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Com pior desempenho do mundo, bolsas da China perdem bilhões

O Shanghai Composite Index caiu 43 por cento em relação ao seu máximo, destruindo US$ 748 bilhões em valor de mercado


	As bolsas chinesas “não são para cardíacos”, disse Wellian Wiranto, estrategista de investimentos na unidade de gerenciamento da Barclays Plc
 (Qilai Shen/Bloomberg)

As bolsas chinesas “não são para cardíacos”, disse Wellian Wiranto, estrategista de investimentos na unidade de gerenciamento da Barclays Plc (Qilai Shen/Bloomberg)

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Da Redação

Publicado em 31 de julho de 2013 às 11h07.

Cingapura - Quatro anos após o crescimento da China ajudar a tirar a economia mundial de uma recessão e ganhar a admiração de grandes nomes, como o bilionário George Soros e o prêmio Nobel Joseph Stiglitz, o mercado de ações do país asiático perdeu mais dinheiro de investidores do que qualquer outro no mundo.

O Shanghai Composite Index, que dobrou nos dez meses anteriores a agosto de 2009 depois que o governo despejou US$ 652 bilhões em estímulos para construção de rodovias, estradas de ferro e moradias, caiu 43 por cento em relação ao seu máximo, destruindo US$ 748 bilhões em valor de mercado.

Só o Greece’s ASE Index caiu mais em termos porcentuais. O Standard Poor’s 500 Index, o indicador de referência para o mercado americano, compensou todas as perdas da pior recessão desde a Grande Depressão e ganhou 68 por cento desde o pico da China, chegando a um recorde neste mês.

A China parecia imbatível em 2009, ultrapassando a Alemanha como a terceira maior economia do mundo e crescendo 6 por cento no primeiro trimestre, enquanto os Estados Unidos caíram 4 por cento. Agora, a China está pronta para sua mais fraca expansão desde 1990, depois que o governo determinou que mais de 1.400 empresas fechassem suas fábricas.

“O Consenso de Pequim, considerado por alguns observadores ocidentais como uma alternativa à economia de mercado, é na realidade uma fraude”, disse Hao Hong, diretor de pesquisas sobre a China do Bank of Communications Ltd., em Hong Kong, cujas previsões sobre perdas na Bolsa provaram-se certeiras. “Agora todos nós estamos pagando por isso.”

O premiê Li Keqiang está tentando transformar a China, onde a renda per capita é 88 por cento menor que nos Estados Unidos, em uma economia de consumo, diferentemente da condição atual de país exportador dependente de um câmbio artificial.


O Shanghai Composite, composto de ações continentais restritas a investidores locais e instituições estrangeiras qualificadas, subiu 0,7 por cento ontem, de forma que a queda em 2013 chegou a 12 por cento.

A PetroChina Co., que chegou a ser a maior empresa do mundo em valor de mercado em março de 2010, caiu 11 por cento neste ano. Atualmente, a empresa com sede em Pequim está listada em 10º lugar, com um valor de US$ 233 bilhões.


Valor relativo

“A sensação em relação à China é de que ela pode ir de um extremo ao outro”, disse Gigi Chan, gerente financeiro da Threadneedle Asset Management em Cingapura, que gerencia em torno de US$ 111 bilhões, em 25 de julho, por telefone. “Os investidores estavam muito animados, extrapolando em muito as taxas máximas de crescimento a futuro. Acabou não sendo o caso”.

As bolsas chinesas “não são para cardíacos”, disse Wellian Wiranto, estrategista de investimentos na unidade de gerenciamento da Barclays Plc, que gerencia cerca de US$ 217 bilhões em todo o mundo, em 25 de julho, por telefone, de Cingapura.

Escasez de estoque

O novo modelo do país está deixando para trás empresas de maior peso no Shanghai Composite. Medidas de produtores de commodities, de serviços públicos e de indústrias caíram mais de 45 por cento desde 4 de agosto de 2009. As indústrias respondem por quase metade do índice, segundo dados compilados pela Bloomberg.


A estatal chinesa Construction Engineering Corp., a maior empreiteira do país, caiu 24 por cento desde sua oferta pública inicial, em julho de 2009. Os investidores apresentaram propostas no valor de 1,85 trilhão de yuans (US$ 302 bilhões) na venda de ações, valor maior que todo o mercado de capitalização da Noruega na época.

O crescimento da China desacelerou pelo segundo trimestre consecutivo, atingindo 7,5 por cento no período de três meses encerrado em junho, prolongando a maior sequência de expansão abaixo de 8 por cento em pelo menos duas décadas.

As exportações diminuíram 3,1 por cento em junho em relação ao ano anterior, a maior queda desde a crise financeira, enquanto o crescimento do lucro industrial desacelerou para 6,3 por cento, ante um resultado de 15,5 por cento em maio. A indústria encolheu em julho, segundo um levantamento preliminar de gerentes de suprimentos compilado pelo HSBC Holdings Plc.

“A economia não está em grande forma”, disse por telefone, em 26 de julho, Wang Sheng, estrategista-líder da Shenyin Wanguo Securities Co., de Xangai, empresa que alertou seus clientes a respeito de uma bolha nos mercados chineses em agosto de 2009. “A transformação enfrenta muita incerteza e os investidores ainda têm que tomar consciência de suas perdas”.

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