Bolsa fecha em queda de quase 1% com falas de Powell no radar
Fed manteve intervalo de taxa de juros e informou que deve continuar atuando no mercado de repos até abril
Guilherme Guilherme
Publicado em 29 de janeiro de 2020 às 18h46.
Última atualização em 29 de janeiro de 2020 às 19h32.
O clima de otimismo do início da sessão não aguentou mais de uma hora de pregão. Embora tenha aberto em alta, chegando a superar os 117 mil pontos, o Ibovespa caiu para o terreno negativo ainda pela manhã e encerrou a sessão desta quarta-feira (29) em queda de 0,94%, em 115.284,84 pontos.
As mínimas do dia, porém, só foram tocadas no final da tarde, após a entrevista coletiva concedida pelo chairman do Federal Reserve , Jerome Powell . A decisão monetária de manter os juros americanos no intervalo entre 1,5% e 1,75% veio em linha com o esperado, mas o discurso de Powell acabou por despertar o instinto defensivo dos investidores.
“O mercado não gostou quando o Powell disse que irá manter a injeção de liquidez no mercado de repo até abril. Teve uma uma grande busca por segurança depois da fala”, disse Jefferson Laatus, estrategista-chefe e fundador do Grupo Laatus.
Os repos são acordos de recompra de curto prazo e funcionam de forma similar às operações de overnight. O Fed vem fazendo esse tipo de operação desde setembro para controlar o súbito crescimento das taxas cobradas nesse mercado, como ocorreu no ano passado. “É uma liquidez inflada”, comentou Laatus.
Após a entrevista de Powell, o S&P 500, que vinha de alta puxada por ações de tecnologia que divulgam balanço hoje, começou a cair e encerrou em queda de 0,089. Por aqui, o Ibovespa aumentou suas perdas.
Laatus também disse que os efeitos do coronavírus seguem pressionando as negociações, mas de forma mais amena. “A China vem tentando conter o vírus, mas o mercado não está precificando como deveria. A situação é mais grave. Quando a China divulgar os impactos da doença no PIB podemos ter reações ainda mais fortes do que a que vimos”, afirmou.
No Brasil, os papéis de companhias do setor de turismo e aviação estiveram entre as maiores baixas do pregão desta quarta, tendo como pano de fundo a possibilidade de o risco de contágio por coronavírus reduzir o número de viagens. Na Bolsa, os papéis da Azul e Gol caíram 4,07% e 3,45%, respectivamente, e os da CVC , 3,64%.
Entre as ações com mais peso no Ibovespa, o destaque negativo ficou com as financeiras. Sem muita relação com a crise de saúde pública chinesa, os papéis do setor chegaram a sofrer menos nos últimos dias. Hoje, a história foi outra.
Nesta quarta, os papéis do Banco do Brasil recuaram 2,46%, os do Itaú , 1,55%, e os do Bradesco , 1,43%. Pela manhã, as ações do Santander chegaram a ter alta de 3%, após o banco reportar crescimento de 9% em seu lucro líquido do último trimestre, mas também fecharam no vermelho, caindo 1,86%. A B3 caiu 0,98%.
Os frigoríficos também tiveram dia negativo, com os papéis da JBS , Marfrig e BRF tendo respectivas perdas de 2,84%, 4,06% e 0,83%.
Por outro lado, as ações da MRV subiram 4,64%. Nesta quarta, a construtora mineira fez o anúncio de sua plataforma digital de vendas de imóveis. A ideia é desburocratizar o processo de compra, que, no setor imobiliário, costuma demorar dias ou até semanas para ser concretizado. Segundo a companhia, a nova tecnologia vai possibilitar que os contratos sejam fechados no mesmo dia - e tudo online.
Em relatório, analistas da Guide Investimentos classificaram a novidade como positiva. “ A facilidade de se realizar a compra totalmente online e em pouco tempo, impacta positivamente as vendas da MRV, tendo em vista que atinge mais clientes com menos capital humano”, escreveram.