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Como o 'problema dos três corpos' explica o impasse do Fed, segundo a Gavekal

Investidores estão de olho na inflação americana e em seu impacto na trajetória de juros nos EUA

Federal Reserve (Fed): próxima reunião do BC americano acontece entre 30 de abril e 1º de maio (Samuel Corum / Bloomberg/Getty Images)

Federal Reserve (Fed): próxima reunião do BC americano acontece entre 30 de abril e 1º de maio (Samuel Corum / Bloomberg/Getty Images)

Beatriz Quesada
Beatriz Quesada

Repórter de Invest

Publicado em 9 de abril de 2024 às 13h20.

Última atualização em 10 de abril de 2024 às 06h22.

Investidores de todo o mundo têm uma grande preocupação para 2024: que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) demore mais que o esperado para cortar os juros nos Estados Unidos. A expectativa do mercado é que o Fed mantenha a taxa inalterada na reunião de abril – previsão bem diferente do início do ano, onde a expectativa era de cortes já em março. 

O Fed vive um impasse na avaliação de Will Denyer, economista-chefe da Gavekal Research para os Estados Unidos. Impasse este que pode ser explicado pelo “problema dos três corpos”, conhecido conceito da física que virou tema-título de nova série da Netflix

Na física, a questão trata da dificuldade em prever o movimento de três ou mais objetos astronômicos em órbita um ao redor do outro. Nos mercados, o problema dos três corpos pode ser uma metáfora para a dificuldade do Fed em conciliar seus três mandatos principais: atingir um nível máximo de emprego, controlar a inflação e manter as taxas de juros moderadas a longo prazo.

“Para que isso fosse possível, o Fed necessitaria de dados absolutamente precisos e atualizados ao minuto sobre empregos e preços, juntamente com uma compreensão perfeita de como eles afetam uns aos outros e as taxas, bem como a economia em geral”, afirma Denyer, em relatório.

“Reconhecendo a impossibilidade dessa tarefa, a Fed parece ter dado prioridade ao seu mandato de inflação”, conclui o analista.

O BC americano descartou explicitamente o mandato de manter as taxas de juros moderadas a longo prazo, afirmando que – se alcançados os demais objetivos – este também seria cumprido por tabela. O banco central americano reforçou que tem mantido os mandatos de emprego e inflação em pé de igualdade, mas Denyer vê clara prioridade na questão dos preços. 

“O Fed estabeleceu para si próprio uma meta específica de inflação de 2%, mas apenas uma vaga meta de emprego (tanto quanto possível sem causar demasiada inflação). O resultado é que a meta de inflação determina a política monetária”, escreveu.

Os riscos da inflação nos EUA

Com isso no radar, o economista cita três principais riscos potenciais para a inflação americana. O primeiro é a recente recuperação da riqueza das famílias – em grande parte devido à alta do mercado acionário e à elevação nos preços dos imóveis. 

“À medida que o património líquido das famílias aumenta em relação à sua taxa actual de consumo nominal, o efeito riqueza pode inspirar as pessoas a ‘viver um pouco’. Se a oferta não acompanhar o aumento resultante da procura, a inflação ao consumidor poderá acelerar”, avaliou.

O segundo risco é um aumento nos preços de petróleo, que poderia encarecer a gasolina e afetar a inflação. E o último, por sua vez, é o esgotamento do mecanismo de recompra do Fed, o que poderia aumentar os preços temporariamente.

Os próximos passos dependem da divulgação do Índice de Preços ao Consumidor (CPI), principal indicador de inflação dos EUA, que será divulgado na quarta-feira, 10. Um terceiro dado mensal negativo do CPI pesaria negativamente sobre as ações americanas.

“Por outro lado, uma impressão benigna do CPI sugeriria que o cenário de expansão desinflacionista está intacto e que os cortes nas taxas ainda estão em cima da mesa – um cenário que os mercados acionistas acolheriam com vigor.”

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