“Não existe crise no agro”: como BB vai lidar com baque em uma de suas principais linhas de crédito
Banco do Brasil teve alta da inadimplência e aumentou as provisões após deterioração do cenário para agronegócio
Repórter de Invest
Publicado em 14 de novembro de 2024 às 11h52.
Última atualização em 14 de novembro de 2024 às 11h52.
O Banco do Brasil é o banco do agronegócio, com um terço da carteira de R$ 1,2 trilhão voltada para o setor. Neste terceiro trimestre, a alta exposição do BB ao agro cobrou um preço nos resultados.
Apesar do lucro de R$ 9,5 bilhões ter ficado levemente acima das expectativas, a inadimplência e o nível de provisão para devedores duvidosos (PDD) surpreenderam para cima – incluindo revisão das projeções para o ano.
A inadimplência longa, acima de 90 dias, chegou a 3,3% em setembro, alta de 0,5 ponto percentual (p.p.) em um ano. O maior impacto veio do agronegócio, onde a inadimplência subiu de 0,71% para 1,97% na comparação anual.
As despesas com provisões para devedores duvidosos (PDD), por sua vez, atingiram R$ 10,086 bilhões – crescimento de 34,2% em 12 meses e de 29,2% frente ao último trimestre. E para 2024, as provisões podem aumentar ainda mais: o BB aumentou o guidance para PDD no ano, passando de um intervalo entre R$ 34 bilhões e R$ 31 bilhões para um de R$ 37 bilhões a R$ 34 bilhões.
Tarciana Medeiros, presidente do BB, reforçou que o setor é cíclico, e que a estatal tem trabalhado para reabilitar um perfil de crédito saudável para seus clientes. “ Não existe crise no agronegócio brasileiro.A inadimplência não é generalizada, e está especialmente na cultura de soja e no Centro-Oeste, em 210 clientes de uma região específica”, informou Medeiros em conferência com analistas nesta quinta-feira, 14, para comentar os resultados do banco.
A CEO condenou o estímulo aos pedidos de recuperação judicial (RJ) no agronegócio, que, segundo o BB, “esterilizam” o produtor rural. Diferente do que acontece na pessoa jurídica, onde é possível abrir outro CNPJ, o produtor continua atrelado à sua propriedade. “É um movimento de advocacia predatória. Temos feito um trabalho de conscientização do cliente em relação aos efeitos da RJ para o agronegócio”, diz.
O BB estima que a inadimplência do banco para o agro cairia de 1,97% em 1,7% sem as RJs. “É um trabalho que já tem dado efeitos. Não tivemos nenhum pedido de recuperação no último mês.”
O vice-presidente de riscos, Felipe Prince, reforçou que, sem as RJs, o BB não teria necessidade de revisar o guidance e traçou um cenário de recuperação para 2025. “[A inadimplência] vai voltar para patamares históricos. Não será perto de 2% como temos agora.”
O CRO destacou ainda que a carteira de agro do BB tem a pecuária como maior fatia – a soja vem em segundo lugar. A boa fase para a safra de milho também deve ser um ponto positivo para a carteira na visão de Prince. “A maior parte da pressão sobre a provisão já aconteceu. O desafio agora é estabilizar a inadimplência e trabalhar na recuperação.”
Em reação ao balanço, as ações do BB operam em queda de 2,97% por volta das 11h45 desta quinta-feira, 14.