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BTG refaz projeções para ações de varejo e aponta possíveis campeãs do 2º semestre

Analistas cortaram, na média do setor, as projeções de Ebitda e lucro líquido em 2% e 13%, respectivamente, deixando o múltiplo do setor em 17 vezes P/L

BTG: Espaçolaser, Natura e CVC tiveram downgrade (Bloomberg / Colaborador/Getty Images)
KS

Karina Souza

Publicado em 14 de setembro de 2022 às 15h45.

Última atualização em 14 de setembro de 2022 às 15h45.

O BTG Pactual refez as projeções para 19 empresas de varejo na cobertura do banco em um novo e detalhado relatório sobre o setor: "The road to recovery in 2H22". Em uma visão geral, o banco cortou as projeções de Ebitda e de lucro líquido para 2023 em 2% e 13% respectivamente, deixando o setor a um múltiplo médio de 17 vezes Preço/Lucro. De olho em antecipar o que vem por aí com algum foco, os analistas Luiz Guanais, Gabriel Disselli e Victor Rogatis ressaltam quatro tópicos que devem continuar em alta na dinâmica do setor: custos de funding mais altos pressionando lucro e intenção de compra das famílias; inflação alta, afetando custos de operação e renda; consumidores de alta renda impulsionando resultados de empresas que atendem a esse público; e o Auxílio Brasil, que pode ajudar companhias que atendem ao público de baixa renda.

Olhando o impacto desse cenário nas ações de cada empresa, o banco destaca, para o curto prazo, os papéis de Arezzo, Lojas Renner, Grupo Soma, Assaí e Grupo Mateus, que tiveram revisão para cima em relação ao preço-alvo. Na outra ponta, Natura, EspaçoLaser e CVC tiveram as projeções reduzidas para 2022, devido ao cenário de incerteza dos planos de recuperação dos resultados, além de pressão inflacionária.

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"No geral, nós observamos quatro tendências de longo prazo para o varejo brasileiro: o e-commerce continua sendo uma aposta estrutural, ganhando espaço sobre o varejo tradicional; espaço maior para expansão fora dos grandes centros urbanos, ainda que esse seja um processo que tem riscos; lojas físicas desempenhando um papel fundamental para a retomada do crescimento; e grandes empresas se tornando ainda maiores em um segmento ainda muito fragmentado, uma tendência que se acelerou nos últimos trimestres em meio ao ambiente macroeconômico mais difícil para PMEs", escrevem os analistas.

Em relação à expansão para cidades menores, o banco analisou um grupo de 14 empresas dentro da cobertura da companhia, o que mostrou que 44% das lojas delas estão em cidades com menos de 300 mil habitantes (com apenas 12% em cidades com menos de 50 mil habitantes). Ao mesmo tempo, 31% das lojas estão em cidades com uma renda média de R$ 2 mil e apenas 12% estão em cidades com renda menor do que essa.

Para mostrar o potencial que a loja física ainda tem, os analistas apontam que, entre 13 empresas da cobertura do banco, nos últimos cinco anos elas tiveram um aumento médio de 5% na área de vendas ao ano (com mais de 3 mil lojas adicionadas desde 2017). Os destaques nesse sentido ficam com Petz, Lojas Quero Quero, Raia Drogasil e Arezzo.

E o e-commerce?

Em relação ao varejo digital, Enjoei, GetNinjas e Westwing tiveram a recomendação de compra alterada para "Neutra" por razões similares, que trouxeram impactos no balanço das empresas. Ao mesmo tempo, a recomendação de compra ficou mantida para Mercado Livre, Magalu e Americanas. Em relação à Via, não houve mudança (a empresa permaneceu com recomendação "Neutra"). As estimativas em relação ao preço-alvo de todas essas empresas sofreram alterações.

"Para o comércio eletrônico, observamos três tendências para os próximos trimestres: recuperação gradual do crescimento de GMV, foco em rentabilidade na operação — o que significa eliminar categorias não rentáveis, especialmente aquelas com tíquete baixo —, preservação de caixa e consolidação de mercado, um processo que esperamos que se acelere com o cenário macroeconômico desfavorável. MELI permanece como a nossa principal escolha no segmento", escrevem os analistas.

Um dado importante que aponta para essa consolidação já aparece no relatório: em 2016, os três principais e-commerces do país representavam 46% do varejo digital. É um percentual que aumentou para 61% na pandemia (2020) e chegou a 65% em 2022.

Veja a recomendação para cada uma das empresas:

Lojas Renner

Os analistas estabeleceram um novo preço-alvo de R$ 39, ante R$ 37 antes, e mantiveram a recomendação de compra. "Apesar de uma redução esperada nas vendas no segundo semestre do ano passado e de pressão nos resultados da Realize, nós ainda vemos a Renner bem posicionada para ganhar market share no segmento fragmentado de varejo de vestuário", escrevem os analistas.

Alguns dos pontos mencionados para isso são: a cadeia de distribuição "em estado da arte", segundo o relatório, qualidade da execução operacional e iniciativas omnicanal. O banco vê a ação sendo negociada a 16 vezes Preço/Lucro em 2023, em linha com o setor.

Assaí

O novo preço-alvo é de R$ 25, ante R$ 19 antes, com recomendação de compra. A recuperação da varejista de alimentos na pandemia desde o fim do ano passado, vista como uma tendência nos próximos trimestres, além do início da reabertura das lojas do Extra são fatores citados como benéficos para a companhia. Na visão dos analistas, 45% das lojas convertidas do hipermercado estão em cidades com renda média acima de R$ 2 mil (um percentual que hoje é de 32% nas demais lojas e de 23% no setor como um todo).

Isso, combinado com a possível redução de juros em 2023, traz uma percepção de que as ações serão negociadas a 15 vezes P/L no ano que vem. Os analistas ainda revisaram as previsões de receita e Ebitda em 6% e 14% acima de antes, na média, para os próximos quatro anos.

Grupo Mateus

Novo preço-alvo de R$ 11, ante R$ 13 antes, com recomendação de compra. O valuation descontado (a empresa deve ser negociada a 9,5 vezes P/L em 2023) justificam o rating, segundo os analistas, mesmo com alguns desafios do cenário macroeconômico à frente, como a redução do poder de compra com o aumento da inflação — o que pode ser minimizado com a renda que entra a partir do Auxílio Brasil.

Arezzo

Novo preço-alvo de R$ 125, ante R$ 103 antes, com recomendação de compra. A empresa será negociada a 17 vezes P/L no ano que vem e continua sendo um dos principais destaques de 2022. Os analistas revisaram as estimativas de receita e lucro em 26% e 25%, respectivamente, para os próximos três anos, enquanto o lucro líquido está 31% acima da projeção anterior.

"O planejamento estratégico da Arezzo foca em quatro pilares: expansão no segmento de vestuário feminino, um mercado de R$ 15 bilhões, além de crescimento inorgânico e crescimento internacional acelerado. Por fim, expansão orgânica das marcas também está no centro. Nossa percepção positiva reflete a resiliência da companhia no mercado local, impulsionada pelo e-commerce e pela omnicanalidade, bem como pela recuperação no consumo entre classes mais altas", escrevem os analistas.

Grupo Soma

Novo preço-alvo de R$ 19, ante R$ 17, com recomendação de compra. "Apesar de um cenário macro complicado para o nicho da Hering, a proposta de valor da companhia de gestão de várias marcas e exposição a consumidores de alta renda oferece maior poder de precificação e maior proteção à inflação do que a maioria dos pares", dizem os analistas. O fato de ser negociada a 18 vezes P/L em 2023 e ter crescimento anual composto de 31% entre 2022 e 2025 corroboram a recomendação.

Grupo SBF

Novo preço-alvo de R$ 31, ante R$ 34 antes, com recomendação de compra. "Vemos de forma positiva o sólido progresso na integração das operações da Fisia, melhorando a omnicanalidade e criando seu ecossistema de artigos esportivos. Com sua posição de liderança em um mercado de artigos esportivos altamente fragmentado e uma estrutura de capital sólida, vemos muito
espaço para ganhos de participação de mercado", escrevem os analistas.

Raia Drogasil

Novo preço-alvo de R$ 29, ante R$ 31 antes, com recomendação de compra. A ação é negociada a um prêmio significativamente superior na comparação com os pares (32 vezes P/L, ante 17 para o setor), o que limita um upside em curto prazo, segundo os analistas. Mas o foco operacional da empresa, o plano de expansão sólido e um CAGR de 33% para o lucro líquido entre 2022 e 2025 reforçam a visão dos analistas sobre a companhia. As estimativas de receita e Ebitda foram revisadas para cima, em 5% e 2%, na média, para os próximos quatro anos.

Grupo Dimed

Novo preço-alvo de R$ 25, ante R$ 34 antes, com recomendação de compra. A visão positiva é baseada em quatro pilares: alta densidade de lojas na região em que atua, proposta multicanal, integração e sinergias entre o segmento de farma, distribuição e industrial e o aumento de vendas de produtos private label. As estimativas de receita e Ebitda para os próximos quatro anos foram revisadas para cima em 17% e 10%, respectivamente, enquanto a revisão do lucro para o mesmo período foi cortada em 15%.

Hypera

Novo preço-alvo de R$ 48, ante R$ 43 antes, com recomendação de compra. Negociada a 14 vezes P/L para 2023, "a Hypera é uma opção para investidores procurando exposição a nichos mais resilientes dentro do varejo em meio a uma perspectiva volátil para ações em crescimento", escrevem os analistas.

Smartfit

Novo preço-alvo de R$ 27, ante R$ 33 antes, com recomendação de compra. A ação é vista como uma aposta mais arriscada do que outros players em meio ao ambiente de inflação mais alta, mas os planos de crescimento na América Latina, múltiplos atrativos do setor, desenvolvimento do ecossistema de bem-estar e exposição a um setor fragmentado são apresentados como pontos que justificam a recomendação.

Positivo

Novo preço-alvo de R$ 17, ante R$ 15 antes, com recomendação de compra. Os pontos positivos atrelados à empresa envolvem a posição de liderança da companhia para computadores, liderança em contratos com o governo e instituições públicas e projetos adicionais para diversificar receita, como inteligência artificial e Positivo As A Service.

Lojas Quero Quero

Novo preço-alvo de R$ 11, ante R$ 15 antes, com recomendação de compra. A expertise local da companhia, um modelo de negócio que vai bem em regiões de interior e a execução operacional fazem o banco projetar um CAGR de 26% no Ebitda entre 2022 e 2026.

Grupo Pão de Açúcar

Novo preço-alvo de R$ 39, ante R$ 47 antes, com recomendação de compra. Depois de descontinuar os hipermercados, 41% das vendas do GPA já vêm de lojas premium, o que representa um desafio na medida em que a inflação continua elevada no curto prazo. "A vantagem em nosso modelo consolidado, junto com a recomendação, ainda depende da soma das partes de vários ativos da companhia, especialmente o Éxito", dizem os analistas.

A avaliação, feita antes do possível spin-off da rede colombiana, foi de que a divisão brasileira considera a divisão brasileira com R$ 18 por ação, enquanto o Éxito fica em R$ 34 por papel. Para a CNova, os analistas assumiram que a divisão não será monetizada em um futuro próximo.

C&A

Novo preço-alvo de R$ 7, ante R$ 11 na visão anterior, com recomendação de compra. O novo preço ainda oferece alguma possibilidade de upside, mas dado o risco do cenário macroeconômico, Renner, Arezzo e Soma ainda são as preferidas pelos analistas.

CVC

Novo preço-alvo de R$ 13, ante R$ 33, com downgrade para Neutro. A mudança na recomendação está atrelada principalmente aos desafios que a companhia deve enfrentar, como o alinhamento entre a base de franquias e as vendas online, ao mesmo tempo que a estrutura de capital também preocupa os analistas. As estimativas de receita e Ebitda foram revisadas para -3% e 38%, na média, para os próximos quatro anos.

Espaçolaser

Novo preço-alvo de R$ 4, com downgrade para Neutro. O cenário macroeconômico complicado e a estrutura de capital da companhia chamaram a atenção dos analistas. As estimativas de receita e Ebitda foram cortadas em 22% e em 41%, na média, para os próximos quatro anos, considerando a redução de expansão de lojas.

Natura

Novo preço-alvo de R$ 18, antes R$ 70 antes, com downgrade para Neutro. Os esforços da empresa para simplificar a estrutura em um cenário adverso foram vistos de forma positiva pelos analistas, mas ainda há dúvidas sobre o timming e o valuation dos movimentos. "No curto prazo, as margens devem continuar sob pressão, com uma receita fraca, enquanto o aumento da taxa de juros e a alavancagem da empresa oferecem pouco espaço para uma melhora de bottom line", escrevem os analistas. As projeções de receita e Ebitda foram revisadas em 14% e 21% para os próximos quatro anos, em média.

 

 

 

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