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Em maior máxima em 5 meses, dólar vai a quase R$ 4; Bolsa cai mais de 3%

Preocupação do mercado sobre embate entre governo e Congresso leva moeda a fechar em R$ 3,95 e Ibovespa a 91.903,40 pontos

Bolsonaro-Guedes: presidente e ministro enfrentam embates para articular reforma no Congresso (Sergio Moraes/Reuters)
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Reuters

Publicado em 27 de março de 2019 às 17h24.

Última atualização em 27 de março de 2019 às 17h56.

O Ibovespa fechou em queda de mais de 3 por cento nesta quarta-feira, 27, e o dólar atingiu os R$3,95, batendo a máxima em quase seis meses, com agentes financeiros enxergando aumento nos riscos para a reforma da Previdência. Resultados também foram influenciados por preocupações com o ritmo do crescimento da economia global.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa caiu 3,57 por cento, a91.903,40pontos, na mínima do dia. O giro financeiro da sessão somou 17,89 bilhões de reais.

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O alívio da véspera, quando o Ibovespa subiu 1,76 por cento e quebrou série de cinco pregões de perdas, durou pouco, após deputados aprovarem uma PEC que reduz a margem de manobra do governo com o Orçamento, o que pode ser visto como sinal de insatisfação com o Planalto.

Em meio à falta de avanços da reforma da Previdência na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, agentes financeiros entenderam a votação como mais um sinal de que falta condução política do governo no Congresso, o que pode atrasar a tramitação do texto e implicar maior desidratação da proposta.

"O Executivo não mostra disposição para conversar com os parlamentares", disse Pedro Menezes, membro do comitê de investimento de ações e sócio da Occam Brasil Gestão de Recursos, no Rio de Janeiro.

"A impressão que fica é que o presidente Jair Bolsonaro não define corretamente suas prioridades e não há sinalização de que isso vai mudar", afirmou. "O mercado não tinha na conta a inércia do presidente. E agora vai esperar atos concretos, não vai mais se levar por simples falas."

No final da tarde, Bolsonaro afirmou à Band que é necessário aprovar a reforma da Previdência ou o país quebra e disse que deve se encontrar com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) na volta de viagem a Israel. Disse ainda que, da sua parte, não tem briga com ninguém.

"O presidente optou por não baixar a temperatura da situação entre Executivo e Legislativo, levando um mercado já fragilizado para uma correção ainda mais acentuada", disse o estrategista Dan Kawa, sócio na TAG Investimentos, em nota a clientes.

Mais cedo, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, admitiu que o governo cometeu erros na relação com o Congresso, mas disse que não via a aprovação da PEC, que torna o Orçamento mais impositivo, como uma derrota do governo.

Apostas positivas ligadas às mudanças das regras das aposentadorias ajudaram o Ibovespa a tocar 100 mil pontos na semana passada. Desde então, o ganho acumulado do índice de mais de 10 por cento no ano até dia 18 recuar a menos de 5 por cento.

A participação do ministro da Economia, Paulo Guedes, em comissão do Senado não acalmou os ânimos, principalmente com o comentário de que de quem não tem apego ao cargo, embora tenha ponderado que não tem a irresponsabilidade de sair na primeira derrota.

A pressão vendedora também encontrou respaldo no viés negativo em moedas de mercados emergentes, em meio a receios sobre desaceleração econômica. Em Wall Street os três principais índices fecharam no vermelho.

Destaques

- PETROBRAS PN caiu 4,51 por cento, após forte alta na véspera, contaminada pela maior desconfiança com o ritmo da pauta da reforma previdenciária, além de fraqueza dos preços do petróleo no mercado externo.

- VALE cedeu 1,35 por cento, com agentes financeiros na expectativa do balanço do quarto trimestre, previsto para após o fechamento do pregão.

- BANCO DO BRASIL recuou 5,54 por cento, em dia de queda em bancos, com BRADESCO PN caindo 3,46 por cento, ITAÚ UNIBANCO PN perdendo 3,39 por cento e SANTANDER BRASIL UNIT cedendo 4,83 por cento.

- GOL PN fechou em queda de 8,71 por cento, diante da alta do dólar frente ao real. Ainda no radar, a Câmara dos Deputados concluiu votação de projeto que permite controle de aéreas por estrangeiros.

- ELETROBRAS ON caiu 7,23 por cento, antes da divulgação do balanço, aguardado para após o fechamento, com o clima mais complicado em Brasília adicionando apreensões sobre uma esperada capitalização da elétrica.

- USIMINAS PNA cedeu 7,41 por cento, liderando as perdas do setor siderúrgico, com CSN em baixa de 5,11 por cento e GERDAU PN caindo 3,87 por cento.

- SUZANO valorizou-se 1,87 por cento, única alta do Ibovespa, favorecida pela valorização do dólar, além de repercussão positiva do encontro com investidores na véspera.

Dólar

A escalada das preocupações com a articulação política do governo levou a moeda norte-americana ao maior patamar em quase seis meses com a cotação saltando mais de 2 por cento e ficando a poucos centavos da marca de 4 reais.

O dólar à vista terminou esta sessão em alta de 2,27 por cento, a 3,9545 reais na venda. Na máxima intradiária, a divisa norte-americana bateu 3,9730 reais na venda.

É o maior patamar desde 1º de outubro do ano passado (4,0183 reais). Na B3, a referência do dólar futuro tinha ganho de 2,01 por cento, a 3,9555.

O mau humor veio após aprovação da PEC do Orçamento pela Câmara. A proposta contraria o que o ministro da Economia, Paulo Guedes, vem defendendo como "plano B" à reforma Previdência, a desvinculação total do Orçamento. O texto foi aprovado em dois turnos por ampla maioria e agora seguirá para o Senado.

À tarde, na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, chamou a atenção fala de Guedes de que não tem "apego ao cargo", embora tenha ponderado que não tem "irresponsabilidade" de deixar o posto na primeira derrota.

"Com certeza foi isso que fez piorar (o dólar)", disse o operador de uma corretora.

"O recado é claro. O governo não tem apoio. E menos ainda para uma pauta impopular como a reforma (da Previdência). O mercado está sendo chamado à realidade", disse Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora.

As compras recentes de dólar têm sido lideradas sobretudo por estrangeiros, que já sustentam posições líquidas compradas de 37,1 bilhões de dólares. Apenas na véspera houve a compra líquida de quase 1 bilhão de dólares.

"Nem mesmo a entrada do exportador está conseguindo aliviar o câmbio. No máximo, não deixa subir mais", disse Marcos Trabbold, da B&T Corretora.

Mauricio Oreng, estrategista sênior para Brasil do Rabobank, reconheceu que o risco de uma reforma mais diluída e mesmo de não aprovação está mais alto, mas ainda considera cedo para se apostar num cenário disruptivo.

"Mas até lá o caminho do dólar será de mais solavancos", disse, embora ainda preveja taxa de 3,70 reais no fim do ano, aprovada uma reforma previdenciária com economia prevista de 700 bilhões de reais em uma década.

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