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Como montar uma carteira de ações defensiva?

Especialistas explicam as características dos ativos que podem se dar melhor em momentos de maior instabilidade no mercado

commercial illustrator (erhui1979/Getty Images)
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Guilherme Guilherme

Publicado em 29 de setembro de 2020 às 18h01.

Última atualização em 29 de setembro de 2020 às 18h51.

A volta dos temores fiscais no Brasil, como o anúncio do novo programa assistencialista do governo, levou o Ibovespa a fechar em seu menor patamar em 95 dias nesta terça-feira, 29. A caminho da segunda queda mensal consecutiva, o principal índice da bolsa brasileira acumula queda de 11,4% em relação à máxima de julho, quando ainda havia alguma expectativa de que ele voltaria aos patamares recordes até o fim do ano. Mas, a três meses do fim do ano, a esperança de que isso ocorra tem diminuído a cada dia.

Com a aproximação das eleições americanas, marcadas pelo início dos debates entre Donald Trump e Joe Biden , e o ressurgimento de casos de coronavírus na Europa, a expectativa agora é que outubro seja mais um mês de alta volatilidade no mercados globais.

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Mas com tantas incertezas no radar, como correr menos risco sem precisar sair da bolsa? Pensando nisso, especialistas consultados pela EXAME deram algumas dicas de como montar uma carteira mais defensiva. Confira:

Previsibilidade

Setores com receitas consistentes tendem a sofrer menos em períodos de maior instabilidade, avalia Bruno Lima, analista de renda variável da EXAME Research. “A ideia é escolher empresas com fluxo de caixa previsível, que estejam pouco atreladas ao ritmo de consumo.” Segundo ele, uma das alternativas são as companhias de utilidade pública, como as de saneamento básico e energia elétrica.

Mas há empresas que podem se mostrar resilientes em períodos adversos mesmo em setores como o varejo, como é o caso das farmácias. “As pessoas não param de comprar remédio e o envelhecimento da população tende a gerar uma demanda cada vez maior, o que é algo positivo no longo prazo”, diz Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos.

Receita em dólar

Empresas com produções voltadas para o exterior podem se beneficiar da alta do dólar, que tende a subir com a maior aversão ao risco local. “Nesse cenário, o mercado viraria uma bazuca para as exportadoras ”, afirma Lima.

Paloma Brum, analista da Toro Investimentos, ressalta que essas companhias, especialmente as ligadas ao minério de ferro e à proteína animal, também podem ser favorecidas pela recuperação da China , que tem se mostrado muito mais pujante do que a do resto do planeta. “Além do dólar, elas são beneficiadas pela demanda e tendem a sair na frente.”

Um dos poucos países que devem apresentar crescimento do produto interno bruto (PIB) neste ano, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), a China já vem apresentando alta anual em alguns de seus principais indicadores. O ritmo da produção industrial, por exemplo, cresceu 5,6% em agosto em relação ao mesmo período do ano passado. Já as vendas do varejo superaram pela primeira a marca de 2019 no último na comparação anual do último mês.

Tecnologia

Um dos que menos sofreram pelos impactos econômicos da pandemia, as empresas de tecnologia são vistas como uma alternativa caso a segunda onda de coronavírus continue pautando as negociações nas bolsas de valores. Mas, após já terem passado por forte valorização no início do ano, analistas veem com alguma cautela as ações do setor. “Papéis como da Totvs e Sinqia se enquadram na previsibilidade de receita, mas há a discussão sobre o valuation ”, comenta Lima.

Além dos múltiplos elevados na visão de Cruz, o estrategista também enxerga um fator de risco adicional para as empresas de tecnologia caso o candidato democrata Joe Biden vença as eleições presidenciais americanas. “Ele é extremamente favorito e existe uma expectativa clara de que ele vai aumentar os impostos sobre o setor. Com Trump, ele vinha sendo favorecido devido à rivalidade com o setor de tecnologia da China. [ Se isso ocorrer ], as empresas do Brasil também acabam afetadas”, avalia.

Fique de fora

Para Lima, em um cenário de maior aversão ao risco no mercado, as empresas intrinsecamente ligadas à atividade econômica. “Quem está pensando em carteira defensiva deveria passar longe de ações de varejo discricionário, construção civil e companhias aéreas. Os shoppings e bancos também entrariam nessa lista, mas por terem apanhado muito [ desde o início do ano ], não sei se deveria fechar os olhos [ para esses setores ]. Mas se der uma degringolada forte lá na frente, eles vão apanhar do mesmo jeito”, afirma.

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