Por que o Nubank teve a recomendação rebaixada por analistas do BTG?
Analistas apontam que o banco digital deve ser afetado pela piora do mercado de crédito diante de condições adversas como inflação e juros elevados; ação recua 9% em NY
Da Redação
Publicado em 10 de fevereiro de 2022 às 19h36.
Última atualização em 10 de fevereiro de 2022 às 19h59.
As ações do Nubank (NU) na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE) recuaram 9,02% nesta quinta-feira, 10, em um dia bastante negativo para as bolsas americanas e, em particular, os papéis de empresas de tecnologia. A ação encerrou o dia negociada a US$ 9,28, com queda de quase US$ 1 em relação aos US$ 10,20 da véspera.
O BDR do Nubank negociado na B3 teve queda de 7,18%, negociado a R$ 8,14.
A forte queda na NYSE encerra uma sequência de quatro pregões em que a ação disparou 50%.
O pano de fundo para a queda generalizada — a Nasdaq fechou em queda de 2,10% — foi a divulgação pela manhã do CPI, o Índice de Preços ao Consumidor dos Estados Unidos, de janeiro: o índice veio com alta mensal de 0,6% e anual de 7,5%, acima das expectativas de Wall Street. Esses números reforçam a expectativa de aumento mais acentuado dos juros na maior economia do mundo.
Mas a forte desvalorização do Nubank também teve relação com suas próprias perspectivas na visão do mercado. Um relatório de analistas do BTG Pactual (BPAC11) rebaixou a recomendação para a ação de neutra para venda, enquanto o preço-alvo em 12 meses foi cortado em 15%, de US$ 10 para US$ 8,50.
Quer conhecer a análise completa sobre o Nubank? Leia os relatórios do BTG Pactual
O relatório assinado pelos analistas Eduardo Rosman, Ricardo Buchpiguel e Thiago Paura aponta que o banco digital não deve ficar imune à potencial deterioração esperada para o ciclo de crédito, em especial do crédito sem garantia, em razão do ambiente de inflação que segue elevada e de taxas de juro que devem continuar a subir diante das incertezas fiscais do governo.
Os analistas apontam que os níveis de endividamento já estão elevados, enquanto programas de auxílio do governo por causa da pandemia e períodos de carência ou renegociação concedidos por bancos chegam ao fim.
Eles dizem que, com as linhas mais caras do mercado — o rotativo do cartão de crédito e o cheque especial — de volta aos patamares pré-covid, junto com os sinais recentes de deterioração da qualidade de crédito revelados por bancos e instituições financeiras que já divulgaram seus resultados do quarto trimestre, o ciclo de crédito pode se agravar.
Santander (SANB11), Bradesco (BBDC4), Banco Pan (BPAN4), Porto Seguro (PSSA3) e BV revelaram piora em indicadores relacionados ao crédito nos últimos dias.
O Nubank tem conseguido manter suas taxas de inadimplência abaixo das médias do mercado até o terceiro trimestre, dado mais recente conhecido. O resultado do quarto trimestre ainda não tem data para divulgação.A taxa de inadimplência de 90 dias do Nubank nos cartões de crédito é de 3,3%, ante uma média do mercado de 4,8%.
Em entrevista à Reuters no início do mês, o CEO e cofundador do Nubank, David Vélez, afirmou que o uso de modelos com inteligência artificial na concessão de crédito permitia a manutenção da inadimplência sob controle. E disse que enxergava o ano difícil esperado em 2022 para ganhar participação de mercado, na medida em que bancos tradicionais devem segurar as concessões e se tornarem mais seletivos diante do momento adverso da economia.
Apesar da queda expressiva nesta quinta, a ação do Nubank na NYSE ainda está 2,2% acima do patamar de estreia há dois meses, que foi fixado em US$ 9. O BDR está 2,6% abaixo do preço de estreia, de R$ 8,36.