Exame Logo

"Não faz sentido correr risco com esse nível de juros", diz maior fundo de pensão do Nordeste

Kepler Dias, gerente de investimentos da Fachesf, diz ter zerado participação em ações e multimercados em alguns dos fundos da instituição

Kepler Dias, gerente de investimentos da Fachesf (Epinne/Divulgação)
Guilherme Guilherme

Repórter de Invest

Publicado em 28 de julho de 2024 às 10h34.

RECIFE (Pernambuco)* - Os resgates de fundos multimercados somam R$ 350 bilhões desde 2022, segundo dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais). A quantidade representa 21% de toda a classe de fundos. Parte dessa saída é reflexo da busca por maior segurança de um dos maiores alocadores da indústria, os fundos de pensão. Na Fachesf, maior fundo de pensão do Nordeste, com R$ 8,8 bilhões sob gestão, metade dos produtos da casa estão praticamente zerados em multimercados e em ações.

"Não há por que correr risco com o atual nível de juros", afirma Kepler Dias, gerente de investimentos da Fachesf, em entrevista à EXAME Invest. O fundo gerencia as aposentadorias dos funcionários da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco ( CHESF ), uma das subsidiárias da Eletrobras.

Veja também

Dias conta que a redução do risco foi feita especialmente nos fundos em que o benefício a ser pago na aposentadoria já é definido previamente. Para garanti-lo, a Fachesf precisa atingir uma meta atuarial de IPCA + 4% ao ano. Atualmente, os títulos do governo atrelados à inflação, as NTN-B, estão pagando pouco mais de IPCA + 6%, o que garante com folga a rentabilidade necessária. Somente de janeiro para cá, a saída da Fachesf em renda variável foi próxima de R$ 400 milhões.

Dada a alta rentabilidade dos títulos, nesses fundos de benefício definido, 70% dos recursos foram aplicados em NTN-B de prazos mais longos, garantindo o retorno futuro dos trabalhadores que ainda estão na ativa. Os 30% que necessitam de maior liquidez foram aplicados em títulos que rendem o CDI.

"O CDI hoje está em 10,5%, o que também me gera um retorno próximo de IPCA + 6%. Para adicionar risco na carteira, a inflação precisaria subir significativamente", explica Dias. Nesse caso, afirma, valeria a pena entrar em fundos de crédito privado, que podem garantir um retorno próximo de CDI + 2% com alguma segurança. Mas a possibilidade ainda não está no horizonte de curto prazo do fundo, dado que, pelo menos até 2026, o consenso do mercado aponta para um juro real acima de 5%.

Na Fachesf, assim como na maioria dos fundos de pensão, apenas a compra de títulos públicos é feita diretamente, enquanto os investimentos em crédito privado, ações e outros ativos são feitos por meio de fundos especializados. "O crédito privado hoje está muito atrativo, tanto que é a classe de ativo que mais tem captado. Inclusive, um dos nossos fundos, que é gerido pela JGP, foi fechado para captação." A entrada líquida em fundos de renda fixa foi de R$ 192,5 bilhões somente no primeiro semestre. O recorde para um ano inteiro foi registrado em 2022, com a entrada de R$ 240 bilhões em renda fixa.

Segurança x risco

A estratégia é diferente da empregada nos fundos em que o benefício dos contribuintes não é previamente definido. "Nesses, buscamos maior risco, porque a ideia é o aumento de capital." Nesses fundos, cerca de 10% é reservado para alocações em fundos de ações, 3% no exterior, e 6% entre multimercados e fundos de participações, que podem investir em empresas fechadas, por exemplo.

Na avaliação de Dias, há uma tendência de os fundos multimercados apresentarem bons desempenhos no curto e médio prazo, dada a expectativa de corte de juros nos Estados Unidos e no Brasil. No mercado americano, a aposta do mercado é de que o Federal Reserve dará início ao ciclo de queda a partir da reunião de setembro, enquanto espera-se que, até o fim do ano que vem, o BC brasileiro corte os juros, hoje em 10,5%, para 9,5%.

"Os fundos multimercados costumam ter uma boa performance em períodos de fechamento das curvas de juros.Acredito que esse é o momento ideal para entrar nesses fundos. Mas, dado o nível de juros, é difícil que os fundos de pensão façam esse movimento agora", diz Kepler Dias.

*O repórter viajou a convite do EPINNE – EPB 2024

Acompanhe tudo sobre:Fundos de pensãoFundos de investimentofundos-multimercadosJuros

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Invest

Mais na Exame