Fundo soberano da Noruega registra maior prejuízo da história após renunciar ao petróleo
Em 2019 a diretoria do fundo soberano da Noruega tomou a decisão de abandonar parcialmente os investimentos em petróleo
Carlo Cauti
Publicado em 17 de agosto de 2022 às 11h54.
Última atualização em 18 de agosto de 2022 às 13h25.
O fundo soberano da Noruega registrou o maior prejuízo da história no primeiro semestre de 2022.
O maior fundo soberano do mundo registrou um prejuízo de US$ 174 bilhões, cerca de 14,4% de seu valor total de US$ 1,2 trilhão.
O resultado negativo chega dois anos depois da renúncia aos investimentos no setor petrolífero por parte do fundo soberano.
O prejuízo de seis meses anulou quase totalmente os ganhos de todo o ano de 2021, que haviam sido de 14,5%, à medida que os mercados disparavam após a reabertura das economias em todo o mundo.
Todos os setores investidos pelo fundo, menos o de energia, registraram resultados negativos nesse semestre.
Os investimentos em empresas de energia tiveram retornos de 13%, graças ao forte aumento dos preços do petróleo, gás e produtos refinados.
O fundo soberano da Noruega detém o equivalente a cerca de 1,5% de todas as empresas listadas no mundo.
O fundo foi criado em 1996 para investir os recursos da indústria de petróleo e gás da Noruega e controlado pelo banco central do país europeu.
É um fundo quase-índice, com seu mandato de investimento definido pelo Ministério das Finanças, enquanto mudanças na forma como o fundo investe que devem ser aprovadas pelo parlamento de Oslo.
No total, 68,5% do fundo estava aplicado em ações no final de junho, sendo 28,3% em renda fixa, 3,0% em imóveis não listados e 0,1% em infraestrutura de energia não renovável.
No semestre, o retorno dos investimentos em ações do fundo foi de -17,0%, o dos investimentos em renda fixa -9,3%, enquanto os investimentos em imóveis não listados retornaram 7,1%.
O rendimento das infraestruturas de energias renováveis não cotadas foi de -13,3%.
CEO do fundo soberano da Noruega culpa o mercado pelo prejuízo
Segundo Nicolai Tangen,CEO do Norges Bank Investment Management, que administra o fundo, o resultado negativo foi provocado pelas "taxas de juro crescentes, inflação alta e guerra na Europa".
"As ações de tecnologia se saíram particularmente mal com um retorno de menos 28%", explicou. Por isso, o fundo teria registrado esse prejuízo.
De fato em 2022 as ações da Big Tech registraram fortes baixas, com o mercado de ações dos Estados Unidos que registrou o pior semestre desde 1970.
O Dow Jones perdeu mais de 15% nos primeiros seis meses do ano, o S&P 500 caiu mais de 20% e o Nasdaq teve uma queda de quase 30%.
A Meta, controladora do Facebook, foi a ação que mais contribuiu para as perdas do fundo soberano da Noruega no primeiro semestre, com a ação que perdeu quase 50% de seu valor desde o começo do ano.
A única que manteve uma certa estabilidade foi a Apple (APPL34), mas a fabricante de iPhone também está se preparando para tempos difíceis, e já anunciou que vai diminuir as contratações e os gastos no próximo ano.
O adeus (parcial) ao petróleo
Em 2019, depois de décadas acumulando recursos graças a exploração petrolífera de campos no Mar do Norte, a diretoria do fundo soberano da Noruega tomou a decisão de abandonar parcialmente os investimentos em petróleo.
O fundo decidiu cortar imediatamente os investimentos em empresas dedicadas exclusivamente à exploração e produção de hidrocarbonetos, poupando assim os recursos destinados a gigantes como Exxonmobil, Total ou British Petroleum, que diversificam as suas atividades apostando também em energias renováveis e no hidrogênio.
Somente em seguida o fundo teria desinvestido totalmente do setor, vendendo sua participação também nessas empresas.
Todavia, com a atual cotação do petróleo nas alturas, é impensável para o fundo soberano da Noruega abrir mão desses investimentos, que de fato são os que ajudaram a reduzir os prejuízos.