A resiliência da estratégia contradiz muitos críticos, que têm defendido o fim da abordagem há algum tempo (Caroline Purser / The Image Bank/Getty Images)
Beatriz Quesada
Publicado em 23 de novembro de 2020 às 15h15.
Última atualização em 23 de novembro de 2020 às 16h22.
Durante décadas, uma carteira equilibrada com ações e títulos estava entre os poucos preceitos venerados em investimentos. No entanto, as dúvidas sobre a abordagem aumentaram com a pandemia, o que tornou 2020 um ano único.
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Mas, apesar de todas as queixas, ao que parece 2020 será mais um ano de desempenho sólido para a estratégia 60/40. Uma modelo de portfólio composto de 60% de ações dos Estados Unidos e 40% de títulos subiu 13% no acumulado do ano, de acordo com um índice da Bloomberg. O desempenho está em linha com a alta do índice S&P 500 Total Return e é superior ao ganho de 3,5% do índice HFRX Global Hedge Fund.
A resiliência da estratégia contradiz muitos críticos, que têm defendido o fim da abordagem há algum tempo. No final do ano passado, o Morgan Stanley previu um período de retornos anêmicos para uma carteira típica 60/40 e, neste ano, surgiu o debate sobre alternativas para os títulos na estratégia em meio à queda dos rendimentos para mínimas históricas.
“A grande surpresa é o desempenho do portfólio 60/40 em um ano como o de 2020 — está bem na média histórica”, disse Vincent Deluard, estrategista macro global do StoneX Group. “E 2020 não foi nem um pouco normal.”
Adicionar uma grande quantidade de títulos a uma cesta de ações tem sido um modelo de investimento diversificado por décadas: o componente de renda fixa, mais estável, atua como um equilíbrio para ações mais arriscadas e sensíveis ao crescimento. Neste ano, houve períodos em que ações e títulos caminharam juntos, e críticos aproveitaram para depreciar a estratégia.
O argumento era que os títulos não podem ser uma proteção contra as ações se ambos sobem e caem juntos. Mas isso é um mal-entendido do conceito de investimento 60/40, que tem como objetivo um portfólio diversificado para o investidor de longo prazo, não um hedge fund de retorno absoluto focado no curto prazo.
Mesmo no curto prazo, o portfólio combinado provou ser resiliente. No auge dos temores do coronavírus em março, a carteira da Bloomberg 60/40 caiu menos do que o índice S&P 500 — um sinal dos benefícios da diversificação na prática.
Ainda assim, há muita cautela sobre a abordagem equilibrada. Deluard, que no início deste ano alertou sobre um “inverno nuclear” para carteiras 60/40 que remontam ao colapso de uma década nos anos 1970, disse que a estratégia enfrenta tempos mais difíceis pela frente.
Nathan Thooft, responsável global de alocação de ativos na Manulife Asset Management em Boston, destacou que, embora a estratégia “não esteja morta”, as expectativas de retorno para uma carteira equilibrada tradicional “provavelmente ficarão aquém das últimas décadas”.
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A JPMorgan Asset Management recentemente cortou a expectativa de retornos de uma carteira 60/40 para 4,2% nos próximos anos, embora também tenha reduzido as previsões de crescimento para carteiras de ações globais para 5,1%.
*Com a colaboração de Chris Nagi e Rita Nazareth.