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Risco fiscal: Ibovespa desaba 2,75%, ao menor nível desde novembro de 2020

Custo do Auxílio Brasil pressiona cenário fiscal e aumenta aversão ao risco no país

Painel de cotações da B3 | Foto: Germano Lüders/Exame (Germano Lüders/Exame)

Painel de cotações da B3 | Foto: Germano Lüders/Exame (Germano Lüders/Exame)

GG

Guilherme Guilherme

Publicado em 21 de outubro de 2021 às 10h17.

Última atualização em 21 de outubro de 2021 às 18h27.

O Ibovespa afundou quase 3% nesta quinta-feira, 21, após o governo afirmar que pretende reformular o teto de gastos para viabilizar o aumento dos gastos com programas sociais. 

O principal índice da B3 fechou o pregão em queda de 2,75%, aos 107.735 pontos – ficando abaixo dos 108.000 pontos pela primeira vez no ano. Este é o menor patamar de fechamento para o Ibovespa desde novembro de 2020. Já o dólar avançou 1,92%, a 5,668 reais, atingindo sua maior cotação em seis meses. 

O mercado reagiu à possibilidade do governo driblar o teto de gastos para implementar o Auxílio Brasil, programa social que deve substituir o Bolsa Família. Para costurar o gasto extra do programa que estouraria o teto em 30 bilhões de reais , o novo parecer da PEC dos precatórios, apresentado nesta quinta-feira, traz uma revisão da lei do teto que abre espaço fiscal para o novo programa social do governo.

Segundo a Bloomberg, a proposta altera o período do índice de inflação que corrige o teto de gastos e abre espaço de 40 bilhões no Orçamento além de outros 40 bilhões relativos aos precatórios propriamente ditos. 

A reedição da regra levou o Ibovespa a uma queda de mais de 4% na mínima do dia, com o índice chegando a operar na casa dos 105.000 pontos. Na semana, as perdas para o Ibovespa já somam 6%.

Vale lembrar que os temores em relação ao teto já rondavam o mercado desde cedo. Isso porque, na noite de ontem, o ministro da Economia, Paulo Guedes, já havia afirmado que o governo estudava conceder waiver (perdão) para os bilhões do Auxílio Brasil que ficariam fora da regra fiscal.

Para somar às preocupações, uma fala de Bolsonaro no início da tarde de hoje também incentivou o viés negativo do mercado. Em evento, o presidente afirmou que em torno de 750 mil caminhoneiros receberão ajuda do governo para compensar o aumento do diesel. Segundo o jornal O Globo, o auxílio será de 400 reais mensais até dezembro de 2022, gerando um custo de 4 bilhões de reais.

Com o País mais endividado, as preocupações sobre a sustentabilidade fiscal ficaram mais fortes. "Para emprestar dinheiro para o governo, o mercado olha muito a relação dívida/PIB. Quando coloca mais benefícios sociais sem a contrapartida de redução de despesas, que viria por meio da reforma administrativa ou outras reformas, essa relação cresce. É igual ao mercado privado. Se alguém tem mais dívida, paga mais juros, já que é mais arriscado", explica Leo Paiva, economista do BTG Pactual digital, em morning call desta manhã.

O mercado internacional tampouco contribui para aliviar a tensão da bolsa brasileira. No exterior, os principais índices de ações fecharam mistos, com o setor imobiliário chinês de volta aos holofotes, após a Evergrande tentar levantar dinheiro com a venda de ativos e adiar o pagamento de dívidas, que somam 300 bilhões de dólares. 

Outro motivo de cautela são os altos níveis de preços das ações americanas. Na véspera, o Dow Jones voltou a renovar sua máxima histórica, embalado por resultados corporativos, depois de 2 meses sem atingir a marca. Nesta quinta, o índice caiu 0,02%. Já o S&P 500 e o Nasdaq encerraram em altas de 0,3% e 0,62%, respectivamente.

Destaques da bolsa

Entre as ações, os papéis da Vale (VALE3) que possuem a maior participação entre os ativos do Ibovespa foram os principais responsáveis pela queda do índice. 

Nesta quinta-feira, a mineradora caiu 1,64%, acompanhando a desvalorização do minério de ferro na China, com preocupações sobre o nível de produção de aço no país. A queda da commodity também pressionou as siderúrgicas brasileiras, com CSN (CSNA3) e Usiminas (USIM5) encerrando o pregão em respectivas quedas de 1,84% e 5,51%.

Ainda entre as ações com maior participação no índice, os papéis da Petrobras (PETR3/PETR4) caíram 3,1% e 3,38%, respectivamente em um dia de queda de 1% do petróleo no mercado internacional.

A maior queda do dia ficou com as units da Getnet (GETT11), que estreou essa semana e, até ontem, acumulava alta superior a 100%. A empresa de maquininha de cartões do Santander (SANB11) chegou a registrar alta de 4% no início do pregão, mas sucumbiu ao cenário adverso e fechou em queda de 19,67%.

Maiores altas

Maiores quedas

SuzanoSUZB3

1,65%

GetnetGETT11

-19,06%

BB SeguridadeBBSE3

0,80%

AmericanasAMER3

-10,76%

KlabinKLBN11

0,00%

Banco InterBIDI11

-10,70%

Outros papéis que devolveram os ganhos da véspera foram os do Banco Inter (BIDI11/BIDI4), que ficaram entre as maiores perdas do dia, caindo mais de 10%. 

As ações das varejistas também sofreram, reagindo negativamente ao cenário local. Americanas (AMER3) e Lojas Americanas (LAME4) caíram 10,76% e 10%, respectivamente.

Na ponta positiva, Suzano (SUZB3) subiu 1,65% e Klabin (KLBN11) fechou o dia na estabilidade, com os papéis das exportadoras de celulose se beneficiando da alta do dólar. Além delas, apenas BB Seguridade conseguiu encerrar o dia em alta, com seus papéis subindo 0,8%.

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