São Paulo – Ninguém sabia ao certo qual seria o efeito sobre os bancos brasileiros, grandes ou médios, quando o Banco do Brasil – seguido pela Caixa Econômica Federal – iniciou o corte dos juros para novos financiamentos com o programa “Bom Pra Todos” em abril do ano passado. Agora, um ano depois, já é possível ver o resultado no perfil da carteira de crédito das instituições financeiras na bolsa. Há claros perdedores e ganhadores neste novo cenário. “À medida que os créditos são renegociados ou vencem e novos são originados, a carteira começa a ter um perfil de maior risco e spread menor. Por mais que o grosso da redução já tenha sido realizado, a penetração de contratos com taxas menores continua muito forte na indústria. A partir de agora a queda dos spreads será gradual e qualquer aumento estrutural”, explica Andre Riva Gargiulo, analista especializado no setor financeiro do Grupo Bursátil Mexicano (GBM) no Brasil. Veja, a seguir, uma análise para 10 bancos brasileiros após os resultados do primeiro trimestre de 2013.
Segundo o GBM, o Bradesco (BBDC4) surpreendeu com um retorno do crescimento da carteira de crédito (ano a ano) após sete trimestres consecutivos de desaceleração. “O Bradesco já inha uma carteira muito conservadora e foi um dos que menos sofreu com o aumento da inadimplência no ano passado”, lembra o analista Andre Riva Gargiulo. E apesar do crescimento, a inadimplência de até 90 dias ainda apresentou uma melhora de 10 pontos-base, para 4%. O ponto negativo foi a penetração dos spreads menores na carteira. O preço-alvo foi elevado de 34,50 reais para 35,70 reais. A recomendação é “market undeperformer” – desempenho em linha com a média do mercado.
“É um caso a parte”, resume o analista Andre Riva Gargiulo. Ele explica que enquanto os demais bancos têm buscado uma carteira com melhor qualidade de crédito e menor inadimplência, o Santander (SANB11) ainda tem patinado. Foi o único a mostrar uma piora na inadimplência acima de 90 dias, que subiu 30 pontos-base e que chegou a 5,8%. “Esperávamos 20 pontos-base”, lembra Riva. O analista ressalta que existe o início de uma busca por uma carteira mais segura, mas ainda é preciso esperar para confirmar essa estratégia nos próximos trimestres. “Eles têm potencial para crescer acima do sistema, mas precisam fazer isso com cuidado”, conclui. A recomendação é de desempenho abaixo da média do mercado (market undeperformer). O preço-alvo é de 16,30 reais.
O Itaú (ITUB4) é o preferido do GBM entre os grandes. O analista Andre Riva ressalta que o banco foi o que mais sofreu com o aumento da inadimplência em 2011 e 2012, mas conseguiu melhorar a qualidade da carteira de crédito. Ainda antes do esforço do governo federal em promover a queda dos juros no sistema financeiro, o Itaú lançou o projeto Eficiência. A ideia era reduzir as despesas administrativas, de pessoal e não recorrentes de juros sobre a receita, que estava em 49% ao final de 2010 para 41% em 2013. Esse objetivo ajudou o Itaú a ficar mais bem preparado para o ambiente mais difícil de negócios. “Os benefícios deixaram o banco melhor posicionado para o cenário de melhores spreads. Foi uma feliz coincidência”, ressalta Riva. Além disso, o Itaú melhorou as políticas de originação para pequenas empresas e reduziu o foco em financiamento de veículos. Isso fez com que a inadimplência de até 90 dias caísse 30 pontos-base, para 4,5% no primeiro trimestre. A recomendação é desempenho em linha com a média (market performer) e o preço-alvo 40,80 reais.
O Banco do Brasil (BBAS3) pisou no freio no primeiro trimestre e apresentou o menor crescimento da carteira de crédito desde o início do programa “Bom Pra Todos”. O avanço foi também o menor entre os bancos. “Podemos creditar isso ao início do esgotamento da demanda artificialmente criada pelos menores spreads, mas ainda é cedo para extrapolar isso como uma tendência de longo prazo”, afirma Andre Riva. Com o tempo, caso a tendência permaneça, o GBM estima uma pressão sobre os índices de inadimplência e a piora para o cenário de receitas do crédito. “Por enquanto o crescimento estava compensando a redução dos spreads. Isso poderia tornar o cenário mais desafiador para o banco”, indica Riva. A recomendação de desempenho em linha com a média (market performer) foi mantida. O preço-alvo é de 29 reais.
Ao contrário dos grandes bancos, os médios são mais cíclicos e sensíveis à economia. Eles pedem, portanto, uma análise mais detalhada também porque atuam em segmentos diferentes entre eles. O Daycoval e o BicBanco, por exemplo, atuam com empréstimos a empresas que tem receitas entre 50 e 500 milhões de reais por ano. O Panamericano está mais voltado a ao consumo. O Banrisul é um médio de varejo, porém mais focado na região Sul e dependente da saúde da economia gaúcha. Veja, a seguir, as estimativas do GBM para 6 bancos médios.
Com o foco no middle market, o Daycoval (DAYC4) pode enfrentar um crescimento um pouco mais fraco de crédito ao longo do ano por conta do arrefecimento da economia brasileira, explica Gilberto Tonello, do GBM. “Apesar de o banco ter as melhores margens do setor, não está conseguindo equacionar a inadimplência”, ressalta o analista. Ele explica que o resultado também tem sido afetado pelo avanço do crédito consignado. Como o banco não possui agências existe uma dependência do trabalho dos representantes bancários. Os “pastinhas”, como são conhecidos, recebem a comissão no início do contrato. Desta forma, as despesas administrativas crescem. O preço-alvo foi cortado de 11,90 reais para 11,2 reais. A recomendação é de alocação abaixo da média (market undeperformer).
“É um banco bastante conservador”, resume o analista Gilberto Tonello. O ABC Brasil (ABCB4) tem margens menores por ser muito mais criterioso nos empréstimos, o que resulta em spreads e inadimplência menor. A ideia traçada pelo banco para crescer um pouco mais no middle market do que nas grandes empresas (corporate) foi deixada um pouco de lado para conter a inadimplência na carteira total. “É um banco que não vai apresentar muita volatilidade nos resultados e é mais conservador”, ressalta Tonello. O GBM destaca que, após a quebra de confiança por conta da situação na Líbia (O BC líbio é um controlador indireto do banco), a emissão recente de bonds do banco foi vista como muito boa. Além disso, pelas três principais agências de rating, o ABC Brasil tem notas superiores ao do BC líbio.
O Pine (PINE4) se assemelha ao perfil do ABC, mas sem um histórico de 20 anos em corporate e, por um período, operou com pessoas físicas. “Não está tão bem posicionado em qualidade de credito, mas por outro lado tem margens maiores e, além disso, tem as receitas não vindas de juros”, destaca Gilberto Tonello. A área Pine Investimentos ajudou a sustentar a rentabilidade do banco no passado, apesar da desaceleração no primeiro trimestre do ano. “Eles estão também com um trabalho para reduzir as despesas administrativas”, indica Tonello. O preço-alvo estimado é de 15,80 reais e a recomendação é de desempenho em linha com média do mercado (market performer).
“É o banco que mais vemos potencial de valorização”, destaca Andre Riva. Após dois anos ruins e a mudança em sua contabilidade (que mudou a marcação dos swaps que estava na curva para ‘a mercado’), o BicBanco (BICB3) está começando a diminuir o nível da inadimplência de até 90 dias da carteira e agora está em 2,6%. Ao mesmo tempo, o banco estabeleceu a estratégia de mudar o “mix” de clientes de middle para os corporates no curto prazo. “Achamos que ele pode estar chegando a um ponto de virada. Ainda está muito descontado e pode começar a surpreender um pouco o mercado porque o fluxo de notícias tem sido muito ruim. Nos atuais patamares de preço está interessante”, diz o analista. O preço-alvo foi mantido em 7 reais e a recomendação é de desempenho acima da média (market outperformer).
O Banrisul (BRSR6) apresentou no primeiro trimestre de 2013 um crescimento de crédito um pouco mais fraco do que o visto no final de 2012, mas isso pode mudar. A economia do Rio Grande do Sul viu uma queda nas vendas de motores para caminhões e ônibus por causa da mudança dos motores do padrão Euro 3 para o Euro 5. “Para enfrentar a queda de receitas, a estratégia está alinhada para crescer em não-juros”, diz Gilberto Tonello. O Banrisul também tem trabalhado no aumento da distribuição de produtos de seguros e em seu próprio sistema de adquirência para atender outras bandeiras (algo similar ao feito na GetNet, do Santander). A inadimplência tem crescido por conta de um portfólio comprado do banco Cruzeiro do Sul, mas tende a recuar assim que os pagamentos comecem a ser feitos. O preço-alvo foi mantido em 17,50 reais e a recomendação é de desempenho abaixo da média (market underperformer).
O ex-Panamericano e agora Pan (BPNM4), controlado pela Caixa e BTG Pactual (BBTG11), tem trabalhado para desvincular a imagem da instituição financeira àquela do Grupo Silvio Santos e de uma empresa em dificuldades. E uma das maiores garantias ao Pan está nos acordos de funding. E é justamente aí a grande diferença com os demais médios na bolsa. “Sempre que tem um choque externo acaba com a liquidez desses bancos, que precisa reduzir as margens. No Pan acontece o contrário”, aponta Gilberto Tonello. O foco está na mudança da carteira de veículos antigos para novos e mudando o perfil de tocada a carteira para reduzir a inadimplência. Além disso, com a garantia do funding, o Pan pode operar sempre perto do seu limite do índice de Basiléia. Isso tornar o Pan mais eficiente. “Apesar da facilidade de funding, colocávamos para ele um custo de capital um pouco acima em consequência de um risco de execução por conta do processo de reestruturação. À medida que vem entregando os resultados em linha reduzimos a taxa de desconto, que agora está igual ao dos bancos médios”, ressalta Andre Riva. O preço-alvo foi elevado para 7,50 reais e a recomendação é de desempenho abaixo da média (market underperformer).
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