Há uma crise de confiança no Brasil, diz Moody's
O sentimento dos empresários está no nível mais baixo desde 2009
Da Redação
Publicado em 30 de setembro de 2014 às 14h54.
São Paulo - O vice-presidente da Moody's , Mauro Leos, disse nesta terça-feira, 30, durante a 16ª Conferência Anual da agência de classificação de risco, que existe, atualmente, uma crise de confiança no Brasil, já que o sentimento dos empresários está no nível mais baixo desde 2009, durante a crise financeira mundial.
Isso é prejudicial para a economia porque afeta diretamente o nível de investimentos, que vem caindo junto com a confiança.
Entre os pontos baixos da economia brasileira que justificam a perspectiva negativa da nota soberana, Leos disse que talvez o elo mais fraco seja a política fiscal.
Ele explicou que a relação dívida bruta/PIB do País sempre foi elevada, mais alta do que os vizinhos da América Latina e de outros emergentes, incluindo com rating mais baixo do que o brasileiro.
A relação entre encargo de juros/receita também é alta, perto de 15%. "Isso sempre foi assim, mas agora existe um fator novo", comentou, referindo-se à queda do superávit primário e ao crescimento do déficit em conta corrente nos últimos quatro anos.
Leos apontou que a relação dívida bruta/PIB está subindo e deve ficar em 60,1% este ano, segundo as projeções da Moody's, atingindo patamares semelhantes aos de 2009 e 2003, após o nervosismo do mercado com a eleição de Lula, em 2002.
"Há uma clara deterioração da dívida pública", comentou. O déficit nominal deve atingir 4,5% do PIB este ano. O analista explicou que o crescimento médio do PIB brasileiro deve atingir 1,7% ao ano no mandato de Dilma Rousseff, bem abaixo da média de 4,6% no segundo mandato de Lula.
Crescimento e inflação
Leos considerou que o ano de 2015 não será tão diferente de 2014 em termos de crescimento e inflação no Brasil, independentemente de quem vencer as eleições presidenciais.
No médio prazo, as perspectivas para a economia brasileira dependem das condições iniciais do próximo governo, que são negativas, haja vista o atual cenário; a percepção do mercado em relação à nova administração; e as políticas econômicas adotadas pelo recém-empossado presidente.
Segundo Leos, destes três fatores talvez o mais importante sejam as políticas econômicas, já que elas poderiam superar as condições inicias negativas e convencer o mercado. "As políticas são muito importantes em determinar a direção da economia e do rating", afirmou.
Ele comentou que, após rebaixar a perspectiva do rating brasileiro este mês, a Moody's deve tomar uma decisão sobre a nota em si em um período de 12 a 18 meses, mas que o mais provável é que isso aconteça no primeiro trimestre de 2016.
"Nós temos de ver quem vai ganhar a eleição e como de fato será o governo, então devemos esperar cerca de um ano", explicou.
Mas lembrou que "se algo muito ruim acontecer" para a economia do Brasil, pode ocorrer uma revisão do rating do País antes do primeiro trimestre de 2016. "Pode ser suficiente esperar 12 meses para reavaliar perspectiva", destacou. "se dados econômicos e fiscais estiverem em nível definido, podemos reavaliar."
Na avaliação de Leos, caso haja uma reversão da tendência negativa registrada pelo PIB, que cresce abaixo do potencial de 3% há 3 anos, e também do déficit nominal e da dívida bruta, a perspectiva do Brasil pode subir para a posição "neutra" em 12 meses. "Isso é um cenário possível".
O analista disse que não importa tanto quais serão as medidas adotadas pelo novo governo para reverter as tendências negativas de crescimento, confiança dos empresários e no âmbito fiscal, desde que elas deem resultado. "As políticas têm de ser eficientes em reverter essas tendências, é nisso que estamos de olho".
De acordo com Leos, até o final de 2015 os executivos da Moody's poderão ter realizado pelo menos 2 encontros com autoridades do próximo governo. "O primeiro deles deve ocorrer em abril, na Coreia do Sul, durante a reunião do BID", destacou.
Fator Marina
Leos disse que, no caso de vitória de Marina Silva (PSB), existe um risco de decepção dos mercados, já que as expectativas com seu possível governo são elevadas.
"As pessoas pensam que as coisas vão mudar, mas em um país complicado como o Brasil, nem sempre as coisas acontecem assim", disse. Ele explicou que é preciso avaliar como seria a relação do governo com o setor privado e também com o Congresso.
"Nós vamos acompanhar os anúncios e analisar a eficácia das medidas". No caso de Dilma Rousseff (PT) se reeleger, pode ocorrer o oposto, com expectativas muito negativas e alguma surpresa com possíveis mudanças. "O ano de 2014 não foi bom, mas há esperança de que as coisas melhorem adiante".