Ibovespa descola de NY e cai na véspera de feriado mas sobe na semana
Investidores repercutem dados abaixo do esperado em indicadores industriais do Brasil; nos EUA, S&P 500 supera pela primeira vez o patamar dos 4.000 pontos
Beatriz Quesada
Publicado em 1 de abril de 2021 às 09h14.
Última atualização em 1 de abril de 2021 às 17h31.
Quadro geral do dia:
- Ibovespa recuou 1,18%, em 115.253 pontos
- Dólar comercial avançou 1,54% e fechou em 5,71 reais
- EUA: Dow Jones sobe 0,52%, S&P 500 tem alta de 1,18% e Nasdaq avança 1,76%
Após a divulgação de indicadores industriais fracos no Brasil, o Ibovespa virou para queda nesta quinta-feira, 11, véspera do feriado de Sexta-Feira Santa nos mercados.O índice encerrou o pregão na contramão das bolsas americanas, que subiram após anúncio do plano de investimento de 2,25 trilhões de dólares em infraestrutura do presidente americano Joe Biden. Com a alta, o S&P 500 superou hoje pela primeira vez na história o patamar dos 4.000 pontos. Na semana, o índice brasileiro, contudo, conseguiu fechar em alta de 0,41%.
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Além do pacote de estímulos, investidores no exterior também reagiram positivamente à divulgação de indicadores industriais nos Estados Unidos e na Europa que podem confirmar as expectativas de recuperação econômica.
No Brasil, o cenário é o oposto e os indicadores econômicos recuam além do esperado. O indicador de produção industrial divulgado pelo IBGE nesta quinta-feira recuou 0,7% em fevereiro em relação ao mês anterior, interrompendo uma sequência de nove altas. O resultado veio abaixo das expectativas de aumento de 0,4% que eram consenso no mercado.
"É bem verdade que as altas anteriores era seguidamente menores, logo era esperado que [o indicador] voltasse a cair. Mas a queda de hoje veio mais forte que o estimado pelos economistas", apontam em nota os analistas da Necton.
Já o PMI da indústria brasileira também desacelerou de 58,4 pontos em fevereiro para 52,8 pontos em março - menor nível em nove meses.
Segundo a equipe de análise do BTG Pactual digital, a piora nos indicadores e nas expectativas é causada pelo "recrudescimento da curva de contágio da COVID-19, que tem levado diversos estados a impor novas medidas de isolamento social e, por consequência, a interrupção temporária em algumas fábricas".
O Brasil registrou recorde diário de 3.869 mortes por Covid-19 e 90.638 novos casos confirmados nesta quarta-feira, 31, segundo dados do Ministério da Saúde. É o segundo recorde seguido que o país bate em número de mortes. Na terça-feira, 30, foram contabilizados 3.780 óbitos.
"A leitura atual reafirma nossa expectativa de um primeiro trimestre mais fraco para atividade econômica doméstica, com especial destaque para o mês de março. A expectativa é que a retomada comece apenas a partir de maio (com boa parte de abril comprometido pela quarentena)", destacam em nota os analistas da Exame Invest Pro .
Além disso, dificuldades para uma solução no Orçamento aumentaram as preocupações do mercado. O dólar, que chegou a cair nos primeiros minutos desta sessão, virou para alta e fechou com ganhos de mais de 1%. Na semana, contudo, terminou com leve baixa de 0,4%.
O mercado avalia com receio as divergências entre a equipe do ministro da Economia Paulo Guedes e o presidente da Câmara, Arthur Lira. Guedes recomenda veto parcial ao projeto do Orçamento, mas enfrenta obstáculo de Lira, que não quer o veto e não vê motivos para a abertura de um processo de impeachment contra o presidente, segundo o jornal o Estado de S. Paulo.
Destaques de ações
Com a piora do mercado doméstico, só 20 das 82 ações do Ibovespa fecharam em alta hoje. A petroquímica Klabin (KLBN11) liderou os ganhos, com valorização de 2,19%, benefiada pela alta do dólar, seguida dos papéis do Asaí (ASAI3) e Cosan (CSAN3), que subiram 1,65% e 1,56%, respectivamente.
Do outro lado, Qualicorp (QUAL3) puxou as perdas, com queda de 4,42%, ainda refletindo o balanço do 4º trimestre, divulgado na terça-feira à noite, considerado fraco pelo mercado. O BTG cortou ontem o preço-alvo das ações de 36,00 reais para 33,00 reais, mas manteve recomendação neutra. Na semana, os papéis QUAL3 também aparecem como a maior baixa do índice, acumulando até o momento desvalorização de 6,7%.
No dia, completaram a lista as maiores quedas os papéis PNs do Bradesco (BBDC4) e Cogna (COGN3), com as baixas seguintes baixas de 3,66% e 3,52%.
De olho no exterior
Os índices americanos subiram, impulsionados pelo plano de Biden, um pacote de infraestrutura de mais de 2 trilhões de dólares que prevê investimentos por 8 anos, custeados por uma reforma tributária que deve aumentar impostos para empresas.
O objetivo do plano é criar milhões de empregos no curto prazo e incentivar a recuperação da economia americana, que recuou 3,5% no ano passado.
Nos Estados Unidos, investidores também digerem os dados de pedidos semanais de seguro-desemprego, que vieram acima do esperado. Foram 719 mil pedidos, contra 675 mil esperados pelo consenso de mercado medido pela Bloomberg. O resultado também ficou acima do número reportado na última semana, revisado de 684 mil pedidos para 658 mil.
Apesar de negativo, o dado deve retirar a pressão sobre o rendimento dos títulos do tesouro americano de 10 anos, usado como termômetro para medir as expectativas de inflação do país.
Isso porque a fraca recuperação do mercado de trabalho americano vai de encontro à última sinalização do Federal Reserve ( Fed, banco central americano), que prometeu não aumentar as taxas de juros nos próximos dois anos enquanto a economia e as taxas de emprego não estivessem recuperadas nos Estados Unidos.
A retomada da economia americana, impulsionada por estímulos e vacinas, preocupa os investidores, que temem uma alta súbita na taxa de juros para conter a inflação.
O mercado europeu também está atento à divulgação recorde do PMI na região, que avançou 57,9 em fevereiro para 62,5 em março -- lembrando que números acima de 50 pontos sinalizam expansão da atividade. O resultado influencia a alta das bolsas europeias.
No mercado de commodities, o petróleo disparou mais de 3% após a Opep+ decidir elevar a produção de petróleo gradualmente de maio a julho. A partir de maio, serão adicionados à produção mais 350 mil barris de petróleo por dia, com outros 350 mil barris em junho. Em julho, a produção aumentará em 450 mil barris por dia.