Exame Logo

Real tem o pior desempenho entre as moedas emergentes em abril

Perspectiva de mais cortes na Selic têm estimulado a desvalorização da moeda brasileira

A taxa básica de juro menor reduz a atratividade dos ativos de renda fixa e impede a valorização do real, que prejudica a indústria (Stock Exchange)
DR

Da Redação

Publicado em 2 de maio de 2012 às 12h14.

Brasília e Nova York - As expectativas de que o Banco Central vai baixar o juro básico para uma nova mínima histórica para estimular o crescimento econômico intensificam a desvalorização do real. A moeda brasileira foi a de pior desempenho entre as de mercados emergentes no mês passado, o que causa a desvalorização dos títulos do governo.

O real recuou 4,3 por cento em abril e o dólar atingiu a maior cotação em cinco meses esta semana, a R$ 1,9109, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. A baixa da moeda brasileira colaborou para uma perda em dólares de 3,9 por cento no mês passado para investidores que aplicaram em títulos públicos domésticos, de acordo com o JPMorgan Chase & Co. Os títulos colombianos denominados em pesos deram retorno de 4,6 por cento no mesmo período, enquanto a dívida pública chilena negociada no mercado local teve ganho de 1,3 por cento.

Operadores do mercado de renda fixa esperam que o Comitê de Política Monetária do BC diminua a Selic para 8,5 por cento até agosto, após seis cortes seguidos desde agosto, segundo negócios no mercado futuro. O juro menor reduz a atratividade dos ativos de renda fixa e impede a valorização do real, que prejudica a indústria.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse no mês passado que o governo vai tomar mais medidas para enfraquecer o real, após aumentar o Imposto sobre Operações Financeiras sobre empréstimos tomados no exterior e títulos emitidos fora do País.

As políticas de juro e câmbio no Brasil tiraram “ um pouco do brilho dessa operação para investidores”, disse Flavia Cattan-Naslausky, estrategista para mercados locais do Royal Bank of Scotland Group Plc, em entrevista por telefone de Nova York. “Os investidores têm procurando mercados com carry alto, como Colômbia, México e Chile, que não têm intervenção cambial tão agressiva.”

O presidente do BC, Alexandre Tombini, baixou a Selic em 350 pontos-base, ou 3,50 pontos percentuais, desde agosto, para 9 por cento, a maior redução entre o Grupo dos 20 países mais industrializados.

Compras de dólares

Na ata da reunião do Copom dos dias 17 e 18 de abril, o BC indicou que pode fazer cortes adicionais, levando operadores a apostar que a Selic vai cair para 8,5 por cento, de acordo com os negócios no mercado de juros futuros.

O BC comprou US$ 5,5 bilhões no mercado de câmbio nos primeiros 20 dias de abril, a maior quantia mensal desde julho.

Em comunicado enviado por e-mail, o BC não quis fazer comentários para esta reportagem.


O mais importante em relação à taxa de câmbio não são as medidas já tomadas, mas as que ainda podem ser tomadas a qualquer momento, disse Mantega em discurso em Brasília no mês passado.

O Ministério da Fazenda não quis fazer comentários, segundo comunicado enviado por e-mail.

‘Mais duro’

O real acumula desvalorização de 2,2 por cento este ano, a segunda maior queda entre as 16 moedas mais importantes, atrás somente do iene japonês, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. As perdas da moeda brasileira também se aprofundaram à medida que a crise financeira na Europa abala a demanda dos investidores por ativos de alto rendimento dos mercados emergentes, disse Alfredo Barbutti, um economista da Liquidez DTVM Ltda.

“O discurso do governo está mais duro e o cenário externo está ajudando a desvalorizar o real”, disse Barbutti em entrevista por telefone de São Paulo. “ Há outras moedas se desvalorizando diante do dólar, mas não na intensidade do real.”

Para Marco Aurélio de Sá, diretor da Credit Agricole Securities, as quedas do real vão durar pouco e os investidores que comprarem dívida pública negociada no mercado local vão se beneficiar com uma recuperação dos papéis.

“Este é um momento temporário de fraqueza”, disse Sá em entrevista por telefone de Miami. “Vemos 1,90 como um bom nível de entrada. Temos recomendado que nossos clientes tomem posições, que fiquem comprados em reais. Existe potencial de valorização para a dívida brasileira denominada em reais.”

‘Forma diferente’

Os esforços do BC para enfraquecer o real sugerem que a instituição está mais preocupada em estimular a economia do que em conter a inflação, disse Ures Folchini, chefe de renda fixa do Banco WestLB do Brasil SA.

“O BC está atuando de forma diferente”, disse Folchini em entrevista por telefone de São Paulo. “Ele está aparentemente forçando o dólar para um patamar mais alto. Parece que houve uma mudança de estratégia.”

Veja também

Brasília e Nova York - As expectativas de que o Banco Central vai baixar o juro básico para uma nova mínima histórica para estimular o crescimento econômico intensificam a desvalorização do real. A moeda brasileira foi a de pior desempenho entre as de mercados emergentes no mês passado, o que causa a desvalorização dos títulos do governo.

O real recuou 4,3 por cento em abril e o dólar atingiu a maior cotação em cinco meses esta semana, a R$ 1,9109, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. A baixa da moeda brasileira colaborou para uma perda em dólares de 3,9 por cento no mês passado para investidores que aplicaram em títulos públicos domésticos, de acordo com o JPMorgan Chase & Co. Os títulos colombianos denominados em pesos deram retorno de 4,6 por cento no mesmo período, enquanto a dívida pública chilena negociada no mercado local teve ganho de 1,3 por cento.

Operadores do mercado de renda fixa esperam que o Comitê de Política Monetária do BC diminua a Selic para 8,5 por cento até agosto, após seis cortes seguidos desde agosto, segundo negócios no mercado futuro. O juro menor reduz a atratividade dos ativos de renda fixa e impede a valorização do real, que prejudica a indústria.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse no mês passado que o governo vai tomar mais medidas para enfraquecer o real, após aumentar o Imposto sobre Operações Financeiras sobre empréstimos tomados no exterior e títulos emitidos fora do País.

As políticas de juro e câmbio no Brasil tiraram “ um pouco do brilho dessa operação para investidores”, disse Flavia Cattan-Naslausky, estrategista para mercados locais do Royal Bank of Scotland Group Plc, em entrevista por telefone de Nova York. “Os investidores têm procurando mercados com carry alto, como Colômbia, México e Chile, que não têm intervenção cambial tão agressiva.”

O presidente do BC, Alexandre Tombini, baixou a Selic em 350 pontos-base, ou 3,50 pontos percentuais, desde agosto, para 9 por cento, a maior redução entre o Grupo dos 20 países mais industrializados.

Compras de dólares

Na ata da reunião do Copom dos dias 17 e 18 de abril, o BC indicou que pode fazer cortes adicionais, levando operadores a apostar que a Selic vai cair para 8,5 por cento, de acordo com os negócios no mercado de juros futuros.

O BC comprou US$ 5,5 bilhões no mercado de câmbio nos primeiros 20 dias de abril, a maior quantia mensal desde julho.

Em comunicado enviado por e-mail, o BC não quis fazer comentários para esta reportagem.


O mais importante em relação à taxa de câmbio não são as medidas já tomadas, mas as que ainda podem ser tomadas a qualquer momento, disse Mantega em discurso em Brasília no mês passado.

O Ministério da Fazenda não quis fazer comentários, segundo comunicado enviado por e-mail.

‘Mais duro’

O real acumula desvalorização de 2,2 por cento este ano, a segunda maior queda entre as 16 moedas mais importantes, atrás somente do iene japonês, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. As perdas da moeda brasileira também se aprofundaram à medida que a crise financeira na Europa abala a demanda dos investidores por ativos de alto rendimento dos mercados emergentes, disse Alfredo Barbutti, um economista da Liquidez DTVM Ltda.

“O discurso do governo está mais duro e o cenário externo está ajudando a desvalorizar o real”, disse Barbutti em entrevista por telefone de São Paulo. “ Há outras moedas se desvalorizando diante do dólar, mas não na intensidade do real.”

Para Marco Aurélio de Sá, diretor da Credit Agricole Securities, as quedas do real vão durar pouco e os investidores que comprarem dívida pública negociada no mercado local vão se beneficiar com uma recuperação dos papéis.

“Este é um momento temporário de fraqueza”, disse Sá em entrevista por telefone de Miami. “Vemos 1,90 como um bom nível de entrada. Temos recomendado que nossos clientes tomem posições, que fiquem comprados em reais. Existe potencial de valorização para a dívida brasileira denominada em reais.”

‘Forma diferente’

Os esforços do BC para enfraquecer o real sugerem que a instituição está mais preocupada em estimular a economia do que em conter a inflação, disse Ures Folchini, chefe de renda fixa do Banco WestLB do Brasil SA.

“O BC está atuando de forma diferente”, disse Folchini em entrevista por telefone de São Paulo. “Ele está aparentemente forçando o dólar para um patamar mais alto. Parece que houve uma mudança de estratégia.”

Acompanhe tudo sobre:Banco CentralCâmbioEstatísticasIndicadores econômicosMercado financeiroRealSelic

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Mercados

Mais na Exame