‘Copom não deve fazer ajuste forte na Selic no curto prazo’, diz Perfeito
Após governo furar teto, economista vê juros a 7,5% – previsão mais moderada do que parte do mercado, que espera ajustes mais fortes
Beatriz Quesada
Publicado em 24 de outubro de 2021 às 07h05.
Última atualização em 25 de outubro de 2021 às 12h07.
A manobra noteto de gastosimplementada pelo governo para custear os 400 reais do Auxílio Brasil levou o mercado a recalibrar suas expectativas para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária ( Copom ).
Se antes a perspectiva era de que a taxa básica de juros, a Selic , fosse elevada em 1 ponto percentual (p.p), agora economistas já projetam altas entre 1,25 a 1,5 p.p. – o que pode levar a Selic a até 7,75% ao ano.
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Para André Perfeito, economista-chefe da Necton, o primeiro cenário é o mais provável, com o Copom decidindo elevar a Selic para 7,5% ao ano na reunião da próxima quarta-feira, 27.
A previsão é mais moderada do que parte do mercado, que espera ajustes mais fortes. Para Perfeito, no entanto, o Banco Central deve responder ao drible no teto sem perder seu direcionamento.
“O BC tem dito de forma reiterada que não vai correr com as altas. Temos uma informação nova, que é o rompimento no teto, é claro. Por isso, acredito que a elevação será maior que o inicialmente planejado [de 1 p.p.]. Ainda assim, o Copom não deve subir muito mais que isso”,explicou Perfeito em entrevista à EXAME Invest.
O economista defendeu quesubir a Selic ao longo do tempoé mais interessantepara o Banco Central do que fazer um ajuste forte no curto prazo. A justificativa estaria na natureza da inflação atual, que vem da oferta, enquanto a elevação da Selic tem influência apenas no âmbito da demanda.
“Subir a Selic não é ‘dança da chuva’: aumentar o juro no Brasil não vai fazer, por exemplo, com que o preço do barril de petróleo diminua no mercado internacional”, afirma.
Em entrevista, Perfeito comentou as implicações da revisão no teto de gastos e traçou perspectivas para os cenários dos juros e do dólar após a mudança. Confira abaixo:
O governo abandonou de vez o teto de gastos? Como você avalia a nova proposta do Auxílio Brasil?
Houve um abandono completo do teto de gastos, é algo que não está aberto a interpretações. Foi algo tão grave e sério que causou a saída de quatro pessoas do Ministério da Economia e se especulou até mesmo a saída do ministro Paulo Guedes.
A consequência é que o mercado coloca isso no preço dos ativos, derrubando a bolsa. Na sexta-feira, nós tivemos um alívio depois que o Guedes confirmou que iria permanecer no governo. Mas as questões continuam na mesa. O mercado ainda está buscando o preço de equilíbrio para alguns ativos diante dessa nova informação de risco para as contas públicas.
De que forma o gasto extra deve impactar as contas e os ativos?
O principal problema é a incerteza, que deixa os prêmios de risco mais altos. Nesse cenário, o investidor quer ficar mais líquido e opta por opções mais defensivas. Não adianta o governo dizer que vai manter o teto, porque o teto já foi quebrado. E o mercado vai resolver isso da forma de sempre: no preço.
Com a bolsa caindo, talvez cheguemos a algum patamar em que o mercado entenda que o desconto já foi o suficiente, estancando as perdas.
Diante disso tudo, qual é a previsão para a Selic?
Mudamos nossa previsão de alta de 1 ponto percentual para 1,25 pontos para a reunião de outubro, seguida de outro 1 pontos na reunião de dezembro, o que levará a Selic para 8,5% ao ano no final de 2021. Para o ano que vem, mantemos a trajetória de elevação de 75 pontos na reunião de fevereiro e depois mais uma de 50 pontos em março, que faria a Selic saltar para 9,75% ao ano ao fim do ciclo de alta.
Algumas casas de análise previram um ajuste mais forte já na próxima reunião. Por que a Necton acredita que a alta deve ser mais branda?
O BC tem dito de forma reiterada que não vai correr com as altas. Temos uma informação nova, que é o rompimento no teto, é claro. Por isso acredito que a elevação será maior que o inicialmente planejado [de 1 p.p.]. Ainda assim, o Copom não deve subir muito mais que isso.
Em termos de política monetária, é preciso enxergar com a cabeça do outro–no caso, o Banco Central. Para o BC, é melhor fazer subir a Selic ao longo do tempo do que fazer um ajuste forte no curto prazo.
Vale lembrar também que o Brasil já está com uma taxa de juros bastante elevada para um país que não está com perspectiva alguma de crescimento.
As altas da taxa serão o suficiente para barrar a disparada do dólar?
Acho que não.A alta da Selic pode trazer algum tipo de anteparo, mas se o mercado quiser levar a cotação para cima, ele consegue. E eu acho que o BC deveria deixar o câmbio flutuar, não tem que ficar intervindo. O ideal é que o mercado decida o preço que entende como de equilíbrio. A sociedade fica muito tensa com isso, mas o trabalho do mercado de capitais é tentar dar preço para essas coisas. Nossa estimativa é de que o dólar fique em 5,55 reais até o final de 2021 – contra 5,25 do Focus. E para o ano que vem, a moeda deve ficar em 5,50 reais.