Mercados

Investidores sobem apostas que Tombini não cumpre meta em 2012

Para eles, os aumentos graduais de juros não serão suficientes para frear a inflação

Tombini: há especulações de que o presidente do BC não conseguirá baixar o IPCA dos atuais 6,55% para o centro da meta de 4,5% em 2012 (Agência Brasil)

Tombini: há especulações de que o presidente do BC não conseguirá baixar o IPCA dos atuais 6,55% para o centro da meta de 4,5% em 2012 (Agência Brasil)

DR

Da Redação

Publicado em 27 de junho de 2011 às 11h21.

Brasília e Nova York - Investidores do mercado de renda fixa elevaram suas expectativas de inflação no ritmo mais rápido em cinco meses, após dados de desemprego indicarem que os aumentos graduais de juros não serão suficientes para frear a alta dos preços ao consumidor.

A taxa implícita de inflação -- medida pela diferença entre o rendimento dos títulos atrelados ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo e o dos papéis prefixados com vencimento em um ano e meio -- subiu 20 pontos-base desde 10 de junho para 581. Foi o maior salto desde janeiro para um período de duas semanas, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. Na África do Sul, a taxa implícita de inflação aumentou três pontos-base, ou 0,03 ponto percentual, no mesmo período para 6,09 por cento.

Investidores estão revertendo apostas no recuo da inflação com a expansão da economia, que gera empregos e eleva a renda do trabalhador. Na fábrica da Volkswagen no Paraná, os trabalhadores conseguiram um reajuste salarial de 10,3 por cento, segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de Curitiba.

A diferença de rendimentos entre as Notas do Tesouro Nacional série F, que são prefixadas, e das Notas do Tesouro Nacional série B, atreladas à inflação, está aumentando após atingir o menor nível em nove meses. Por trás do movimento, estão especulações de que o presidente do BC, Alexandre Tombini, não conseguirá baixar o IPCA dos atuais 6,55 por cento -- o maior patamar em seis anos -- para o centro da meta de 4,5 por cento no ano que vem.

“Existem riscos reais para que a inflação caia em 2012, para que isso se torne realidade”, disse André Perfeito, economista-chefe da Gradual Invesitmentos em São Paulo, em entrevista por telefone. “A principal questão é se a alta dos salários vai comprometer a meta de inflação em 2012.”

O rendimento das NTN-F com vencimento em janeiro de 2013 subiu quatro pontos-base nas últimas duas semanas para 12,62 por cento, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. A taxa das NTN-B com vencimento em maio de 2013 caiu 16 pontos-base no período para 6,81 por cento.

‘Suficientemente prolongado’

A queda dos preços das commodities e a promessa de Tombini de elevar o juro básico por um período “suficientemente prolongado” para trazer a inflação para o centro da meta de 4,5 por cento levou investidores do mercado de renda fixa a baixar suas estimativas para o IPCA nos últimos dois meses.


A taxa de desemprego recuou para 6,4 por cento em maio, o menor nível para o mês desde que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística começou a monitorar o indicador nas seis maiores áreas metropolitanas do País em 2002. O salário real médio subiu 4 por cento em relação a um ano antes e 1,1 por cento em relação a abril para R$ 1.567. A presidente Dilma Rousseff, 63 anos, sancionou uma lei este ano que vai aumentar o salário mínimo em mais de 13 por cento em 2012.

“Eu realmente não acho que o governo vai estar disposto a aceitar o tipo de desaceleração necessária para atingir a meta”, disse Vladimir Caramaschi, economista-chefe da unidade brasileira do Crédit Agricole, em entrevista por telefone.

‘Risco’

De acordo com a estimativa mediana numa pesquisa da Bloomberg com 19 analistas, a economia vai crescer 4 por cento este ano após a expansão de 7,5 por cento em 2010 que foi a maior em mais de duas décadas.

O Comitê de Política Monetária do BC afirmou na ata da reunião deste mês que, apesar de a perspectiva de inflação estar mais favorável do que em abril, o mercado de trabalho representa um “risco muito importante”. O Copom aumentou a Selic em 25 pontos-base este mês para 12,25 por cento, ampliando o ajuste total deste ano para 150 pontos-base.

Em comunicados enviados por e-mail, o BC e o Ministério da Fazenda se recusaram a fazer comentários para esta reportagem.

O aprofundamento da crise da dívida na Europa e o desaquecimento da economia americana podem ajudar o BC a baixar a inflação para a meta de 4,5 por cento no ano que vem, disse Claudia Calich, que ajuda a gerenciar US$ 1,9 bilhão em dívida de mercados emergentes, incluindo bônus brasileiros, na Invesco Advisers Inc.

“Se tivermos uma perspectiva menos benigna para a economia global, ironicamente acho que isso pode aumentar a chance de o Brasil atingir a meta porque a economia doméstica pode se desacelerar um pouco mais do que indicam os preços dos ativos”, disse Cláudia em entrevista por telefone de Nova York.

Perspectiva para a inflação

A inflação vai se desacelerar para 5,18 por cento em 2012, segundo a pesquisa semanal do BC com economistas, publicada em 20 de junho. No levantamento anterior, a previsão era de 5,13 por cento. Os economistas cortaram a projeção para a alta do IPCA em 2011 de 6,19 por cento para 6,18 por cento.

“Existe uma percepção de que a política a conta-gotas do Banco Central, de altas de 0,25 ponto percentual, não trará os resultados desejados,” disse Jankiel Santos, economista-chefe do Espírito Santo Investment Bank, em entrevista por telefone de São Paulo. “Todos esperam que a inflação vai desacelerar, mas não dá para apostar que a meta será cumprida.”

Acompanhe tudo sobre:AçõesAlexandre Tombiniaplicacoes-financeirasBanco CentralEconomistasInflaçãoJurosMercado financeiroPersonalidadesrenda-fixa

Mais de Mercados

Shein protocola pedido confidencial de IPO em Londres, segundo CNBC

Ibovespa recupera os 122 mil pontos de olho em índices econômicos e Magazine Luiza (MGLU3)

Smart Fit (SMFT3) confirma intenção de compra da academia Velocity

Ata do Copom, Boletim Focus e IPCA-15: o que move o mercado

Mais na Exame