma lista de seis critérios e, se ao menos três deles estiverem ocorrendo simultaneamente em um único país, significa uma crise bancária.

Os critérios são: necessidade de forte suporte de liquidez; custo bruto de reestruturação bancária de ao menos 3% do PIB; número significativo de nacionalizações bancárias; volume significativo de garantias dadas pelo governo; compra de ativos bancários correspondendo a ao menos 5% do PIB; e congelamento de depósitos ou proclamação de feriados bancários excepcionais.

De olho

Atendendo pelo menos três desses critérios, os pesquisadores identificaram 17 países com crises recentes ou ainda em andamento: Estados Unidos, Inglaterra, Ucrânia, Espanha, Nigéria, Holanda, Mongólia, Luxemburgo, Letônia, Cazaquistão, Irlanda, Islândia, Grécia, Alemanha, Dinamarca, Bélgica e Áustria.

Os pesquisadores listaram alguns países que merecem uma atenção maior, ou seja, que cumprem dois dos seis critérios. O estudo apontou França, Hungria, Itália, Portugal, Rússia, Eslovênia, Suécia e Suíça.

A pesquisa identificou países com crises iniciadas até 2011 e, por isso, o Chipre, que pediu ajuda para seus bancos, ainda não é apontado no estudo.

Confira o estudo completo:

http://www.scribd.com/embeds/98309679/content?start_page=1&view_mode=list&access_key=key-tw8rto926g3rvyzkqfu

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