Por que Alfredo Menezes está apostando contra o Ibovespa e vê dólar a R$ 5,40
Pessimista com o Brasil, CEO da Armor Capital avalia que o dólar deve subir ainda mais até o fim do ano e espera apenas um corte de juros "simbólico" nos EUA
Repórter
Publicado em 26 de abril de 2024 às 10h39.
Última atualização em 29 de abril de 2024 às 10h17.
Alfredo Menezes, CEO e fundador da Armor Capital, está pessimista com o Brasil como não esteve em muito tempo. Com posições vendidas no Ibovespa , o gestor acredita que a bolsa brasileira está fadada a cair ou, no mínimo, perder para o rendimento do CDI.
"O que nos preocupa bastante são os problemas imobiliários da China. Então, não conseguimos ficar otimistas com commodities e a bolsa brasileira é muito dependente dos preços de commodities", afirmou Menezes em entrevista ao programa Vozes do Mercado, da Exame Invest.
As perspectivas também são negativas para o câmbio, tema em que é visto como uma das grandes referências do mercado. Sua previsão é de que o dólar encerre o ano a R$ 5,40, bem acima do consenso de mercado de R$ 5 para o fim de 2024 e do patamar atual de R$ 5,13.
"O fluxo de moedas fortes para o Brasil sempre foi mais forte no primeiro trimestre. Mas o fluxo do primeiro trimestre foi bem mais fraco do que nos anos anteriores. No fim do ano, essa relação costuma ser muito ruim para o Brasil, com amortizações e remessas de dividendos. Então, o dólar pode fechar o ano a R$ 5,40."
A esses fatores, Menezes ainda avalia que o fiscal e menor diferencial de juros em relação aos Estados Unidos têm jogado contra a moeda brasileira. "Se ocorrer um corte de juros nos Estados Unidos neste ano será será simbólica, após as eleições. Até por isso, seria saudável o Roberto Campos Neto [presidente do BC] reduzir os cortes de juros para 0,25 ponto percentual."
A redução do ritmo de queda de juros nos Brasil deverá ocorrer já na próxima decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), em 8 de maio, segundo o gestor. Nessa passada, prevê Menezes, o Banco Central conseguiria cortar a Selic, hoje em 10,75%, para 9,75%. A projeção anterior da casa era de que a Selic poderia ir a 8,5%. Mas as premissas foram revisadas, devido aos dados mais fortes de inflação nos Estados Unidos e a consequente expectativa de que Federal Reserve (Fed) mantenha os juros elevados por mais tempo.
O maior risco para os mercados globais, avalia o CEO da Armor, é a inflação voltar a subir nos Estados Unidos a ponto de o Fed ter que voltar a subir juros em vez de cair. A possibilidade de isso acontecer, diz, é longe de 0%. "Há uma chance próxima de 15%. Seria um cenário muito ruim para os países emergentes."
Retorno de 220% do CDI
Aberto em 2019, o principal fundo da Armor Capital acumula um retorno de 94,7% em pouco menos de cinco anos. A rentabilidade é equivalente a 220% do CDI do período. O fundo tem foco em movimentos de curto prazo, além de buscar posições de valor relativo. Antes de montar sua própria gestora, Menezes teve longas passagens pelo BCN e pelo Bradesco, onde, como chefe de tesouraria, se consagrou como um dos traders mais respeitados do mercado. A margem de erro ao tentar acertar o longo prazo é muito maior", diz Menezes.
A entrevista na íntegra está disponível no canal da Exame no YouTube. Inteligência artificial, bolsa americana e retorno das NTN-B foram alguns dos outros temas abordados na conversa.