Maior bilionário da Índia tem império ameaçado por acusações de fraude
Suspeitas de fraude e manipulação de preços derrubam ações de empresas de Gautam Adani e indiano cai em ranking de bilionários
Guilherme Guilherme
Publicado em 30 de janeiro de 2023 às 09h39.
Última atualização em 30 de janeiro de 2023 às 10h05.
Gautam Adani, o maior bilionário da Índia, tem visto sua fortuna diminuir após suas empresas sofrerem o cerco da Hindenburg Research. Entre as temidas de Wall Street, a casa de análise acusa a holding de um dos homens mais poderosos da Ásia de ter se envolvido em um "esquema descarado de manipulação de ações e fraude contábil ao longo de décadas".
Em relatório, aHindenburg recorda queas sete principais empresas do Grupo Adani disararam 819%, em média, nos últimos três anos. A valorização impulsionou a fortuna de Adani, que chegou a ser considerado, no ano passado, o segundo homem mais rico do mundo no ranking de bilionários da Bloomberg. Mas seu patrimônio, que chegou a ser estimado próximo de US$ 150 bilhões, já caiu para US$ 92,7 bilhões. Adami também desceu algumas posições no ranking, indo à 7ª colocação.
O ranking de bilionários, porém, deve ser um dos menores problemas para o Adami, diante das graves acusações daHindenburg Research.
Acusações contraGautamAdami
De acordo com as pesquisas da Hindenburg, foram encontradas 38 entidadas de fachadas nas Ilhas Maurício ligadas ao bilionário. Essas empresas, afirmou o relatório, "não possuem sinais óbvios de operações, incluindo nenhum funcionário relatado, nenhum endereço ou número de telefone independente e nenhuma presença online significativa".
Apesar de não terem nenhuma atividade aparente, a Hindenburg identificou que elas "movimentaram coletivamente bilhões de dólares em entidades indianas de capital aberto e privadas, muitas vezes sem a divulgação obrigatória da natureza das partes relacionadas dos negócios".
Essas empresas, segundo a casa de análise, "parecem servir a várias funções, incluindo, manipulação de ações e lavagem de dinheiro por meio de empresas privadas de Adani nos balanços das empresas listadas, a fim de manter a aparência de saúde financeira e solvência."
Sobraram até acusações para a família deGautam Adani, que suspostamente teriam relações promíscuas com as empresas do grupo. Segundo as investigações da Hindenburg, o irmaõ mais novo de Gautam, Rajesh Adani, que chegou a ser promovido a diretor do Grupo Adani, "foi acusado pela Direcção de Inteligência Fiscal (DRI) de desempenhar um papel central num esquema de importação/exportação de diamantes " em meados dos anos 2000.
" O suposto esquema envolvia o uso de entidades de fachada offshore para gerar volume de negócios artificial.Rajesh foi preso pelo menos duas vezes por acusações separadas de falsificação e fraude fiscal", disse a casa de análise.
Diversas páginas compõem o relatório aberto daHindenburgcom as acusçõescontra o bilionário indiano. Os analistas ainda pontuaram que mesmo que as "descobertas de nossa investigação" sejam ignoradas, os fundamentos indicam que as ações do Grupo Adani teriam 85% de potencial de queda devido aos valuations "altíssimos".
No histórico da Hindenburg estão graves acusações contra empresas ligadas ao metaverso e ao mercado de criptomoedas, chegando, inclusive, a estipular preço-alvo de US$ 0 para a ação -- o que seria o mesmo que dizer que uma empresa não vale nada. Esta porém, será sua maior batalha.
Casos semelhantes: de IRB à dLocal
Analistas focados em encontrar potenciais falcatruas no mercado financeiro (em vez de potenciais tesouros) são relativamente comuns no mercado americano. Um dos casos recentes envolveu as acusações contra a fintech uruguaia dLocal, listada na Nasdaq.
No ano passado, as ações da companhia chegaram a desabar 50%, após o relatório explosivo da Muddy Waters Research, que afirmou ter detectado uma série de "mentiras" nos balanços. Desde então, os papéis nunca mais voltaram para o patamar anterior.
No Brasil, ainda que raro esse tipo de recomendação (ainda mais com esse teor) um caso em específico entrou para história: a posição vendida da gestora Squadra. Em 2020, a gestora lançou uma carta aberta detalhando todas as potenciais fraudes encontradas na empresa. O estouro da crise se arrastou pelos anos seguintes. Desde então, as ações da resseguradora acumulam mais de 97% de alta.