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Embraer supera concorrentes na renda fixa com alta do dólar

A dependência da receita em dólar da Embraer significa que a companhia está se beneficiando da queda de 13% do real em relação à moeda americana desde o início do mês

As exportações da Embraer representaram 87,3% da receita total de 2010 (Wikimedia Commons)

As exportações da Embraer representaram 87,3% da receita total de 2010 (Wikimedia Commons)

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Da Redação

Publicado em 29 de setembro de 2011 às 08h49.

Nova York - A Embraer SA, que obtém quase 90 por cento de sua receita fora do País, está superando seus principais concorrentes no mercado internacional de dívida. A alta do dólar impulsiona as perspectivas de lucro da companhia.

A taxa dos títulos em dólar da companhia com vencimento em 2017 caiu cinco pontos-base, ou 0,05 ponto percentual, neste mês para 4,49 por cento, segundo dados compilados pela Bloomberg. O rendimento de papéis com vencimento semelhante da canadense Bombardier Inc. deu um salto 37 pontos-base no mesmo período, enquanto a taxa das notas emitidas pela Boeing Co. teve alta de seis pontos-base. Os títulos denominados em euro da Airbus SAS também tiveram desempenho pior que os da Embraer, com alta de 12 pontos-base em suas taxas.

A dependência da receita em dólar da Embraer significa que a companhia está se beneficiando da queda de 13 por cento do real em relação à moeda americana desde o início do mês. A desvalorização vem na esteira de uma fuga generalizada de ativos de mercados emergentes, considerados de maior risco, causada pelo agravamento da crise da dívida na Europa.

As exportações da Embraer representaram 87,3 por cento da receita total de 2010. Em maio, a fabricante disse que iria investir em eficiência e em novos negócios no Brasil para criar um hedge cambial natural em meio à queda do dólar que vinha sendo registrada desde o início do ano.

“A maior parte da receita da empresa no setor aéreo é em dólares”, disse Russell Solomon, analista da Moody’s Investors Service, em entrevista por telefone de Nova York. “Quando o valor da moeda vai para o outro lado, ela se beneficia. Isso se traduz em níveis mais elevados de fluxo de caixa. Isso limitou seu desempenho financeiro nos últimos dois anos, à medida que o real se valorizava.”

Impulso aos resultados

Os títulos da Embraer rendem 138 pontos-base a mais do que a dívida do governo do governo de prazo similar, comparado a uma diferença de 203 pontos um mês atrás, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. O rendimento médio da dívida corporativa brasileira disparou 64 pontos-base este mês, a maior alta desde outubro de 2008, para 6,65 por cento, segundo dados do JPMorgan Chase & Co.

O dólar subiu para R$ 1,9055 em 22 de setembro, a maior cotação nível em mais de dois anos, levando o Banco Central a atuar no mercado futuro pela primeira vez desde 2009 para sustentar a moeda brasileira. O real acumula desvalorização de 9,7 por cento este ano.

Uma depreciação de 10 por cento do real em relação ao dólar se traduziria em um ganho de 1 por cento na margem de lucro antes dos juros e impostos da Embraer, segundo relatório de 22 de setembro escrito por analistas do JPMorgan liderados por Joseph Nadol.
“A força do dólar tende a beneficiar empresas do setor aeroespacial com sede fora dos Estados Unidos, como a Embraer, já que a maior parte das vendas é denominada em dólares, enquanto uma parcela significativa dos custos, especialmente mão de obra, é denominada em moeda local”, escreveram os analistas. “Portanto, à medida que o dólar se fortalece, as margens e os lucros melhoram.”


Inversão do real

Nadol não retornou telefonemas solicitando mais comentários para esta reportagem.

Aproximadamente 20 por cento dos custos da Embraer são em reais, de acordo com Solomon, da Moody’s.

A desvalorização do real é uma inversão da disparada de 46 por cento entre o fim de 2008 e agosto, que levou a equipe econômica do governo a comprar dólares no mercado, a elevar o Imposto sobre Operações Financeiras para investimentos em renda fixa e a impor restrições a determinadas transações, a fim de conter a valorização e proteger os exportadores.

Cynthia Benedetto, ex-vice-presidente de finanças da Embraer, disse em 10 de maio que a quarta maior fabricante mundial de aeronaves planejava investir em novas fábricas nos EUA e Portugal, reformar uma unidade na China e aumentar as vendas para as áreas militar e de segurança no Brasil, num esforço para combater os efeitos da apreciação do real. Ela fez um apelo para que o governo tomasse medidas câmbiais a fim de impedir uma “desindustrialização”.

“A Embraer é uma empresa muito sólida, o que reflete no grau de investimento”, disse Flávia Sekle, diretora de comunicação da empresa. “A desvalorização do real beneficia a Embraer assim como todas as exportadoras brasileiras e é impossível prever qual o novo patamar do câmbio.”

A Embraer tem classificação Baa3 pela Moody’s, a menor na escala de grau de investimento.

Demanda por jatos

O desaquecimento da economia mundial pode afetar a demanda pelos jatos regionais e executivos da empresa brasileira, anulando os impactos positivos da alta do dólar, disse Rama Bondada, analista do RBC Capital Markets em Nova York.

“O real está caindo por causa do desaquecimento global. Isso prejudica o segmento de cabines pequenas e jatos executivos da empresa e pesa sobre a recuperação do setor”, disse Bondada em entrevista por telefone.

A fatia de mercado da Embraer indica que a companhia vai conseguir enfrentar a desaceleração econômica mundial ao mesmo tempo em que se benefica da alta do dólar, disse Bevan Rosenbloom, estrategista de crédito do Citigroup Inc. em Nova York.

A empresa disse em seu relatório anual de 2010 que detinha uma participação de 44 por cento no segmento de jatos com 30 a 144 assentos.

“Como parte de seus custos são em moeda local e toda sua receita é em dólares, isso beneficia a companhia”, disse Rosenbloom em entrevista por telefone. “Eles são considerados líderes no mercado de jatos de médio alcance, não há muita concorrência e eles vão manter grande parte da fatia de mercado durante todas as fases do ciclo econômico.”

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