Novo patamar: até onde vai a disparada do dólar contra o real?
Moeda americana enfrenta mini rali após anúncio do pacote fiscal do governo
Repórter de Invest
Publicado em 29 de novembro de 2024 às 15h19.
Última atualização em 29 de novembro de 2024 às 16h00.
O dólar comercial ganhou o impulso de um mini rali nesta última semana de novembro com o mercado reagindo negativamente à aprovação do novo pacote fiscal do governo. A moeda ultrapassou pela primeira vez o valor nominal de R$ 6 nesta quinta-feira, 28,e acumula alta de mais de 3% apenas nesta semana.
Vale lembrar que o recorde é para o dólar comercial, aquele utilizado em grandes transações financeiras, comércio exterior e operações entre empresas. O dólar turismo, utilizado por pessoas físicas, já havia superado a marca dos R$ 6.
Dólar hoje
- Dólar comercial: + 0,31%, cotado a R$ 6,008
- Dólar turismo: + 1,21%, cotado a R$ 6,298
O que esperar do dólar
Depois da disparada dos últimos dias, investidores estão na expectativa sobre os próximos passos do câmbio. Para Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank, a volatilidade deve continuar – mas o patamar dos R$ 6 deve ficar para trás.
“Estamos vendo uma reação um pouco exagerada com os últimos anúncios: em algum momento a taxa de câmbio vai se acomodar. É normal acontecer [esse tipo de movimento] quando vem uma notícia diferente do esperado pelo mercado”, avalia.
A notícia em questão é a da isenção de Imposto de Renda (IR) para pessoas com renda mensal de até R$ 5 mil, incluída junto ao anúncio do corte de gastos. A medida, que aumenta os gastos do governo, roubou o protagonismo do anúncio e fez o dólar disparar, alcançando a máxima de R$ 6,11 nesta sexta-feira.
“Dólar a R$6,10 é um patamar muito estressado para a moeda. A única coisa que pode acomodar o câmbio neste momento é uma política monetária mais restritiva dado que o fiscal está desancorado”, avalia Matheus Spiess, analista da Empiricus Research (do mesmo grupo de controle da EXAME).
Spiess projeta que o Copom irá acelerar o ritmo de corte de juros para 0,75 ponto percentual na próxima reunião, levando a taxa Selic para 12% ao ano. O analista defende que será importante uma postura unânime do BC nas próximas reuniões, especialmente quando Gabriel Galípolo, indicado do governo, assumir a presidência. “Se houver crise de credibilidade na política monetária, o dólar tende a desancorar ainda mais.”
Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, reforça que é preciso um reforço do comunicado do Copom em seu mandato de trazer a inflação par a meta. "[A possibilidade da moeda] voltar para R$ 5,50 já ficou distante, mas qualquer sinal de que inflação acima da meta será tolerada pela nova diretoria do Bacen pode abrir caminho para a busca dos R$ 6,50", afirmou.
Já Quartaroli, da Ouribank, acredita que a estabilização dos ânimos leve o câmbio para próximo da projeção do Boletim Focus. A expectativa é de que o dólar feche 2024 cotado a R$ 5,70. Há quatro semanas, a expectativa do mercado financeiro estava em R$ 5,45. Para os anos subsequentes (2025 e 2026), as cotações são projetadas para R$ 5,55 e R$ 5,50, respectivamente.
Pontos de atenção
Para além do fiscal, o dólar está se fortalecendo globalmente após o republicano Donald Trump ser confirmado na presidência dos Estados Unidos. As promessas protecionistas de Trump tem potencial de elevar a inflação – e os juros – dos EUA, atraindo capital estrangeiro para o dólar e, consequentemente, elevando a cotação global da moeda.
Existem desafios também do lado da China. O crescimento mais lento do gigante asiático pode impactar os preços das matérias-primas, prejudicando economias emergentes, como o Brasil, que tem na China seu principal parceiro comercial.
“O prêmio que vemos hoje no dólar deriva sim de vetores internacionais. O dólar está fortalecido ao redor do mundo, principalmente após a vitória de Trump. Mas mesmo com esse fator, existe uma ‘gordura’ [na cotação da moeda] muito mais relacionada ao fiscal”, completa Spiess.
Daqui para frente investidores devem acompanhar como as medidas propostas serão tratadas no Congresso. Nem todos os pontos deverão ser aprovados, e os deputados provavelmente farão mudanças no texto original. Essa incerteza pode, por sua vez, será um elemento adicional de volatilidade nos próximos meses.