Radar: mercado repercute novos capítulos sobre privatização da Sabesp (SBPS3) (Victor Moriyama/Bloomberg/Getty Images)
Repórter de finanças
Publicado em 27 de junho de 2024 às 08h30.
Os mercados internacionais operam majoritariamente em baixa na manhã desta quinta-feira, 27. Na Europa, as bolsas abrem sem direção definida à medida que um clima de cautela prevalece antes do primeiro turno das eleições parlamentares da França neste final de semana. Nos Estados Unidos, à espera dos dados do PIB e da inflação americana (na sexta-feira, 28), os índices futuros recuam.
Na Ásia, os principais índices fecharam em baixa de olho em fatores locais, como o fraco desempenho do setor de tecnologia e consumo, avanço mais fraco do lucro industrial da China e em meio a preocupações de que o Banco do Japão (BoJ) volte a elevar os juros. Por aqui, o Ibovespa futuro opera em alta, após fechar a sessão anterior com ligeiro avanço na esteira da valorização da Vale (VALE3).
O mercado repercute a desistência da Aegea de apresentar uma oferta para ser acionista de referência da Sabesp (SBPS3). Agora, a Equatorial é a única a fazer uma proposta para adquirir 15% da companhia, que vai ficar amarrada num acordo de acionistas de cinco anos com o Estado.
A decisão da Aegea, que era ativa nas conversas com reguladores e bancos coordenadores, foi influenciada por cláusulas como a "poison pill", que obriga uma oferta por toda a empresa se a participação ultrapassar 30%, e a "right to match", que permite ao investidor aumentar sua oferta inicial na segunda etapa.
A inclusão de cláusulas desfavoráveis para a Aegea, como as de non-compete, favoreceu a Equatorial, que tem apenas uma concessão pequena no Amapá, enquanto a Agea é a maior empresa privada de saneamento do país, com um pipeline agressivo de expansão. Agora, a disputa será mostrar o potencial da Sabesp sob um novo modelo regulatório, com a Equatorial começando seu road show na próxima segunda-feira, 1.
Também no radar corporativo, está Suzano (SUZB3). Após várias tentativas, a empresa desistiu da compra da americana International Paper, afirmando que atingiu o preço máximo que geraria valor, sem engajamento da outra parte.
A falta de interesse da International Paper, que está comprometida com uma fusão com a britânica DS Smith, foi um dos principais impedimentos. A Suzano destacou que a transação dependia de um acordo privado, confidencial e amigável, o que não foi possível, levando à desistência.
O interesse da Suzano surpreendeu investidores, resultando em perdas de mais de 20% nas ações da empresa. Fontes próximas informaram no início de junho que a Suzano poderia levantar até US$ 19 bilhões para a aquisição, mantendo a alavancagem em cinco vezes, mas o mercado temia a capacidade financeira da Suzano para absorver a International Paper.
Na agenda dos indicadores econômicos, o Ministério do Trabalho divulga hoje o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) de maio, com uma expectativa de 180 mil novos postos de trabalho, segundo o Bradesco. Em abril, a economia brasileira criou 240.033 postos de trabalho com carteira assinada. O número foi ligeiramente menor do que a geração de vagas em março, quando foram criados 244.716 empregos.
O mercado também repercute o relatório trimestral de inflação do segundo trimestre divulgado pelo BC, publicado às 8h, que deve trazer mais elementos para a compreensão das projeções de inflação do órgão. Ontem, o Banco Central informou que, em linha com a prática internacional, o relatório de inflação passará a se chamar relatório de política monetária sistemática de divulgação a partir de 2025.
No cenário internacional, o destaque é a divulgação, nesta quinta-feira, do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre dos Estados Unidos. O consenso LSEG aponta para uma projeção de alta de 1,5%. O número serve de termômetro para mostrar se a economia americana está aquecida. Com isso, investidores ganham mais um sinal sobre os próximos passos da política monetária por lá.
De olho nas eleições americanas, hoje também ocorre, às 22h, o primeiro debate entre os candidatos à presidência Joe Biden e Donald Trump.
Ainda segue no radar as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre gastos e o Banco Central. Ontem, em meio a temores fiscais, o dólar disparou e chegou a R$ 5,52, maior patamar desde janeiro de 2022. Em entrevista à UOL, Lula afirmou que os benefícios para os mais pobres não serão mexidos, e que é necessário analisar se o problema são as despesas que precisam ser cortadas ou aumentar a arrecadação.
O secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, minimizou as declarações de Lula em entrevista para comentar os dados fiscais de maio. Entretanto, a autoridade afirmou que as medidas estudadas visam à adequação do crescimento de gastos dentro do limite do arcabouço fiscal e não uma redução de despesas que pode gerar o corte de um programa, por exemplo.
Nesta última quarta-feira, 26, o Conselho Monetário Nacional (CMN) ratificou a meta contínua de inflação de 3%, com tolerância de 1,50% para baixo ou para cima. Alguns pontos de destaque foram que, caso fique seis meses fora da meta, esta será considerada descumprida, somado ao fato de que qualquer mudança precisa ser feita com 36 meses de antecedência, o que praticamente evita que governos façam alteração em seu mandato.