Economia

Guinada populista? Para Eurasia, risco é menor do que o de Guedes sair

Para Christopher Garman, diretor da consultoria de risco político, recuperação da popularidade do presidente lhe oferece margem para evitar ruptura

Jair Bolsonaro e Paulo Guedes (Ueslei Marcelino/Reuters)

Jair Bolsonaro e Paulo Guedes (Ueslei Marcelino/Reuters)

MS

Marcelo Sakate

Publicado em 2 de outubro de 2020 às 06h00.

As recentes sinalizações e declarações do presidente Jair Bolsonaro de relativizar a importância do Teto de Gastos e do reequilíbrio fiscal não devem desembocar em uma agenda populista que signifique uma ruptura da política fiscal vigente desde 2016. A avaliação é de Christopher Garman, diretor gerente para as Américas da Eurasia, uma das principais consultorias de análise de risco político do mundo.

Garman sustenta uma visão que vai na contramão do que muito analistas apontam: ele afirma que a recente recuperação da popularidade de Bolsonaro com base no pagamento do auxílio emergencial a dezenas de milhões de brasileiros não vai fazê-lo ampliar essa aposta e pisar no acelerador dos gastos públicos, o que seria uma guinada populista.

"O presidente vai buscar equilibrar a política fiscal de um lado e as demandas sociais de outro porque agora dispõe de capital político", afirmou o analista na quinta-feira, 1º, em evento promovido pela gestora Brasil Capital com investidores estrangeiros.

Além disso, Garman diz que líderes partidários tanto do Senado como da Câmara com quem mantém contato regular estão mais atentos à conexão entre a má gestão da política fiscal e a perda de confiança na economia do que há cinco anos (ou seja, no momento da última recessão), algo que pode ser visto como uma lição de crises passadas.

"O presidente Bolsonaro também teme esse cenário de má gestão da política fiscal e de saída do ministro (Paulo Guedes), em que uma nova recessão não permitiria criar as condições para a recuperação econômica", afirmou o analista.

Nos cálculos da Eurasia, no cenário mais provável (50% de probabilidade), a política fiscal balança, mas não chega a sofrer uma ruptura. Há 40% de chance de manutenção do Teto dos Gastos, e apenas 10% de risco de uma guinada populista tanto do governo como do Congresso que se traduziria em aumento descontrolado de gastos.

A consultoria avalia que seria até menos improvável, em termos de probabilidade, que Guedes saia do governo (30% de chances). Mas é um cenário que não deve se concretizar: a tese é, mais uma vez, que a melhora na popularidade do presidente lhe oferece um respiro para manter o seu homem de confiança na economia, a despeito da pressão de parte do mundo político -- inclusive dentro do governo -- pelo aumento dos gastos.

Garman afirma que, a despeito da pandemia e do reiterado discurso anti-establishment de Bolsonaro, o Congresso continua com uma disposição reformista que acaba sendo favorável para o mercado.

No cenário base da Eurasia, ou seja, aquele com maior chance de se concretizar, há 70% de chances de aprovação pelo Congresso, ainda neste ano, de medidas como gatilhos para limitar despesas obrigatórias, algo que aliviaria a pressão sobre o Teto de Gastos. Já as reformas tributária e administrativa só devem ser aprovadas no segundo semestre de 2021, além de medidas da agenda microeconômica e algumas privatizações.

"Bolsonaro e líderes partidários não querem virar as costas para demandas econômicas e sociais da população", diz Garman, pontuando que a crise provocada pela pandemia ainda não está superada e que, portanto, isso ajuda a explicar a defesa da manutenção de gastos emergenciais. Mas, ainda assim, ele diz que a preocupação com a política fiscal volta a crescer entre parlamentares.

Para o analista político, as declarações do presidente causam um temor sobre os rumos da política econômica que é maior do que os riscos verdadeiramente presentes em suas ações concretas.

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