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"Muitas vagas de emprego serão extintas na crise", diz maior gestor global

Na opinião de Larry Fink, fundador da gestora BlackRock, serão necessários grandes programas de emprego em infraestrutura

Larry Fink, fundador da gestora BlackRock: "Líderes precisarão cooperar para recriar demanda global" (Matthew Furman/Divulgação)

Marília Almeida

Publicado em 14 de maio de 2020 às 18h21.

Última atualização em 14 de maio de 2020 às 19h33.

Larry Fink, fundador da BlackRock, a maior gestora do mundo, tem trilhões de dólares sob gestão e vem propagando pelo mundo a importância da sustentabilidade nos investimentos. Em live transmitida nesta quinta-feira, 14, o gestor conversou com o presidente do Santander, Sérgio Rial, e expôs sua visão sobre a crise provocada pelo novo coronavírus .

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Para ele, muitos empregos que estão sendo eliminados na crise da covid-19 não devem retornar ao mercado. "Serão necessários grandes programas de emprego organizados pelos governos em áreas como infraestrutura." O gestor também disse que é necessário equilibrar compaixão e pragmatismo. "Mas como fazer isso é a maior questão de legisladores hoje."

Veja abaixo os principais pontos da entrevista:

Tendências pós-covid

"Os consumidores estão cada vez mais comprando na internet e realizando conversas por vídeo. Os que mais se adaptarem a esses tempos serão os grandes vencedores. Não vejo como um restaurante abrir. Sei que têm lucro de 15%. Nesse cenário, esses pequenos negócios não têm como ter 30% de ocupação. Mas talvez consigam se sustentar realizando entregas seguras por apps. A grande tendência do momento é a adaptação."

Empregos

"Na minha opinião, muitos empregos que estão sendo eliminados pelo covid não vão voltar. Aprendemos lições na Grande Depressão que talvez teremos de retomar. Vai haver uma grande necessidade de grandes programas de emprego, pelo menos nos Estados Unidos e em muitos países, na área de infraestrutura. A indústria da construção emprega um número enorme de trabalhadores e não vai ser eliminada pela tecnologia. Mas para isso os líderes terão de conversar e cooperar para recriar a demanda global. E a maior parte do capital para isso tem de vir do setor privado."

Doença

"Não sou cientista. Participo de conselhos médicos, recebo informações de acadêmicos e conversamos com vários CEOs de farmacêuticas. Falo da minha opinião e do que discutimos. A curva da doença demonstra altíssimo nível de infecção. Pessoas jovens vão contrair doença e será apenas um resfriado, mas haverá pessoas com sintomas graves, e pessoas com mais de 60 anos enfrentam um risco maior. Quem apresenta complicações tem maior taxa de mortalidade. Em boa parte dos casos as pessoas jovens e saudáveis contraem a doença e se sairão bem. A questão é entender quem foi acometido e quem não foi. Não prevejo vacina em breve. Um médico renomado acha que teremos até dezembro, e podemos ter um coquetel para reduzir mortalidade. Isso será ótimo."

Pragmatismo x compaixão

"A maior pergunta que todo CEO e legislador deveria abordar: será que teremos compaixão como sociedade ou seremos pragmáticos? Como equilibramos isso? Precisamos de uma resposta. Nossa experiência nos Estados Unidos é que uma alta porcentagem das pessoas teve a doença e nem soube. A taxa de mortalidade é de 0,5%, eu diria. Comparamos com a influenza e é um décimo de 1%, porque temos a vacina. Se vamos reabrir e retomar atividades, temos de esperar altas taxas da doença. Talvez seja bom ter parte da população desenvolvendo anticorpos. Terá uma alta taxa de mortalidade na abertura, mas 99% vai estar bem, teremos economia mais dinâmica. Mas como convivemos com isso quando sabemos que teremos alta taxa de letalidade? Talvez se testarmos mais pessoas saberemos como retomar a economia."

Problema social

"Nos Estados Unidos a taxa de mortalidade é maior entre os menos favorecidos. Isso leva a questões sociais que acontecem em toda a sociedade. Não podemos proteger 100% da população. Então precisaremos achar um equilíbrio entre compaixão e pragmatismo. Em todos os diálogos que tenho, as pessoas querem mais pragmatismo. Mas como fazemos com a questão do desequilíbrio social? Os mais impactados serão os com menos privilégios."

Setores mais afetados

"Em uma fábrica sabemos quantos funcionários entram e quando saem. Mas no setor de serviços, como restaurantes, turismo e em teatros, é um sistema aberto. Ai teremos problemas. Tanto que a China retomou a economia há quatro semanas, mas esses setores não foram retomados."

Estímulos

"Acreditamos que os bancos centrais e o Ministério da Fazenda americano, canadense e também europeu estão bem resolvidos. Estão tomando a mesma decisão de 2009. O Fed recebeu estímulo fiscal de 450 bilhões de dólares, e pode alavancar em até dez vezes. Os resultados de estímulos na Europa são fantásticos. Existem mercados sendo reabertos, existe liquidez no mercado. Podemos ver claramente no curto prazo que politicas governamentais conseguiram estabilizar a economia. Mas se a curva durar muito tempo, e tiver uma segunda onda de contágio, precisaremos de uma segunda onda de estimulos."

PMEs

"O problema mais grave são as pequenas empresas. Grandes organizações têm acesso a capital e atendem à necessidade de capital. Elas podem emitir ações e títulos de dívida. Mas as pequenas empresas não podem fazer isso. É ai que vejo a dificuldade."

ETFs

"Uma das grandes histórias de sucesso da crise é a dos ETFs. Os fundos têm mais conveniência, transparência e oferecem liquidez intradia. Agora nessa crise financeira a plataforma de ETF se tornou o principal indicador de preço do mercado. Temos preços desenvolvidos, melhorados, que dão mais liquidez especialmente em momentos de alta volatilidade. Essa semana um chanceler americano publicou documento indicando o ETF como força propulsora da liquidez do mercado desde o início de março. Acreditamos que vão representar 30% do mercado de títulos e equities do mundo. A maior parte das pessoas pensa que ETFs são usados apenas para indexação. Para nós o ETF serve para dar exposição do mercado que você deseja. Você compra indexação, mas navega comprando e vendendo essa exposição. Os investidores são ativos, querem agregar alfa."

Real desvalorizado

"O valor baixo do real deve atrair capital estrangeiro. Esse é um dos motivos da desvalorização da moeda. Eu acho que mais pessoas vão ver o Brasil como oportunidade no longo prazo."

Sustentabilidade

"Acho que após a pandemia muitas pessoas vão exigir que os líderes combatam o risco climático. Passamos por um risco existencial que muda a mentalidade das pessoas. Estamos em negação, mas sabemos que não estamos fazendo o suficiente em relação a isso. No mundo dos investimentos é cada vez mais patente isso. Acredito que o Brasil precisa focar mais em sustentabilidade, mas países ricos vão ter de ajudar, pois estão em estágio diferente."

Cooperação internacional

"O maior problema que vejo é a falta de cooperação internacional. Me perguntaram quando eu iria viajar. Mas não há conversa entre estados sobre um protocolo para viagens. Se não tiver cooperação entre departamentos, com protocolos internacionais, as viagens não vão acontecer, talvez só depois de um ano. Essas questões exigem cooperação, parceria. E ouvimos falar sobre guerra comercial, países dizendo que vão entregar vacina para outro país primeiro. Os líderes mundiais têm de dizer que todos estão envolvidos. Senão as coisas não acontecem. Então cabe aos líderes empresariais resolver a questão. Mas se há cooperação entre governos, como vamos fazer?"

Tecnologia

"Quem negligencia a tecnologia não resistirá no futuro. Claramente os grandes vitoriosos de todos os setores são os que se conectam com clientes e colaboradores usando mais tecnologia. E a implantação da tecnologia vai acelerar mais por causa da doença. Participei de uma chamada com vários CEOs das principais empresas financeiras, e um deles disse que não voltaria a ter reuniões presenciais. Conectividade, gestão de risco, tudo isso é importante."

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