Fed, recessão e IA: os caminhos para o mercado americano na visão da Avenue
William Castro Alves, sócio da corretora, avalia que o BC americano pode elevar os juros na reunião desta semana
Repórter de Invest
Publicado em 12 de junho de 2023 às 12h35.
Última atualização em 12 de junho de 2023 às 13h57.
O grande foco de atenção dos investidores nesta semana é a decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), que irá decidir o rumo da taxa de juro nosEstados Unidosna próxima quarta-feira, 14 .
O consenso de mercado aposta em uma manutenção dos juros no atual patamar entre 5% e 5,25% ao ano, mas William Castro Alves, sócio e estrategista-chefe da corretora Avenue, vê espaço para mais uma alta de 0,25 ponto percentual (p.p.). Ainda assim, Alves defende que o aumento não deve ser o mais importante na decisão desta semana.
“O Fed deixou aberto um espaço para uma nova alta, mas não acredito que o aumento vá fazer grande diferença. Já existe juro real positivo na economia americana e, se a inflação começar a ceder, o juro real vai aumentando sem a necessidade de elevação da taxa nominal. A grande questão é a manutenção dos juros em um patamar alto”, avaliou Alves, em entrevista à EXAME Invest.
A expectativa da Avenue, fundada nos Estados Unidos e especializada no mercado americano, é que os cortes na taxa só comecem a partir do início de 2024. E, para este ano, o impacto das taxas ainda deve vir forte nos resultados do segundo trimestre. Dando um passo atrás, nos três primeiros meses do ano, o lucro das empresas caiu 2% quando a expectativa era de uma baixa em torno de 6% — então, o mercado reagiu positivamente. Para o segundo trimestre, no entanto, a situação pode ser mais crítica.
“ Tivemos 81 empresas do S&P 500 que deram um guidance negativo para os próximos meses.Então há espaço para quedas de margem, principalmente, devido à pressão de custos”, afirmou Alves.
O estrategista critica principalmente a percepção do mercado de que os lucros devem se recuperar de forma rápida após uma baixa no segundo trimestre. “É algo que não casa com a perspectiva de leve recessão que o Fed projeta para o final deste ano”, disse. Vale lembrar que o mercado tem questionado a visão do Fed, com os indicadores econômicos surpreendendo positivamente.
Nesse sentido, Alves pontua que a recessão, embora amplamente anunciada desde 2022, ainda não bateu à porta dos Estados Unidos. Mas reforçou que ainda é cedo para cravar o desenrolar dos próximos meses.
“ Dos últimos 13 ciclos de aperto monetário nos Estados Unidos, dez terminaram em recessão.Ainda não sabemos em que lado da estatística vamos entrar, mas o fato é que taxas de juro muito altas têm impacto na economia”, disse.
Wall Street sobe com IA
Apesar dos temores, o S&P 500, índice mais famoso do mercado americano, acumula alta de 12% em 2023. Na avaliação de Alves, a alta é um descompasso com o cenário geral. E a explicação está no rali das últimas semanas em torno das ações de tecnologia voltadas para inteligência artificial.
O boom começou com a Nvidia, que surpreendeu nos resultados e apresentou um guidance muito positivo para o segundo trimestre em que a empresa espera faturar US$ 11 bilhões — 64,18% mais do que no mesmo período do ano passado. A empresa de chips é apontada por analistas como uma das mais beneficiadas na corrida pela inteligência artificial.
O movimento, no entanto, é exagerado na opinião do estrategista da Avenue. “Anos atrás tínhamos Yahoo e E-bay, que prometiam muito, e quem ‘ganhou’ essa corrida foram, na verdade, o Google e a Amazon. IA tem muito espaço para crescer; a Nvidia está muito bem posicionada. Mas tenho receio em pagar muito antes sem saber se daqui a cinco anos ela vai continuar sendo a empresa dominante nesse mercado”, avaliou.
A recomendação da casa é deixar de lado as dez ações tech que vêm sustentando o S&P e olhar para as outras 490 — especialmente nos setores de petróleo, utilities e healthcare. “O setor de healthcare tem tecnologia embarcada aí que pode ser beneficiada pela inteligência artificial inclusive e que ainda não surfou esse crescimento todo na bolsa”, disse.
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