O que o investidor estrangeiro achou das eleições?
Mercado espera Lula mais voltado ao centro e tom mais moderado em disputa do segundo turno
Guilherme Guilherme
Publicado em 3 de outubro de 2022 às 14h59.
Última atualização em 3 de outubro de 2022 às 15h03.
A disparada da bolsa e a queda acentuada do dólar nesta segunda-feira, 3, não deixou espaço para dúvidas: o mercado local e internacional gostou do resultado da eleição, que mostrou uma força inesperada do atual presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da SIlva (PT) saiu à frente na briga pela presidência, com o maior número de votos no primeiro turno, mas por uma distância mais apertada que a enunciada nas pesquisas eleitorais.
"A diferença foi substancialmente menor do que as principais pesquisas previam nas últimas semanas", ressaltou em nota aNenad Dinic, estrategista de ações da JuliusBaer. Segundo ele, a reação "muito positiva" do mercado brasileiro ao resultado já era esperada, dada as "maiores chances de vitória de Bolsonaro e a antecipação da virada de Lula ao centro, a fim de angariar votos de apoiadores dos candidatos centristas".
A possibilidade de um tom mais moderado no segundo turno e mais voltado ao centro também foi ressaltado por Frederico Sampaio, CIO e gestor de renda variável no Brasil da Franklin Templeton Emerging Markets Equity.
"Ainda acredito que o Lula seja favorito e que é muito difícil o Bolsonaro virar. Mas, no mínimo, Lula terá que ser mais moderado na agenda dele, o que é excelente para o mercado", afirmou.
Outro ponto levantado pelo gestor da Franklin Templeton é a composição do Congresso, que teve candidatos do partido de Bolsonaro como entre os mais votados. O PL colocou o maior número de representantes na Câmara e Senado, com 99 e 8 eleitos, respectivamente. O PT, de Lula, elegeu 68 deputados para a Câmara e 4 senadores.
"O Congresso será muito menos de esquerda do que parecia. Isso é outro ponto que dificulta retrocessos, como a revisão da reforma trabalhista e tópicos mais radicais ligados à esquerda" disse Sampaio.
Apesar do maior otismismo instaurado após as eleições,Dinic, da Julius Bear, prefere se manter neutro sobre a decisão de ficar comprado ou vendido em ativos brasileiros. Essa visão, segundo ele, será mantida até que tenham "mais sinais de moderação do favorito Lula antes do segundo turno."
O sinal de que Lula deverá ser "fiscalmente responsável", pontuou Dinic, poderá vir a partir da indicação de um ministro da Fazenda "amigável ao mercado". A expectativa no exterior e no mercado brasileiro é de que esse nome seja o do ex-ministro Henrique Meirelles, que já declarou apoio ao ex-presidente.