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Combate do BC a posições vendidas em dólar reduz o carry trade

A última intervenção do governo brasileiro no mercado de câmbio causou a maior elevação do custo de financiamento em dólar no país em um mês

As autoridades intensificaram os esforços para conter a disparada do real após a moeda ter chegado na semana passada à maior cotação desde 1999 (SXC.hu)

As autoridades intensificaram os esforços para conter a disparada do real após a moeda ter chegado na semana passada à maior cotação desde 1999 (SXC.hu)

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Da Redação

Publicado em 12 de julho de 2011 às 11h44.

São Paulo - A última intervenção do governo brasileiro no mercado de câmbio causou a maior elevação do custo de financiamento em dólar no País em um mês, reduzindo o ganho oferecido pelo real em operações conhecidas como carry trade -- nas quais a moeda brasileira é campeã em retorno.

O cupom cambial de três meses -- que mede o custo dos empréstimos em dólar no Brasil -- deu um salto de 40 pontos- base, o maior avanço desde 31 de maio, para 3,5 por cento ontem. A alta foi uma reação ao lançamento pelo Banco Central em 8 de julho de uma medida visando desencorajar apostas na valorização do real em relação ao dólar. O rendimento sobre ativos denominados em reais desabou 273 pontos-base, ou 2,73 pontos percentuais, para 6,98 por cento, de acordo com os contratos a termo de câmbio negociados no exterior com prazo de um mês, os chamados NDF.

As autoridades intensificaram os esforços para conter a disparada do real após a moeda ter chegado na semana passada à maior cotação desde 1999, prejudicando os lucros dos exportadores e ampliando o déficit em transações correntes. Apesar de a medida do BC ter poder para limitar os ganhos do real no “curto prazo”, o aumento do investimento estrangeiro no País significa que a apreciação da moeda será retomada, disse Diego Donadio, estrategista para América Latina do BNP Paribas em São Paulo.

“O que o Banco Central vai fazer é apenas ganhar tempo”, disse Donadio em entrevista por telefone. “Haverá algum ruído no curto prazo, mas os fundamentos vão prevalecer no final.”

Investir no real com recursos tomados nos Estados Unidos gerou retorno de 79 por cento desde o fim de 2008, a maior rentabilidade entre as 41 moedas acompanhadas pela Bloomberg. O rendimento de 6,98 por cento implícito nos NDF com vencimento em um mês é o terceiro maior entre o de 38 moedas acompanhadas pela Bloomberg. O ganho com o dólar australiano é de 4,8 por cento, enquanto para o peso mexicano, o rendimento é de 3,5 por cento.

Rendimento dos títulos

As Notas do Tesouro Nacional série F com vencimento em 2021 pagam 12,44 por cento, ou 952 pontos-base a mais do que os títulos do Tesouro americano de prazo similar, segundo dados compilados pela Bloomberg.

A alta do custo de empréstimo em dólar reduz a vantagem de rendimento dos contratos futuros do Brasil, diminuindo o incentivo para os investidores comprarem reais com dólares tomados a juro barato no exterior.

O real acumula valorização de 5,3 por cento este ano e atingiu 1,5524 por dólar em 4 de julho, o maior nível desde 19 de janeiro de 1999. O déficit em transações correntes subiu para US$ 4,1 bilhões, contra US$ 3,49 bilhões em abril.

O governo busca reprimir as apostas na valorização do real, que somaram US$ 14,7 bilhões em junho, segundo o BC. As posições compradas em real totalizavam US$ 9,3 bilhões em maio, o maior patamar desde dezembro.


Apostas no real

De acordo com comunicado enviado pelo BC em 8 de julho após o fechamento do mercado, as instituições financeiras deverão recolher depósito compulsório de 60 por cento sobre o valor da posição de câmbio vendida que exceder US$ 1 bilhão ou que seja superior ao seu patrimônio de referência, o que for menor. A nova regra altera uma regulamentação anunciada em janeiro, exigindo o recolhimento de compulsório sobre posições vendidas acima de US$ 3 bilhões. Posição vendida é uma aposta na queda do preço de um ativo.

Os bancos têm cinco dias úteis para se adequar à nova regra. Em janeiro, as autoridades deram três meses de prazo para o ajuste.
O BC não quis fazer comentários para esta reportagem.

“A medida deixa claro que não é o fluxo, e sim as operações com posições vendidas e derivativos que forçam a queda do dólar”, disse Sidnei Nehme, diretor da NGO Corretora em São Paulo, em entrevista por telefone. “A especulação ficou muito forte.”

Investimento estrangeiro

Para atender à nova regulamentação, as instituições financeiras que atuam no Brasil precisam desmontar até US$ 5 bilhões em posições vendidas em dólar por meio da venda de contratos futuros com dólar, de acordo com Kenneth Lam, um estrategista para América Latina do Citigroup Inc. em Nova York.

O dólar subiu 1 por cento ontem, a maior valorização desde 15 de julho, para R$ 1,5775.

“O mercado precisa sentir um pouco de medo de que a taxa mude de direção rapidamente”, disse Kirill Ilinski, que supervisiona US$ 600 milhões como diretor de investimentos da Fusion Management LLP em Londres, em entrevista por telefone. “Intervir é uma forma de introduzir incerteza e claramente funcionou até certo ponto.”

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