Seca de IPOs brasileiros traz 1º semestre mais fraco desde 2016
Nenhuma empresa brasileira abriu capital neste ano até dia 20 de junho, contra 29 transações que levantaram US$ 6,9 bilhões no mesmo período no ano passado
Karla Mamona
Publicado em 23 de junho de 2022 às 13h55.
Os banqueiros de investimento estavam preparados para uma forte desaceleração das ofertas públicas iniciais de ações brasileiras neste ano, dado que uma repetição dos volumes recordes de 2021 parecia altamente improvável. Mas o tombo está provando ser ainda mais dramático do que o inicialmente esperado.
Nenhuma empresa brasileira abriu capital neste ano até dia 20 de junho, contra 29 transações que levantaram US$ 6,9 bilhões no mesmo período no ano passado, e estendendo uma pausa que começou após a mega oferta do Nubank em dezembro, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. Para empresas dos Estados Unidos, o número de transações caiu de 473 para 104 no mesmo período.
O mercado de IPOs brasileiros caminha para o primeiro semestre mais fraco desde 2016 -- quando a então presidente Dilma Rousseff enfrentava um processo de impeachment e o país lidava com uma recessão recorde. Agora, a escalada das taxas de juros ao redor do mundo reduziu o apetite por ativos de risco, enquanto temores de uma desaceleração global cresceram e, localmente, os investidores se preparam para as eleições presidenciais de outubro.
“A volatilidade sustentada continua permeando o sentimento dos investidores globais”, disse Bruno Saraiva, co-chefe do banco de investimento do Bank of America no Brasil. “Os investidores estão mais seletivos, e, no melhor dos cenários, teríamos um número reduzido de IPOs vindo a mercado até o fim do ano.”
O índice S&P 500 entrou em ‘bear market’ na passada, diante da preocupação de que o Federal Reserve, banco central dos EUA, precisará ser mais agressivo para domar a inflação, arriscando provocar uma recessão na economia.
A performance dos IPOs de 2021 também não ajuda. Os preços caíram 39% em uma média ponderada por tamanho, segundo dados da Bloomberg, com ações de empresas como Mobly, Brisanet e GetNinjas acumulando queda de mais de 80%.
Mais adiante, a expectativa é de que qualquer recuperação no mercado de IPOs seja gradual.
“A questão é: por que uma empresa deve se apressar para abrir o capital agora -- quando a incerteza ainda é alta e as referências relativas de valor ainda estão distorcidas?”, disse Ricardo Bellissi, co-chefe da área de banco de investimentos do Goldman Sachs Brasil. “Nós poderemos seguir para um cenário mais normalizado após as eleições, mas o pano de fundo global mostra um alto grau de complexidade.”
A BRK Ambiental, controlada pela canadense Brookfield, aprovou pedido de registro de oferta pública, enquanto a Corsan retomou seu plano de IPO. As empresas que buscarem acessar o mercado precisarão atrair os investidores em meio à preocupação com atividade econômica global e com as incertezas políticas domésticas.
Enquanto algumas empresas colocam os planos de IPO em segundo plano, ainda há apetite por nomes já listados, especialmente com os preços no mercado acionário brasileiro no menor nível desde 2008.
“O mercado de IPOs está completamente parado, mas temos visto vendas em bloco e ofertas subsequentes”, disse Eduardo Miras, chefe de banco de investimento do Citi no Brasil.
Recentemente, a General Atlantic comprou ações da Locaweb por meio de um bloco e já tem cerca de 11% da companhia, segundo documentos regulatórios. No começo de junho, a oferta subsequente que privatizou a Eletrobras levantou cerca de R$ 34 bilhões, na segunda maior oferta de ações do ano até agora.