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"Brasil pode atrair até US$ 180 bilhões em 2019", diz presidente do Citi

Marcelo Marangon diz acreditar que valor virá de uma reação da bolsa à implementação da reforma trabalhista e de investimentos externos diretos

Logo do Citigroup: presidente da instituição fala sobre perspectivas para o mercado financeiro (Rodrigo Capote/Bloomberg)

Logo do Citigroup: presidente da instituição fala sobre perspectivas para o mercado financeiro (Rodrigo Capote/Bloomberg)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 26 de dezembro de 2018 às 09h37.

Última atualização em 26 de dezembro de 2018 às 10h08.

São Paulo - Só com a aprovação da reforma da Previdência, o Brasil pode atrair entre US$ 50 bilhões e US$ 100 bilhões no próximo ano para a Bolsa e mais US$ 80 bilhões de investimento externo direto, afirma o presidente do Citi no Brasil, Marcelo Marangon. "Fundos globais dedicados a mercados emergentes reduziram substancialmente a exposição ao País", diz. "Agora, o investidor estrangeiro está esperando esta comunicação do novo governo sobre as reformas, ele está mais cético, esperando as coisas acontecerem", avalia o presidente do Citi, segundo maior banco estrangeiro do País, atrás apenas do Santander Brasil. Com R$ 74 bilhões em ativos, o Citi vendeu em 2017 para o Itaú operação de varejo, voltada para pessoas físicas. Hoje, o banco atende apenas empresas e clientes donos de grandes fortunas. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Qual a expectativa do banco em relação ao primeiro ano de governo Bolsonaro?

Estamos muito otimistas com as perspectivas do Brasil. Esse otimismo está diretamente alinhado com a capacidade do novo governo de aprovar as reformas. Quanto mais cedo e mais profundas forem as reformas, maior será o nível de confiança e a atração de investimento, seja do local ou do estrangeiro. O nível de confiança das empresas tem aumentado. Projetos que tinham sido paralisados voltaram à mesa. Vemos grande expectativa de o Brasil ter recuperação mais rápida que o esperado, pois a inflação está sob controle, os juros estão historicamente baixos e a capacidade ociosa está alta. Esses três elementos fazem com que se consiga girar a economia de maneira muito rápida sem muito investimento de curto prazo.

O que o sr. espera da reforma da Previdência em 2019?

Temos alguns cenários: uma reforma rápida e profunda, que seria o melhor dos mundos, e uma reforma em etapas ao longo do ano. Se houver clara comunicação da profundidade da reforma, de como será executada e de seu "timing", a execução não precisa ser de uma única forma. Se for em etapas, desde que seja comunicada, não seria tão problemático. A reforma tributária, a política e a manutenção do teto de gastos também são igualmente importantes. Nosso cenário base é uma aprovação da Previdência em etapas.

E se a reforma da Previdência não acontecer?

Não trabalhamos com esse cenário. Achamos que já existe um consenso dentro do governo, que tem sido muito claro na priorização das reformas. As equipes de Bolsonaro estão sendo formadas com técnicos, bons especialistas. A equipe econômica é forte e tem a confiança do mercado financeiro.

A aprovação da Previdência pode elevar o fluxo de recursos estrangeiros no Brasil?

Temos fundos globais e dedicados a mercados emergentes subalocados no Brasil. Eles reduziram substancialmente a exposição ao País. O investidor estrangeiro está esperando essa comunicação do novo governo sobre as reformas, ele está mais cético, esperando as coisas acontecerem. O investimento externo direto pode somar mais de US$ 80 bilhões, ante US$ 70 bilhões em 2018. Na parte de investidores de portfólios, podemos atrair bilhões, entre US$ 50 bilhões a US$ 100 bilhões, dependendo dos cenários.

Como ficou o Citi no Brasil após a venda do banco de varejo para o Itaú Unibanco?

Pela primeira vez, trabalhamos este ano inteiro como um banco de atacado (com foco em empresas). O Citi Brasil se tornou a quinta maior franquia do Citi em atacado no mundo. Por volta de 2013, estávamos mais próximos do décimo lugar.

Como o sr. vê a atuação dos bancos públicos no governo de Bolsonaro?

Existe uma estratégia de privatizar algumas linhas de negócio e a tendência de focar esses bancos em seus respectivos negócios principais. Nós estamos acompanhando esse processo de perto tanto sob a ótica de participar da estruturação tanto de eventuais interessados globais.

O Citi tem interesse em algum ativo dos bancos públicos?

Discutimos várias parcerias, mas o nosso negócio no Brasil já está muito bem definido. Está redondinho. Temos um banco completo de atacado, com toda as linhas de negócios. Esse continuará sendo nosso foco.

O que o Citi espera do setor de infraestrutura no próximo governo?

O Brasil tem investido na média 2% do PIB em infraestrutura. Na nossa visão, deveria ser no mínimo o dobro, 4% do PIB, mais ou menos US$ 80 bilhões por ano para começar a fechar o gap nos próximos 20 anos. Nós vemos um protagonismo maior do setor privado.

E como fica o financiamento para infraestrutura com atuação mais discreta do BNDES?

Não vemos limitação em financiamento pelo setor privado. Existe liquidez e apetite tanto do mercado local quanto do internacional, tanto de bancos quanto de investidores. O que o Brasil tinha de carência não era em relação ao apetite, mas à estrutura do financiamento em infraestrutura. É preciso adotar padrões globais de contratos, de garantias, de riscos e ter um ambiente regulatório onde se tenha permanência, segurança jurídica etc.

 

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