Notas de dólar: a moeda operou em baixa na maior parte do dia, mas na reta final do pregão voltou ao território positivo (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 22 de novembro de 2012 às 17h04.
São Paulo - Um dia depois de comentários do ministro da Fazenda, Guido Mantega, nesta quinta-feira foi a vez de o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, mandar um recado para o mercado de câmbio. Pela primeira vez, ele admitiu, em audiência no Congresso Nacional, que a taxa de câmbio real mudou de patamar e lembrou que o BC carrega uma posição comprada de US$ 5 bilhões em swap cambial.
Na avaliação do mercado, a fala de Tombini foi uma indicação de que o BC tem munição suficiente para agir se houver uma valorização excessiva do dólar ante o real. Este fator, aliado à queda da moeda norte-americana ante outras divisas, fez o dólar recuar ante o real no balcão durante boa parte do dia. Perto das 15h30, no entanto, o dólar passou a subir, em um ambiente de liquidez menor e com os investidores testando a disposição da autoridade monetária de atuar para conter a alta.
Ao fim da sessão, o dólar à vista mostrou alta de 0,14% no balcão, cotado a R$ 2,0970. Na mínima da sessão, a moeda cedeu para R$ 2,0890 e, na máxima, a cotação foi de R$ 2,0980. A moeda operou em baixa na maior parte do dia, mas na reta final do pregão voltou ao território positivo.
O volume de negócios foi menor em função do feriado do dia de Ação de Graças nos Estados Unidos. Na BM&F, o dólar pronto fechou estável, a R$ 2,0960, com oito negócios. Às 16h42, o dólar para dezembro de 2012 era cotado a R$ 2,1015, com baixa de 0,05%, após marcar durante o dia máxima de R$ 2,1025.
O ambiente externo ameno pela manhã, em meio a dados positivos da economia chinesa e às perspectivas de solução para o problema grego na segunda-feira, trouxe um viés de baixa para o dólar ante outras moedas no mercado internacional. O movimento se repetiu no Brasil, com o dólar em queda no balcão e no mercado futuro.
A tendência de baixa foi reforçada pela fala de Tombini no Congresso. Segundo ele, o BC não tem "qualquer objetivo de câmbio", mas "sempre tomaremos precauções" para que o País não se torne uma "praça de desvalorização de moedas importantes, por exemplo, o dólar". "Temos tomado as precauções para que isso não ocorra", afirmou. "Se preciso for, vamos intervir na liquidez na virada do ano. O BC continua praticando a política cambial que sempre praticou para que o real não seja objeto de valorização por causa da política adotada por outros países", acrescentou.
Profissionais do mercado avaliaram que, ao destacar a posição comprada de US$ 5 bilhões, Tombini passa o recado de que a autoridade monetária tem ferramentas para agir, caso a alta do dólar se acentue. "O BC mostrou que tem munição para evitar exageros. E eu acredito que, acima de R$ 2,10, ele pode entrar no mercado para evitar uma alta muito forte", comentou João Paulo de Gracia Corrêa, gerente de câmbio da Correparti Corretora, de Curitiba.
A percepção fez o mercado testar o BC no fim da sessão. Para Alessandro Faganello, operador da Fourtrade Corretora, o movimento foi visto principalmente no mercado futuro, mas se refletiu também no balcão, com a virada da moeda. "Os investidores passaram a testar o BC para ver se ele vai agir realmente ou não", comentou. "Se o dólar bater nos R$ 2,12, acredito que o BC não vai deixar."
No início da tarde, o BC informou ainda que as remessas de lucros e dividendos feitas pelas empresas estrangeiras com sede no Brasil somaram US$ 2,355 bilhões em outubro. No mesmo mês do ano passado, as remessas haviam sido de US$ 1,558 bilhão. Para alguns analistas, os dados mais recentes mostram que o envio de recursos para o exterior será, de fato, mais intenso no fim do ano, o que pode trazer uma pressão adicional de alta para o dólar ante o real.