Petrobras (PETR4) promete continuidade com plano estratégico, mas mercado segue desconfiado
Companhia anunciou investimentos de US$ 78 bilhões para os próximos cinco anos, mas plano pode ser revisto sob novo governo
Beatriz Quesada
Publicado em 1 de dezembro de 2022 às 18h01.
Última atualização em 1 de dezembro de 2022 às 18h08.
Depois de um ano em que entregou forte resultados aos acionistas, figurando duas vezes na lista de maiores pagadoras globais de dividendos, a Petrobras apresentou seu plano estratégico para o quinquênio 2023-2027.
A palavra de ordem é “continuidade”, com o CFO Rodrigo Araujo Alves prometendo que os investimentos devem continuar focados nas áreas mais rentáveis da empresa e garantindo que o retorno ao acionista deve continuar entre as prioridades da empresa.
“Nossa capacidade de geração de caixa é de US$ 180 a US$ 210 bilhões de dólares nos próximos cinco anos. É um plano estratégico extremamente responsável que permite pagamento de dividendos mesmo num cenário de resiliência”, disse Araújo no Petrobras Day, evento realizado para investidores e analistas nesta sexta-feira, 1.
O novo plano estratégico foi bem recebido, mas restam dúvidas do quanto a Petrobras será capaz de executá-lo. O grande risco é político. Investidores temem que o governo eleito de Luiz Inácio Lula da Silva interfira no direcionamento da companhia. Durante a campanha, Lula criticou a distribuição de dividendos e prometeu colocar a Petrobras de novo na rota do refino, de olho em tornar o País autossuficiente em petróleo.
O caminho é oposto ao que vem sendo adotado pela estatal nos últimos anos e do que foi proposto no plano estratégico. Os dividendos ficam com boa parte dos holofotes, principalmente pela robustez dos pagamentos realizados em 2022.
Até o final deste ano, a Petrobras irá distribuir R$ 217 bilhões em dividendos aos acionistas – três vezes mais que os R$ 73 bilhões pagos no ano passado. A companhia foi a maior pagadora de dividendos do mundo no segundo trimestre, e ficou em terceiro lugar no pódio com a distribuição do terceiro trimestre.
Para os próximos cinco anos, a expectativa é de distribuição de US$ 65 bilhões a US$ 70 bilhões em dividendos, com possibilidade de US$ 10 bilhões a US$ 15 bilhões em dividendos extraordinários. O saldo final pode chegar a US$ 85 bilhões – cerca de R$ 442 bilhões.
Tudo isso, no entanto, pode mudar com a posse de Lula. “O novo presidente eleito e sua equipe de administração têm falado sobre a revisão do plano estratégico da Petrobras assim que assumirem o cargo em 2023. Dessa forma, não esperamos que o mercado considere como certas as perspectivas apresentadas, especialmente no que diz respeito ao pagamento de dividendos, que pode ser significativamente reduzido pelo novo governo”, informa relatório do Goldman Sachs.
Os analistas do BTG Pactual (do mesmo grupo controlador da EXAME ) já fizeram os cálculos do tamanho da redução no pagamento de dividendos sob gestão Lula, de acordo com algumas sinalizações dadas por Jean Paul Prates, coordenador da equipe de transição de óleo e gás do governo eleito e cotado para se tornar o novo CEO da estatal.
“[As falas de Prates] nos levam a acreditar que uma distribuição de dividendos de 25% dos lucros (mínimo pela legislação societária brasileira) é altamente possível, implicando em um dividend yield de 11% (contra 27,9% com base na política atual)”, afirmaram em relatório.
E para além dos dividendos, a grande preocupação do mercado é a futura estratégia da Petrobras. A estatal tem focado seus investimentos emexploração e produção de petróleo – especialmente em águas profundas, seu segmento mais rentável.
O governo eleito, por outro lado, pretende retomar o investimento em refinarias, considerado por analistas como um segmento menos rentável. “Embora a Petrobras tenha dado aula sobre reestruturação empresarial nos últimos anos, estamos menos confiantes em seu futuro. Estamos particularmente preocupados com a alocação de capital”, afirmam.
É possível, inclusive, que uma mudança na estratégia da companhia ocorra antes do final do ano, quando tradicionalmente a companhia divulga seus planos estratégicos. Isso porque, como controladora da Petrobras, o governo indica membros do Conselho de Administração que podem aprovar nomeações e trocar posições executivas com poder de propor um novo planejamento antes do prazo.
“A maioria das mensagens veiculadas pelo PT durante a campanha e pela equipe de transição sinaliza grandes discrepâncias entre a estratégia atual da Petrobras e aquela vislumbrada pelo novo governo. Portanto, embora as mudanças na administração e no Conselho demorem um pouco, vemos grandes chances de uma revisão do plano estratégico antes da revisão tradicional no final de cada ano fiscal”, defendem os analistas do BTG.
Diante da incerteza, as ações da companhia encerraram o dia em forte queda de quase 4%.
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