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Por que a bolsa brasileira está entre as piores do mundo, apesar de dados econômicos mais fortes?

Ibovespa encerrou pregão no menor patamar do ano em dia de PIB acima das expectativas para o primeiro trimestre

Fernando Haddad: ministro da Fazenda disse que há "fantasminhas" jogando contra o desenvolvimento do país (Ton Molina/NurPhoto/Getty Images)

Fernando Haddad: ministro da Fazenda disse que há "fantasminhas" jogando contra o desenvolvimento do país (Ton Molina/NurPhoto/Getty Images)

Publicado em 4 de junho de 2024 às 18h15.

Última atualização em 4 de junho de 2024 às 18h34.

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O produto interno bruto (PIB) do primeiro trimestre saiu acima do esperado nesta terça-feira, 6, coroando a sequência de dados econômicos acima das expectativas do mercado. Apesar dos números mais fortes, o Ibovespa fechou no menor patamar do ano. O crescimento foi de 2,5% na comparação anual ante um consenso de 2,2%, com a alta trimestral ficando em 0,8%.

Outro indicador que vem surpreendendo positivamente é a taxa de desemprego, que caiu recentemente para 7,5% ante expectativa de alta para 7,7% em setembro. O patamar é um dos mais baixos desde os números  do fim de 2015. Do lado empresarial, a confiança está no maior nível desde 2022, segundo índice da Fundação Getulio Vargas. Apesar dos dados mais fortes da economia brasileira, os principais indicadores de mercado têm contado outra história. Desde o início do ano, o dólar já subiu 8,91% frente ao real, enquanto o Ibovespa caiu 9,23% — queda que o coloca entre os piores índices de ações do mundo.

Entre as principais bolsas do mundo, a brasileira só está à frente da do México, onde a vitória esmagadora da esquerda nas eleições reacendeu preocupações sobre riscos à democracia. Ainda assim, a bolsa mexicana ostenta múltiplos mais altos, com seu principal índice rodando próximo de 12 vezes preço/lucro e o Ibovespa, perto de oito vezes.

O que estaria por trás do pessimismo com o Brasil, apesar dos números robustos? O questionamento chegou a ser levantado recentemente pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que em sessão na Câmara disse ter a impressão de que "fantasminhas" estariam fazendo a cabeça das pessoas.

Os fantasmas estão à solta

Mas, mesmo que nem sempre falem a nossa língua, esses fantasmas são muito mais reais do que parecem. O fantasma que mais tem assombrado o mercado brasileiro, na avaliação dos próprios investidores, tem sido o Federal Reserve (Fed), o banco central americano. Isso porque, embora tenha se acreditado que o Fed faria um ciclo intenso de corte de juros neste ano, as quedas sequer começaram. Pelo contrário. Com a inflação teimando em voltar para a meta de 2% nos Estados Unidos, cogita-se até possibilidade de o Fed voltar a subir juros, ainda que o cenário considerado mais provável é que o ciclo comece ainda neste ano, em setembro ou dezembro.

Acontece que nada no mercado tem mais peso sobre os principais indicadores globais que os juros americanos. Por serem considerados os mais seguros do mundo, qualquer alta de rendimento dos títulos do Tesouro pode drenar a liquidez global, dada sua garantia de retorno. Em abril, o título de dez anos chegou ao maior patamar do ano, atingindo um rendimento de 4,7%, cerca de 20% acima do apresentado no início do ano. Foi justamente nesse mês que a bolsa brasileira registrou a maior saída de capital estrangeiro, com a evasão de R$ 11,1 bilhões.

Internamente, o fantasma do desequilíbrio fiscal, velho conhecido entre os investidores brasileiros, também segue pregando peças. A que mais assustou recentemente foi a mudança de meta de superávit para os próximos anos. Ninguém no mercado esperava que a meta fosse alcançada, mas a troca foi encarada como um sinal de que o governo desistiu de buscar o ajuste fiscal. Para a Verde Asset, uma das gestoras mais influentes do país, a mudança de meta confirmou que a "a ilusão fiscal caiu por terra".

A piora da perspectiva fiscal e a expectativa de que os juros permaneçam altos por mais tempo nos Estados Unidos levou o Banco Central a reduzir o ritmo de corte de juros na última reunião, como já era aventado. O que saiu fora do roteiro foi a votação dividida. Todos os diretores indicados pelo atual governo votaram pela continuidade do ritmo de queda de juros, enquanto os diretores anteriores, incluindo o presidente Roberto Campos Neto, votaram pela redução do ritmo. Essa divisão deixou os investidores mais temerosos sobre como será o Banco Central a partir do ano que vem, quando os diretores indicados pelo presidente Lula passarão a ser maioria no Comitê de Política Monetária (Copom).

A interpretação de que o novo Copom irá tolerar uma inflação mais alta em troca de uma taxa de juro mais baixa tem piorado as expectativas de inflação para os próximos anos. Para controlar a expectativa de inflação, parte dos economistas espera uma reação mais enérgica do atual Banco Central, pausando o ciclo de corte de juros na próxima reunião ou na subsequente, o que tem provocado revisões para cima para a Selic do fim do ano. A projeção mediana do mercado, hoje, é de apenas mais um corte de 0,25 ponto percentual, com a Selic fechando 2024 em 10,25%.

Com a taxa de juro acima de 10% e uma série de incertezas na renda variável, investidores locais têm optado cada vez mais por investimentos em renda fixa. Dados da B3 mostram que a participação da pessoa física está no nível mais baixo dos últimos anos, em 13,8%. Em 2020, o investidor individual representava 21,4% das negociações. A dinâmica é parecida nos fundos de investimento, com o percentual alocado ações próximo do menor nível da série histórica da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), iniciada em 2006. Enquanto no ano, os fundos de renda fixa já captaram R$ 184 bilhões, os de ações perderam R$ 3,7 bilhões. Nos fundos multimercado, que também poderiam ajudar no fluxo para a bolsa, os saques estão em R$ 52 bilhões.

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