Ibovespa fecha abaixo dos 100 mil pontos pela 1ª vez em mais de um mês
Risco político volta a ganhar força, com rumores sobre saída de Paulo Guedes do governo
Guilherme Guilherme
Publicado em 17 de agosto de 2020 às 17h00.
Última atualização em 17 de agosto de 2020 às 17h37.
A bolsa brasileira fechou em queda nesta segunda-feira, 17, com a repercussão de uma possível saída do ministro da Economia Paulo Guedes. Para aumentar os temores sobre a saída de Guedes, o subsecretário de Política Macroeconômica, Vladimir Kuhl Teles, entrou, hoje, na fila dos que deixaram sua equipe. O Ibovespa, principal índice da B3, caiu 1,73% e encerrou em 99.595,41 pontos. Esta foi a primeira vez que o Ibovespa fechou abaixo dos 100.000 pontos desde 13 de julho.
No fim de semana, os rumores de que Guedes deixará o governo ganharam força, com o presidente Jair Bolsonaro sinalizando ser contrário ao cumprimento do teto de gastos. "Houve a saída de cargos importantes do ministério da Economia e isso enfraquece a agenda liberal do Paulo Guedes. O mercado aguarda apreensivo como vai ser essa questão do teto de gastos, que é uma pauta que o Guedes sempre defendeu. Então começa a se ventilar até sua saída. O risco político está voltando a ganhar força. Há muitas incertezas", afirma Gustavo Bertotti.
Para Bertotti, as discussões sobre o teto de gastos devem ganhar ainda mais relevância no mercado nesta semana, tendo em vista a agenda econômica esvaziada nas principais economias do mundo.
No exterior, as bolsas sobem na esteira do mercado chinês, que teve iniciou a semana em alta, após o governo local injetar mais estímulos na economia. “Esse noticiário se sobrepõe às tensões geopolíticas entre Washington e Pequim e às preocupações globais sobre os impactos econômicos do coronavírus”, avalia a equipe de analistas da Exame Research. Nos EUA, o índice S&P 500 avançou 0,30% e o Nasdaq, 1%. O índice pan-europeu Stoxx 600 fechou em alta de 0,41%, enquanto a bolsa de Xangai subiu 1,88%.
Apesar do clima positivo nos mercados internacionais Marcel Zambello, analista da Necton Investimentos vê fatores de risco no médio prazo, como a indefinição do pacote emergencial nos EUA e as eleições americanas, em que o democrata Joe Biden aparece como vencedor nas pesquisas de opinião. "Não que o Biden seja muito negativo, mas deve estressar o mercado se for eleito."
Destaques
Na bolsa, 30 das 75 ações do Ibovespa fecharam em queda superior a 3%. Entre elas, as da Eletrobras desabaram mais 6,66%, evidenciando o aumento das incertezas no mercado sobre o andamento da agenda liberal do governo, que considerava a privatização da companhia. Somente as ações da Hering caíram mais, 8,34%.
Na ponta positiva, lideraram os papéis dos frigoríficos, que ainda sentem os efeitos dos balanços fortes divulgados no fim da semana passada. Marfrig avançou 5,37% e JBS, 2,5%. As ações da Vale subiram 1,4%, tendo como pano de fundo a alta do minério de ferram, e impediram quedas ainda mais fortes do Ibovespa