Redução do diesel sinaliza risco de intervenção na Petrobras, dizem analistas
Embora corte de R$ 0,40 por litro acompanhe queda do mercado internacional, maior receio de agentes do mercado está em mudanças na política de preços
Raquel Brandão
Publicado em 7 de fevereiro de 2023 às 18h08.
O anúncio da Petrobras (PETR3/ PETR4) da redução de R$ 0,40 no litro do diese l foi o primeiro com Jean Paul Prates à frente da estatal, mas foi visto de forma precipitada por agentes de mercado, embora os preços no mercado externo venham registrando queda. O maior receio está em torno da política de preços e o nível de intervenção do governo.
“Com uma nova equipe de gestão recém-nomeada, um rápido ajuste de preços para baixo pode ser visto como um termômetro para o nível de intervenção daqui para frente”, escreveram os analistas do Morgan Stanley. A equipe do banco argumenta que a estatal sempre defendeu não levar em consideração para a formação de preços os movimentos de curto prazo, para evitar, assim, volatilidade.
Ainda de acordo com o relatório, a projeção de uma desvalorização do real e a alta de até 10% no fim do segundo trimestre faz com que o corte de preço possa ter vindo cedo. "Epode ser interpretada como um sinal de possível intervenção do novo governo", escrevem os analistas.
O banco acredita, ainda, que cortes no preço da gasolina devem vir mais à frente. A estatal, dizem os analistas do Morgan, estaria esperando o fim de fevereiro, quando a cobrança de impostos vai ser reestabelecida (a isenção vale até o fim do ano para o diesel). A equipe manteve recomenção neutra, com preço-alvo de US$ 12,50 para a ADR (recibo de ações negociados na Bolsa de Nova York)
Os analistas do Itaú BBA afirmam que "um IPP [índice de preços ao produtor] menor pode permitir novas reduções nos preços internos e mitigar parcialmente o impacto nos preços na bomba". Eles calculam que uma redução de 10%, que seria o prêmio do preço da gasolina da Petrobras hoje em relação ao mercado internacional, seria de R$ 0,30 por litro. O banco também tem recomendação neutra, com preço-alvo de R$ 38 por ação preferencial, a PETR4.
Para o Goldman Sachs, embora a ação da Petrobras esteja barata, há um “aumento da incerteza sobre as políticas a serem adotadas nos próximos anos”. Por isso, o banco manteve a recomendação neutra, com preço-alvo de R$ 26,30 para a ação preferencial. Nesta terça-feira, o papel fechou em queda de 0,81%, a R$ 25,57, após alta de 3,99% no pregão anterior.
Segundo os analistas do Goldman Sachs, agora os preços do diesel da Petrobras estão em linha com os da Costa do Golfo (prêmio de 1%), enquanto vemos os preços da gasolina estão 9% abaixo dos níveis de preço da gasolina da Costa do Golfo (ou 2% abaixo da paridade pela metodologia da ANP). Para eles, as indicações são de que as margens de refino da estatal seguem em níveis saudáveis.
Paridade internacional
A semana passada registrou queda em todos os direcionadores de preços internacionais. Isso fez com que os preços da gasolina e do diesel da Petrobras passassem de um desconto para um prêmio em comparação com os preços de paridade internacional semana a semana, de acordo com a Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP) e a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom).
Nesta semana, os direcionadores de preços internacionais continuaram em tendência de queda, levando o prêmio de hoje à paridade para 10% para a gasolina e 18% para os preços do diesel, segundo a Abicom.
Quando passa a valer a redução?
O preço mais barato para o diesel chega às distribuidoras amanhã. O preço médio de venda cai de R$ 4,50 para R$ 4,10 por litro, uma redução de quase 8,9%.
“Essa redução tem como principal balizador a busca pelo equilíbrio dos preços da Petrobras aos mercados nacional e internacional, contemplando as principais alternativas de suprimento dos nossos clientes e a participação de mercado necessária para a otimização dos ativos”, diz a estatal em comunicado.
Considerando a mistura obrigatória de 90% de diesel A e 10% de biodiesel para a composição do diesel comercializado nos postos, a parcela da Petrobras no preço ao consumidor será, em média, R$ 3,69 a cada litro vendido na bomba.