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CSN despenca com investimento em projeto da Transnordestina

Os gastos no projeto que não ajudará a empresa a aumentar sua produção consumiram 38% dos investimentos da CSN nos últimos dois anos

As ações da CSN caíram 33 por cento nos últimos 12 meses, cinco vezes mais que a baixa de 6,5 por cento do Ibovespa (Alexandre SantAnna/Veja Rio)

As ações da CSN caíram 33 por cento nos últimos 12 meses, cinco vezes mais que a baixa de 6,5 por cento do Ibovespa (Alexandre SantAnna/Veja Rio)

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Da Redação

Publicado em 2 de maio de 2012 às 09h32.

Rio de Janeiro - A Cia. Siderúrgica Nacional SA já investiu R$ 3,1 bilhões numa ferrovia considerada pelo governo como crucial para uma das regiões mais pobres do País. O projeto não ajudará a empresa a aumentar sua produção de minério de ferro para aproveitar a explosão na demanda.

Os gastos na Ferrovia Transnordestina consumiram 38 por cento dos investimentos da CSN nos últimos dois anos. Seria mais inteligente investir em sua lucrativa operação de mineração, disse Jonathan Brandt, analista de mercado de capitais do HSBC Holdings Plc. A CSN não tem nenhuma reserva de minério de ferro na área coberta pela ferrovia.

“Estamos preocupados que a Transnordestina seja uma distração para a administração, e questionamos o retorno do projeto, dado sua estrutura econômica”, disse Brandt em entrevista por telefone de Nova York. “Preferiríamos vê-los investindo em seus ativos de mineração, que acreditamos ter maior retorno entre todos os projetos da companhia.”

Brandt cortou sua recomendação para a CSN para o equivalente a venda em 7 de fevereiro, citando alocação equivocada do caixa.
“A CSN pode estar cedendo à pressão política”, disse David Fleischer, analista político da Universidade de Brasília, em entrevista por telefone. “Também é possível que a companhia saiba da existência de depósitos de minério de ferro lá em cima e que ainda não tenham sido anunciados.”

 O Brasil é o segundo maior exportador mundial de minério de ferro, cujo preço mais que dobrou nos últimos três anos, na esteira da crescente demanda chinesa. O gasto de R$ 1 bilhão da CSN em 2010 e 2011 na expansão de suas minas e no porto de Itaguaí, no Rio de Janeiro, representa menos de um terço do que foi investido na Transnordestina.

Ações em queda

As ações da CSN, segunda maior produtora de minério de ferro do Brasil, após a Vale SA, caíram 33 por cento nos últimos 12 meses, cinco vezes mais que a baixa de 6,5 por cento do Ibovespa, à medida que investidores se desfizeram de papéis de siderúrgicas por conta dos lucros menores. A Gerdau SA, maior produtora de aço da América Latina, caiu 5,2, enquanto a Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais SA recuou 32 por cento.

A CSN controla a Transnordestina desde 1998, quando ganhou a licença para operar por 30 anos a ferrovia de 4.238 quilômetros que atravessa sete estados. Em 31 de dezembro, a empresa tinha participação de 70,91 por cento na Transnordestina Logística SA.


Cargas

Em 2005, a companhia se comprometeu com o governo a construir uma extensão de 1.728 quilômetros à ferrovia para ligar a cidade de Eliseu Martins, no interior do Piauí, aos portos de Suape e Pecém, transportando cargas como combustíveis, minérios e commodities agrícolas.

O projeto tem custo de R$ 5,4 bilhões, segundo comunicado da CSN. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, que tem participação de 13,5 por cento na Transnordestina, vai financiar R$ 900 milhões do projeto, segundo comunicado por e- mail da instituição.

A Transnordestina era um dos principais projetos de infraestrutura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que nasceu no interior de Pernambuco, um dos estados pelos quais passará a ferrovia. Lula prometeu que ela estaria pronta em 2010. Após atrasos e aumentos no custo da obra, sua sucessora, Dilma Rousseff, agora diz que a estrada de ferro estará pronto até o fim de 2014.

O governo vai apertar os parafusos para ter uma solução mais rápida, porque a Transnordestina tem imensa importância para a região, disse Dilma durante uma visita em fevereiro para examinar o progresso das obras. Segundo ela, a ferrovia funciona como uma estrada para o desenvolvimento.

Aumentar investimentos

Há uma “pressão generalizada” sobre empresas públicas e privadas para que aumentem seus investimentos em infraestrutura, disse Peter Wanke, professor de logística do instituto de pós- graduação e pesquisa em administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o COPPEAD.

A Transnordestina ligará cinco outras ferrovias, formando uma malha que, se bem administrada, permitirá que produtores de soja no Nordeste escolham por qual porto escoar os grãos, o que forçaria os portos a concorrerem baixando preços e reduzndo o tempo de espera para carga e descarga, disse Wanke.

A CSN não quis fazer comentários sobre qualquer aspecto da Transnordestina, incluindo a possível pressão política, após repetidos e-mails e telefonemas.


Melhor opção

“Com sua nova configuração, a Transnordestina vai se tornar a melhor opção logística para exportar grãos através dos portos de Pecem e Suape, assim como outras cargas sólidas como minério de ferro da Região Nordeste, cumprindo um importante papel no desenvolvimento da região”, disse a CSN em comunicado à SEC, a autoridade que regula o mercado americano, em 27 de abril.

O projeto da Transnordestina foi iniciado após a CSN pedir as autorizações necessárias à Agência Nacional dos Transportes Terrestres, disse o Ministério dos Transportes em resposta por e-mail a perguntas sobre a possível pressão política.

“Os prazos e o orçamentos para a conclusão da obra foram definidos e informados pela concessionária”, disse o Ministério.

Enquanto a CSN vem gastando bilhões de reais com a Transnordestina, um avanço nos preços globais do minério de ferro, de US$ 60,6 por tonelada em maio de 2009 para US$ 145,4, tem feito de sua unidade de mineração a mais lucrativa de sua operação. A área de mineração teve margem de lucro de 63 por cento no ano passado, mais que o dobro dos 27 por cento de margem da unidade de siderurgia. A operação ferroviária teve margem de 36 por cento, incluindo a participação, direta e indireta, de 33 por cento na MRS Logística SA, empresa ferroviária que opera no Sudeste do País.

Lucro em mineração

A unidade de mineração respondeu por 55 por cento dos R$ 3,67 bilhões em lucro antes de impostos, juros, depreciação e amortização, o Ebitda ajustado, além de ter representado 35 por cento da receita, contra 16 por cento em 2009. Cerca de 95 por cento das vendas de minério são para o exterior.

Ainda assim, a CSN não atingiu sua meta, definida em 2009, de expandir a capacidade da Casa de Pedra, sua maior mina de minério de ferro, para 40 milhões de toneladas até o segundo semestre de 2010. A Casa de Pedra atualmente tem capacidade de produção de 21 milhões de toneladas, disse a CSN em 26 de março, acrescentando que espera aumentar essa capacidade para 42 milhões de toneladas até 2013.

A companhia também investiu em outros projetos não relacionados à mineração. Em janeiro, a CSN investiu 482,5 milhões de euros para comprar duas unidades de siderurgia do espanhol Grupo Alfonso Gallardo, aumentando sua capacidade de produção em 1,1 milhão de toneladas de aço longo por ano.

Em 2011, a CSN comprou uma participação na rival Usiminas, buscando ter mais influência sobre as decisões tomadas por sua maior concorrente. O plano foi frustrado quando o Techint Group, de Dalmine, na Itália, através de suas unidades Ternium SA e Tenaris SA, entraram no grupo controlador da Usiminas após acordo de acionistas com a Nippon Steel Corp.

Compra de ações

A CSN teve seus direitos de voto na Usiminas suspensos e foi impedida de comprar mais ações pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica em 11 de abril, aumentando a possibilidade de que será forçada a vender sua participação. Brandt, do HSBC, estima que a CSN gastou R$ 3 bilhões na investida mal-sucedida sobre a Usiminas e que pode perder 29 por cento desse investimento caso tenha que liquidar sua posição.

Ao não atingir suas metas de execução e volume ao mesmo tempo que investe em novos projetos, a companhia ganhou reputação de não cumprir suas promessas, disse Rafael Weber, que ajuda a administrar cerca de R$ 7 bilhões na Geração Futuro Corretora.

“Isso acaba desgastando muito a imagem da companhia. Eu acho que isso foi um dos pontos que deixaram o investidor com muitas incertezas”, disse Weber em entrevista por telefone de Porto Alegre. “Eles têm uma mina de excelente qualidade e têm de investir para aumentar a capacidade. Quanto mais rápido conseguir acelerar isso, melhor.”

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