O país que superou os EUA em IPOs no 1º tri — e o que isso diz sobre o Brasil
Seca de ofertas iniciais no mercado brasileiro já dura mais de dois anos
Repórter
Publicado em 22 de maio de 2024 às 16h21.
As bolsas dos Estados Unidos realizaram 48 ofertas públicas iniciais ( IPOs ) no primeiro trimestre, movimentando um montante de US$ 8,4 bilhões, de acordo com pesquisa da Ernst Young (EY). Considerando todas as Américas, foram 52% IPOs, 21% acima do mesmo período do ano passado. Apesar da retomada dos IPOs, especialmente em Nova York, um outro mercado tem chamado atenção em número de aberturas de capitais: o indiano.
Somente no primeiro trimestre, a Índia foi palco de 79 IPOs, 88% maior na comparação anual. A quantidade representou 28% de todos os IPOs realizados no período, enquanto os EUA, 17%.
A Índia tem um dos maiores mercados do mundo em número de empresas abertas, com mais de 5.000 companhias listadas. O boom de emissões ocorre diante dos principais índices de ações do país próximos de níveis recorde. O Nifty 50, principal referência do mercado de ações da Índia, acumula 23% de alta em um ano e cerca de 90% nos últimos cinco anos.
Apesar do número relevante de IPOs, as 79 empresas que emitiram ações na Índia levantaram US$ 2,4 bilhões, menos de um quinto do valor movimentado nos 48 IPOs americanos no trimestre.
Rafael dos Santos, sócio e especialista em IPO na EY, explica que a grande quantidade de IPOs na Índia reflete as políticas econômicas adotadas pelo país há pelo menos uma década. "O mercado de capitais foi uma forma que a Índia encontrou para o financiamento de médias empresas. É diferente do que ocorre no Brasil, onde muitas dessas empresas de médio porte captam dinheiro com os bancos e com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)", afirma.
Os 79 IPOs do primeiro trimestre na Índia levantaram um montante total de US$ 2,4 bilhões, menos de um quinto do levantado pelas 48 empresas que abriram capital nos EUA.
Expectativa para IPOs no Brasil
No Brasil, onde a seca de IPOs já dura dois anos, Santos vê espaço para novas emissões, mas não antes do fim do ano.
"Apresar de não ter tido transações já há algum tempo, a sinalização é positiva no exterior. O cenário de inflação e juro está melhorando. Como o mercado brasileiro ainda depende muito do que acontece lá fora, o sentimento está mais favorável."
Na EY, Santos atua na preparação de empresas para o IPO e tem visto maior interesse vindo dos setores de infraestrutura, varejo e tecnologia. Mas, segundo ele, o apetite deverá ser apenas "moderado", com foco em empresas maiores e com histórico comprovado. "Quando o mercado brasileiro não está mais líquido e expansivo, é mais difícil passar ofertas menores. Na janela de 2019-2020, tinham ofertas de R$ 150 milhões. Hoje, será difícil ter oferta de menos de R$ 500 milhões."