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Nos EUA, JBS entra para clube de bens de consumo e mira grande aquisição: limite é infinito, diz CEO

Executivos veem possibilidade de comprar empresa maior que a própria JBS; foco é aumentar a margem e reduzir volatilidade por meio de alimentos processados

Gilberto Tomazoni, CEO global da JBS: "A história da JBS é feita de aquisições e ainda preferimos esta estratégia" (Leandro Fonseca/Exame)

Gilberto Tomazoni, CEO global da JBS: "A história da JBS é feita de aquisições e ainda preferimos esta estratégia" (Leandro Fonseca/Exame)

Guilherme Guilherme
Guilherme Guilherme

Repórter de Invest

Publicado em 22 de fevereiro de 2024 às 13h00.

Última atualização em 2 de maio de 2024 às 14h18.

A JBS está prospectando uma potencial aquisição que seja "transformacional" para os negócios da companhia. A ambição é promover um crescimento explosivo nos próximos anos, parecido com o vivido pela empresa no fim da década de 2000, quando sua listagem na B3 abriu caminho para que expandisse suas operações para o exterior e se tornasse a maior empresa de alimentos do mundo.

Estratégias da JBS para uma Aquisição "Transformacional"

Os planos foram detalhados pelos principais executivos da companhia em entrevista à Exame, que esteve nos Estados Unidos a convite da JBS para o CAGNY 2024, conferência voltada para analistas de bens de consumo, que neste ano contou com a presença de empresas como Kellogg’s, Diageo, Coca-Cola e Pepsi. A JBS foi a primeira empresa brasileira a participar do evento, que ocorre anualmente em Boca Raton, na Flórida.

"Se fôssemos uma empresa de commodities não estaríamos aqui. Nossa participação é um reconhecimento do que estamos fazendo em nosso negócio de valor agregado", afirma Gilberto Tomazoni, CEO Global da JBS.

O foco em alimentos preparados, que garantem maior margem e menor exposição aos ciclos inerentes ao negócio, se tornou um mantra da JBS nos últimos anos. Foi com esse objetivo, por exemplo, que a companhia recentemente abriu uma fábrica de empanados em Rolândia e está construindo uma nova planta de carnes italianas processadas em Missouri, nos Estados Unidos.

"A história da JBS é feita de aquisições e ainda preferimos esta estratégia. Temos feito greenfields porque o valor das empresas estavam em níveis que não agregariam valor para nós. Mas uma listagem nos Estados Unidos vai nos permitir fazer aquisições transformacionais, que acelerem muito o nosso crescimento", diz Tomazoni.

O processo de transferência das ações da JBS para o mercado americano está em curso desde julho do ano passado, mas tem demorado mais que o previsto. O plano inicial era ter feito a migração ainda em 2023, mas precisou ser alterado para incluir a possibilidade de os detentores dos ADRs (recibos americanos de ações listadas fora dos Estados Unidos) votassem na assembleia que definirá a mudança de bolsa. A listagem ainda carece de aprovação da SEC, a comissão americana de valores mobiliários.  

Leia também: As novas ambições da JBS: o plano da gigante de alimentos para valer mais na Bolsa

Listagem nos EUA

Na nova estrutura, a JBS deverá deixar de ter ações ordinárias listadas no Brasil para ter ações de classe A e B nos Estados Unidos. Ambas as classes garantem o mesmo direito financeiro sobre a empresa, mas direitos políticos diferentes. Enquanto as ações de classe A garantem 1 voto por ação, as de classe B garantem 10 votos. O objetivo é aumentar o direito de voto da família Batista. Assim, a JBS poderia levantar dinheiro por emissão de ações sem que o efeito de diluição ameaçasse o controle da empresa. A controladora J&F tem, hoje, 48,8% do direito de voto na JBS. A depender da relação de troca a ser estabelecida, essa proporção poderia subir para próximo de 80%.

"Teoricamente, não muda nada, porque a J&F já tem o controle definido. Vemos isso como uma vantagem, porque uma empresa com controle definido tem o comprometimento de longo prazo e um acionista de referência que entende do negócio", afirma Guilherme Cavalcanti, CFO da JBS.

A estrutura desejada pela JBS é comumente adotada por empresas de tecnologia listadas nos Estados Unidos, que demandam grandes investimentos.

Tomazoni pontua que o risco de diluição limita o tamanho de uma potencial aquisição, dado que, para manter o controle, parte do financiamento teria de ser feito por empréstimo, o que aumenta o nível de endividamento. "Quando tem a flexibilidade do equity, o tamanho da aquisição não tem limite. O limite é convencer os acionistas que há um bom projeto. Dá para pensar muito grande", afirma.

A JBS espera ainda que a listagem das ações nos Estados Unidos auxilie na reprecificação das ações, que, na avaliação dos executivos, está extremamente barata em relação aos pares. Isso se daria pelo aumento de fluxo, dado o tamanho do mercado americano. Em entrevista recente à Exame, Wesley Batista, um dos controladores da J&F, confidenciou que muitos fundos gostariam de investir na JBS, mas, por serem limitados ao mercado americano, não poderiam comprar a quantidade de ações desejadas da empresa. Também há a expectativa de que, por terem mais da metade da receita vindo dos Estados Unidos, a JBS consiga entrar em índices de referência de Nova York, como o S&P 500. Isso, por exemplo, levaria a entrada compulsória de fundos passivos para dentro da empresa, o que também tende a contribuir com o preço da ação. Dessa forma, a JBS poderia emitir mais ações a um preço maior, o que aumentaria seu poder de fogo para potenciais aquisições.

Oportunidades de aquisição

Wesley Batista Filho, CEO da JBS USA, avalia que nos próximos trimestres o mercado deverá observar uma discrepância no setor de carne bovina dos Estados Unidos. Isso porque, segundo ele, o ciclo do boi americano deverá piorar antes de chegar a um ponto de inflexão, que, pelo cenário-base da JBS, deverá ser em um ano e meio. Até lá, deverá haver queda de oferta de boi, o que aumenta o preço para o produtor e diminui a margem dos frigoríficos. Foi esse efeito que reduziu em 6,9 pontos percentuais a margem Ebtida das operações de carne bovina da JBS nos Estados Unidos para 1,7%. Mas por ter operações em diversas partes do mundo, onde o ciclo está em lado oposto, como no Brasil e Austrália, Wesley Batista Filho acredita que a JBS estará em uma posição relativa muito superior à de seus concorrentes. "O mercado irá reconhecer o poder de diversificação da JBS nos próximos trimestres", afirma à Exame.

Embora parte central dos planos da JBS envolva a listagem das ações nos Estados Unidos, o discurso é o de que não há urgência para fazê-lo, já que o prazo médio da dívida é longo, de 12 anos, e não há grandes pagamentos a serem feitos antes de 2027. Mas é prioridade fazê-la o quanto antes para que a empresa consiga aproveitar eventuais oportunidades de aquisição. A possibilidade de emitir dívida, segundo o CFO, não está na mesa. Pelo contrário, o objetivo é reduzir o endividamento, atualmente em 4,8x Ebtida, para entre 3x e 2x. A eventual compra, portanto, seria financiada via emissão de ações ou por uma relação de troca envolvendo a incorporação da empresa adquirida por uma fatia minoritária no negócio. Para isso se tornar viável, suas ações precisam estar nos Estados Unidos.    

"Quando fizemos o IPO em 2007 não sabíamos que a Swift estaria à venda logo em seguida. Foi uma circunstância, mas estávamos prontos. Era uma empresa maior do que a JBS. Aquela foi uma aquisição transformacional mesmo. Com a JBS listada nos Estados Unidos, esse tipo de negócio volta a ser uma possibilidade. Estamos atentos às oportunidades", afirma Wesley Batista Filho.

Ainda não há um alvo definido, mas a mira está voltada para empresas de proteína de valor agregado dos Estados Unidos, o que tende a aumentar a margem e reduzir a volatilidade inerente ao negócio de commodities. "Os negócios da JBS devem se tornar cada vez mais estáveis, além de terem uma margem maior devido aos alimentos processados. Esse é o caminho", pontua Tomazoni.

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