Mercado avalia que mensagens de Moro não contaminaram pauta econômica
Investidores disseram que parlamentares parecem comprometidos em aprovar matérias de interesse da equipe econômica
Estadão Conteúdo
Publicado em 10 de junho de 2019 às 18h51.
Última atualização em 11 de junho de 2019 às 10h46.
São Paulo — O noticiário político, nesta segunda-feira (10), apesar de ser negativo para o governo, não foi capaz de desviar os juros futuros da trajetória de queda que vem sendo a tônica do mercado nas últimas semanas, tampouco o fato de as taxas terem fechado a sexta-feira (7) nas mínimas históricas.
O mercado relativizou o impacto do vazamento de supostas conversas entre o então juiz da Lava Jato , Sergio Moro , e procuradores do Ministério Público (MP) , sob a leitura de que isso não deve interferir na pauta de votações do Congresso , neste momento em que os parlamentares parecem comprometidos em aprovar matérias de interesse da equipe econômica.
O recuo foi mais firme nas taxas curtas, refletindo o aumento das apostas em corte da Selic nos próximos meses, em meio à desaceleração da inflação e atividade fraca. Nesse contexto, a curva já começa a mostrar precificação de queda da taxa básica para o encontro do Copom na próxima semana.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 fechou a sessão regular em 6,22%, de 6,270% no ajuste de sexta-feira e a do DI para janeiro de 2023, em 7,14%, de 7,181%. A taxa do DI para janeiro de 2025 passou de 7,761% para 7,74%.
Renan Sujii, estrategista de Mercados da Harrison Investimentos, afirma ter se surpreendido com a reação amena do mercado ao noticiário sobre o ministro da Justiça, pois tempos atrás "qualquer fumaça" trazia preocupação quanto a atrasos na tramitação da Previdência . "Mas o mercado parece estar começando a criar 'casca' quando saem estes ruídos e até agora não há sinais de contaminação (para a agenda de reformas)", disse.
"A pauta econômica está bem blindada. As primeiras mensagens não têm nenhuma 'bomba'. Parece ser um desgaste mais pessoal para Moro do que para o governo", avaliou o trader da Sicredi Asset Getúlio Ost.
O foco maior do mercado está nos eventos da semana. Nesta terça-feira (11), está prevista votação na Comissão Mista de Orçamento (CMO) do crédito extra de R$ 248,9 bilhões pedido pelo governo para garantir o cumprimento da regra de ouro. Também nesta terça governadores estarão em Brasília para debater a reforma da Previdência e insistir para que Estados e municípios sejam mantidos no text o do relator Samuel Moreira (PSDB-SP). Na quinta-feira (13), Moreira deve apresentar seu parecer.
Já a perspectiva de afrouxamento monetário em breve seguiu exercendo influência nos contratos de curto prazo, ainda que a segunda-feira não tenha trazido destaques na agenda de indicadores. O mercado vai fazendo seus ajustes com base no quadro de anemia da atividade, atestado por mais uma revisão em baixa da mediana para o PIB de 2019, de 1,13% para 1,00%, na pesquisa Focus.
A previsão para 2020 também caiu, de 2,50% para 2,23%. A mediana para a Selic no fim deste ano não mudou, ainda está em 6,50%, mas profissionais nas mesas afirmam que uma projeção mais baixa "é questão de tempo". Para 2020 e 2021, porém, o mercado reduziu a expectativa de alta para a taxa básica.
Para o ano que vem, a mediana recuou de 7,25% para 7,00% e para 2011, de 8,00% para 7,50%. Segundo a Quantitas Asset, a precificação da curva aponta 5% de chance de redução de 0,25 ponto porcentual na Selic no Copom dos dias 18 e 19 de junho, e 95% de probabilidade de manutenção do atual patamar de 6,50%.