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Nova recessão americana assusta mercados

Bolsas em todo mundo já sentem a pressão das projeções de desaceleração econômica

Com o juro perto do zero, restam poucas cartas na mesa do Banco Central americano (.)

Com o juro perto do zero, restam poucas cartas na mesa do Banco Central americano (.)

DR

Da Redação

Publicado em 27 de agosto de 2010 às 08h03.

São Paulo - A crise financeira internacional, iniciada em 2008, ainda mostra a cara. Depois da Europa assustar o mundo com as elevadas dívidas públicas dos PIIGS (Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha), agora o foco dos investidores retornou aos EUA. O problema é que, depois de sair da crise com relativa rapidez, o fôlego diminuiu e as chances de uma nova recessão de proporções um pouco menores ganham corpo no mercado e entre os economistas. As bolsas em todo o mundo têm sofrido pelas incertezas. No Brasil, o Ibovespa já caiu 5,4% em agosto. Nos EUA, o índice Dow Jones recuou 4,6%.
 
"O perigo de uma nova recessão está crescendo. Há um mês eu diria que a probabilidade era de 20%, agora - com os fracos números do setor imobiliário, uma surpresa negativa no desemprego e baixas vendas no varejo - eu colocaria a probabilidade em 50%", disse ao Site EXAME o economista Barry Eichengreen, professor de economia da Universidade de Berkeley e ex-conselheiro sênior do FMI. O pacote de estímulos do governo Obama, que ultrapassou 1 trilhão de dólares, ajudou no relaxamento das linhas de crédito dos bancos, porém o emprego e a tomada de empréstimos ainda não retomaram com a força esperada.
 
Ao lado disso, o Federal Reserve (BC americano) foi agressivo no corte dos juros. O nível atual está em uma faixa entre zero e 0,25% ao ano. "Isso limita muito a ação do governo em favorecer o crescimento econômico", explica Oswaldo Telles, analista-chefe do Banco Banif. Sendo assim, há poucas cartas na mesa da equipe de Ben Bernanke, presidente do Fed. A última tacada foi a decisão de reinvestir os recursos que o BC recebe dos títulos hipotecários - comprados para dar liquidez ao mercado durante a crise - de volta nos títulos de longo prazo do Tesouro americano.
 
Para Ellen Beeson Zentner, economista para os EUA do Bank of Tokyo-Mitsubishi UFJ (BMTU), tecnicamente, os EUA nunca passaram por uma recessão ao estilo Double Dip (Segundo Mergulho). "Mas isso não deveria nos deixar confortáveis de que significa que ela não vai acontecer. Afinal, não só há uma primeira vez para tudo, como faz sentido que uma recessão sem precedentes seja seguida de um outro evento sem precedentes - a recessão Double Dip", destaca Ellen. O Fed também já assumiu que a desaceleração está maior do que era previsto. "Sem dúvida, enquanto a gente fala, eles devem estar revisando as próprias elevadas projeções", diz.
 
A taxa de desemprego nos EUA continua elevada. Em julho, chegou ao nível de 9,5%. "A taxa de desemprego vai demorar para cair e isso não deveria surpreender ninguém. Ainda que as empresas estão contratando de forma vacilante, um exército de desempregados da crise está novamente se lançando de volta ao mercado porque muita gente tinha desistido de procurar emprego", afirma Homero Guizzo, economista da LCA Consultores. A consultoria não acredita em uma nova recessão. "É uma possibilidade, mas não o mais provável. O mercado se assustou com a intensidade com a qual os dados", reforça Guizzo.
 
Há espaço para um novo estímulo fiscal? Para Francesco Giavazzi, professor da Universidade Bocconi, na Itália, e conselheiro do presidente da Comissão Europeia, a resposta é complicada. A primeira dificuldade será a dificuldade de passar uma nova proposta no Congresso às vésperas de uma eleição e, a segunda, é a de que quando se tem uma projeção de deterioração das contas públicas para o longo prazo, o estímulo pode não funcionar. "Se você ancorar as expectativas no longo prazo, aí sim o estímulo pode ajudar, se isso não acontecer, o estímulo não pode ajudar", diz.
 
O racional da preocupação do economista italiano é simples. Se o governo americano prometer, por exemplo, um ajuste futuro nos pagamentos das aposentadorias, ele pode conseguir diminuir as projeções da dívida pública. Se este espaço for de 15 anos, como o que aconteceu na Itália, cria-se uma janela de oportunidade para manter os estímulos atuais ou até para aumentá-los. "Se tivermos uma nova recessão, os preços vão cair e a deflação pode aparecer. Por isso a política fiscal é importante porque talvez vamos precisar de um novo estímulo", aponta.
 
A deflação é também um medo que acompanha o cenário de desaceleração econômica. Nos EUA, o núcleo da inflação está em 0,9% desde abril, o menor nível desde a década de 1960. Na Zona do Euro, a inflação está abaixo de 1%, menor patamar desde 1991. Ao mesmo tempo, o Japão retornou à deflação. Lá, o índice de preços ao consumidor cai rápido ao nível mais baixo desde a recessão do começo do milênio. Ainda há poucas certezas. Uma delas é de que, em breve, muitos economistas começarão a revisar as projeções da economia americana para baixo. "Neste ponto, parece que a melhor polícia, seja monetária ou fiscal, é o tempo", analisa Ellen, do BMTU.

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