Dólar acima de R$ 6 é só uma questão de tempo
Moeda americana tocou R$ 5,97 reais nesta quinta-feira e só arrefeceu com atuação do BC
Da Redação
Publicado em 15 de maio de 2020 às 06h29.
Última atualização em 15 de maio de 2020 às 08h49.
Com valorização acumulada de 45% no ano, o mercado financeiro já não se pergunta “se” o dólar vai superar os 6 reais, mas apenas “quando”.
No pregão de quinta-feira, 14, a moeda chegou a ser negociada por 5,9725 reais e o movimento de alta só resfriou quando o Banco Central anunciou que iria fazer um leilão de cerca de 1 bilhão de dólares em contratos de swap. Já próximo do encerramento do pregão, a autarquia voltou a atuar no câmbio à vista.
“Se não fosse pela ajuda do BC, o dólar teria batido 6 reais”, afirmou Pablo Spyer, diretor de operações da Mirae Asset. Para Spyer, o dólar está em iminência de chegar ao patamar de 6 reais. “O real é a moeda com a maior volatilidade implícita do mundo. Aqui o dólar pode oscilar 30 centavos com facilidade e chegar aos 6,30 reais”, afirmou.
Um dos motivos para a alta do dólar é a queda da taxa básica de juros, que sofreu três cortes em quatro meses e está em sua mínima histórica, de 3% ao ano. A redução dos juros tende a enfraquecer a moeda, já que títulos públicos ficam menos atrativos para investidores estrangeiros.
O próprio enfraquecimento da moeda, segundo Spyer, pode desestimular a entrada de dólares no país. “O pessoal [que investiu no Brasil] perdeu dinheiro em dólar. Com a desvalorização do real, não tem como pegar de volta os dólares que eles tinham. Para deixar dinheiro no Brasil, o juro tem que ser alto”, disse.
“Tenho certeza que um dia – pode ser hoje ou daqui duas semanas – o dólar vai bater 6 reais”, afirmou Jefferson Ruik, diretor de câmbio da Correparti. Segundo ele, a situação fiscal e política, agravada pela crise do coronavírus, têm contribuído para que o real se desvalorize ainda mais.
A opinião de que o dólar deve passar dos 6 reais no curto prazo também é compartilhada por bancos estrangeiros, como é o caso do Credit Suisse, que acredita que o dólar possa chegar a 6,20 reais. Segundo a instituição, a atuação “de forma geral muito limitadas” do BC, ruídos políticos e o número de casos de covid-19 no Brasil podem elevar o patamar da moeda.
Entre as principais preocupações políticas do mercado está o vídeo da reunião ministerial em que, segundo o ex-ministro Sergio Moro, o presidente Jair Bolsonaro teria revelado a intenção de trocar a superintendência da Polícia Federal do Rio de Janeiro por questões pessoais.
Na terça-feira,12, quando o site O Antagonista revelou que o conteúdo da gravação mostrava Bolsonaro associando a troca de comando da PF do Rio à necessidade de salvar sua família, o dólar bateu recorde no Brasil, a 5,866 reais, que foi superado no dia seguinte ao fechar a 5,901 reais.
Segundo o ministro da Economia, Paulo Guedes, chegaríamos aos 5 reais se fosse feita “muita besteira”. Quando disse a frase, em cinco de março, o dólar nunca havia ultrapassado os 4,70 reais, o Brasil só tinha 8 casos de coronavírus confirmados e Moro e o ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta estavam no governo.