Novas perspectivas eleitorais criam onda de IPOs no Brasil

São Paulo - O mercado de IPOs do Brasil está dando sinal de vida, em parte graças a uma recuperação das ações depois que as pesquisas mostraram que o país poderá ter um novo presidente no ano que vem.

Pelo menos quatro empresas estão preparando ofertas públicas iniciais no maior mercado da América Latina, onde não há estreias de emissores desde dezembro.

A empresa de infraestrutura de telecomunicações T4U Holding Brasil SA disse no mês passado que havia pedido à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) o registro para realização de um IPO, assim como a fabricante de medicamentos veterinários Ouro Fino Saúde Animal Participações.

A Azul Linhas Aéreas Brasileiras SA e a JBS Foods SA, divisão de alimentos embalados da fornecedora de carne JBS SA, também estão estudando vendas de papéis.

O Ibovespa subiu 28 por cento nos últimos seis meses e as pesquisas mostraram que a presidente e candidata à reeleição Dilma Rousseff -- sob cujo comando a inflação está crescendo e o déficit do orçamento está se ampliando -- pode perder as eleições em outubro.

Ao mesmo tempo, os emissores rebaixaram suas expectativas em meio a dois trimestres de recessão econômica no Brasil, ajudando a acabar com a diferença entre o preço pelo qual as empresas estão dispostas a vender ações e o que os investidores estão preparados para pagar, disse Hans Lin, do Bank of America Corp.

"Existe um sentimento do investidor muito diferente hoje do que seis meses atras", disse Lin, um dos diretores da unidade de investment banking do banco no Brasil, em entrevista em São Paulo.

"Você tem aí um pipeline de empresas que estão olhando o mercado, e eu acho que esse rali que deu no mercado obviamente melhora o sentimento".

A Azul, startup brasileira apoiada pelo fundador da JetBlue Airways Corp, David Neelemann, pode ressuscitar os planos de um IPO com uma precificação já em dezembro, disse Neeleman em uma entrevista em 30 de julho, em Barueri, São Paulo.

A Azul disse, em uma resposta a perguntas enviadas por e-mail, que a oferta dependerá das condições de mercado.

No total, as empresas poderão levantar mais de R$ 4,5 bilhões (US$ 1,99 bilhão).

Planos da JBS

A JBS planeja levantar mais de R$ 3 bilhões em uma oferta já em outubro, segundo uma fonte com conhecimento do assunto, que pediu para não ser identificada porque os planos são privados.

Um assessor de imprensa da JBS preferiu não comentar a respeito do prazo ou do montante.

A T4U, que trabalha com clientes como Oi e Telefônica Brasil, não respondeu a um pedido de comentário, assim como a Ouro Fino, que diz em seu prospecto que é a maior empresa latino-americana de saúde animal, excluindo multinacionais, citando o Animal Pharm Animal Health Industry Ranking 2013.

Agora, a perspectiva de uma antes improvável mudança no governo está acelerando os ganhos das ações e incentivando os investidores.

Sob o comando de Dilma os gastos públicos e as políticas de crédito subsidiado ampliaram o déficit orçamentário, impulsionaram a inflação e levaram ao primeiro rebaixamento da dívida soberana do país em mais de uma década.

Dilma mantinha uma vantagem nas pesquisas até a morte do candidato rival Eduardo Campos em uma queda de avião no dia 13 de agosto.

Depois do acidente, a candidata a vice-presidente de Campos, Marina Silva, assumiu a campanha e passou a ser a favorita nas pesquisas para ganhar a presidência em uma disputa de segundo turno.

Marina prometeu reduzir a intervenção nos mercados de câmbio e colocar a inflação sob controle.

O Ibovespa agora é negociado a 12,7 vezes os lucros projetados, mostram dados da Bloomberg.

Em 2009, quando os IPOs brasileiros tiveram uma explosão, com um recorde de 32 companhias brasileiras abrindo capital no mercado local, o Ibovespa chegou a subir para 18,3 vezes os lucros projetados, mostram os dados.