Mercados

Ibovespa tem 2ª paralisação em três dias e entra em tendência de baixa

Principal índice da B3 acumula quase 30% de queda em menos de dois meses

Bear Market: termo é usado para se referir à condição na qual, em meio ao pessimismo generalizado, os preços caem mais de 20% em relação às máximas recentes (Adam Gault/Getty Images)

Bear Market: termo é usado para se referir à condição na qual, em meio ao pessimismo generalizado, os preços caem mais de 20% em relação às máximas recentes (Adam Gault/Getty Images)

GG

Guilherme Guilherme

Publicado em 11 de março de 2020 às 17h04.

Última atualização em 18 de março de 2020 às 13h38.

São Paulo - O Ibovespa, principal indicador da bolsa brasileira, fechou em queda de 7,64% aos 85.171,13 pontos nesta quarta-feira (11). O mercado financeiro teve mais um dia de pânico, após a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarar pandemia de coronavírus (Covid-2019).

No Brasil, o circuit breaker - mecanismo que interrompe as negociações por meia hora quando o Ibovespa atinge queda de 10% - foi acionado pela segunda vez em três dias. Na mínima, o índice chegou a cair 12,38%.

Com relação à máxima histórica do índice, de 119.593 pontos, atingida em 24 de janeiro deste ano, o Ibovespa acumula queda de 28,78% - o que, tecnicamente, já caracteriza uma tendência de queda, ou seja, "bear market". 

“O cenário mudou. Em 25 anos de mercado, nunca vi dar circuit breaker dia sim, dia não”, comentou Pablo Spyer, diretor de operações da Mirae Asset. 

O movimento de queda teve início logo nos primeiro negócios do dia, mas, se acentuou depois que a OMS declarou pandemia. Segundo Spyer, a notícia publicada pela Reuters de que os Estados Unidos vão manter em caráter sigiloso as reuniões sobre o coronavírus também ajudaram a aumentar a aversão a risco.

Os investidores também estão atentos com a possibilidade de a crise de coronavírus ter impacto direto nos bancos, tendo no radar a notícia de que o Deutsche Bank atrasou o pagamento de 1,25 bilhão de dólares em títulos. “Há uma preocupação com relação ao risco de crédito”, comentou Eduardo Guimarães, analista da casa de análise Levante. Os acionistas também repercutiram a notícia que uma base militar iraquiana Taji, que abriga soldados americanos, foi atacada por 10 foguetes nesta quarta-feira. 

De acordo com a agência Bloomberg, a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Legarde, disse nesta quarta que a Europa “verá um cenário que lembrará a muitos a Grande Crise Financeira de 2008”. Nesta quinta-feira (12), o BCE irá definir o futuro da política monetária da Zona do Euro.

No Ibovespa, as ações das companhias aéreas GOL e Azul despencaram mais de 14% com os temores de que o avanço do coronavírus diminua o fluxo de viagens. As ações da agência de turismo CVC também tiveram fortes perdas, recuando 13,33%. 

Mas, foram os papéis papéis da Petrobras que, com grande peso no Ibovespa, empurraram o índice para baixo. Pressionadas pelo conflito entre Arábia Saudita e Rússia em torno da produção de petróleo, as ações ordinárias da Petrobras caíram 12,53% e as preferenciais, 10,59%.

"As pessoas vendem porque o preço está caindo, não baseado em fundamentos", explica Adriano Cantreva, sócio da Portofino Investimentos. É quase um círculo vicioso: "quanto mais cai, mais aparecem vendedores". Apesar da forte queda do preço das ações, a recomendação de muitos especialistas tem sido a de manter a calma e não sair vendendo os ativos a qualquer preço.

“O mercado está em pânico. É uma semana turbulenta na história. A minha recomendação é manter a calma para não ir no efeito manada. A orientação é não se fazer desfazer de posições.  Se tem gente vendendo é porque tem gente que está aproveitando e comprando”, explica Bruno Madruga , responsável pela área de renda variável da Monte Bravo.  

“Agora, é para comprar e não para vender ações. Realizar prejuízo neste momento para preservar capital é um erro. O brasileiro ainda é muito acostumado com renda fixa e tem pouca experiência em ações”, afirma Julio Erse, diretor de gestão da Constância Investimentos. Para o executivo, os mercados só irão se acalmar depois que os governos passarem a anunciar medidas de estímulo efetivas. 

Mercado doméstico

O quadro externo é o principal fator da volatilidade, mas o mercado doméstico também ajuda. "Ainda não tem nada de concreto relacionado às reformas, o que adiciona grau de incerteza ao caos que estamos vivendo", comenta Ilan Arbertman, analista da Ativa Investimentos.

Na segunda-feira, 9, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que a reforma administrativa será enviada ao Congresso “assim que possível”.

 

Acompanhe tudo sobre:bolsas-de-valoresCoronavírusIbovespa

Mais de Mercados

Dólar fecha em queda de 0,84% a R$ 6,0721 com atuação do BC e pacote fiscal

Entenda como funcionam os leilões do Banco Central no mercado de câmbio

Novo Nordisk cai 20% após resultado decepcionante em teste de medicamento contra obesidade

Após vender US$ 3 bilhões, segundo leilão do Banco Central é cancelado