Bolsa brasileira está atrás de emergentes em quase 50%. Chance de alta?
Mercado local na perspectiva de estrangeiros não aproveita mais o cenário global favorável por causa de fatores como o risco fiscal, mas isso abre espaço para altas adicionais
Beatriz Quesada
Publicado em 12 de fevereiro de 2021 às 11h17.
Última atualização em 12 de fevereiro de 2021 às 16h12.
A performance da bolsa de valores brasileira na perspectiva do investidor estrangeiro está 46,24% atrás de seus pares emergentes na corrida pela recuperação pós-pandemia. O resultado vem da comparação entre os índices MSCI, usados como uma espécie de termômetro para investimentos em escala global.
O índice MSCI Emerging Markets, que analisa ativos de 26 países de mercados emergentes, avançou 42,01% desde março de 2020 -- momento mais agudo da crise do novo coronavírus no mercado financeiro. Já o MSCI Brazil, que é composto por ações da B3, ainda está em terreno negativo e acumula perdas de 4,23% no mesmo período.
O bom desempenho dos pares emergentes reflete um movimento global em que investidores estão procurando por ativos de risco. O avanço da vacinação e as expectativas de recuperação das economias induzem a busca por rendimentos mais altos, encontrados com maior potencial em mercados emergentes, mais arriscados que os das economias desenvolvidas.
É importante esclarecer que o índice MSCI Emerging Markets está muito associado ao mercado chinês, que ocupa uma fatia de 40,13% do bolo. Na sequência estão as bolsas de Taiwan (13,32%), Coréia do Sul (13,3%), Índia (8,83%) e só então o Brasil (4,61%). O protagonismo da Ásia no índice explica a sua rápida recuperação, afinal, a região foi a que melhor conteve o avanço da Covid-19 -- além de ser a casa de grandes gigantes de tecnologia, como Alibaba e Tencent.
Outro ponto que ajuda a explicar a grande defasagem entre a bolsa brasileira e as demais é o peso do dólar , que avançou quase 20% contra o real desde o início da pandemia.
"À medida que o dólar se valoriza, parte do ganho do índice MSCI Brazil é corroído. Isso explica por que o Ibovespa já se recuperou da crise e o MSCI Brazil ainda não”, afirma Bruno Lima, analista de renda variável da EXAME Research . Desde março de 2020, o Ibovespa acumula valorização de 14,52%.
O dólar, porém, não é o único "culpado". O próprio avanço da moeda americana está incluído em um contexto que explica por que os ganhos da bolsa brasileira não foram mais expressivos: o risco fiscal elevado. O país continua com as contas públicas desequilibradas, o que aumenta os riscos de investir localmente. Como resultado, investidores correm para o dólar em busca de mais segurança e ficam cautelosos em apostar na bolsa.
O descompasso fica visível ao comparar o desempenho do Ibovespa contra o de outras bolsas emergentes. Enquanto o índice brasileiro acumula alta de menos de 15% desde o início da pandemia, o S&P Merval, da Argentina, e o BIST 100, da Turquia, têm crescimentos acumulados bem maiores: 48,52% e 45,82%, respectivamente.
A bolsa está barata?
A diferença de performance não significa, por si só, que a bolsa brasileira esteja barata, segundo Lima. “Existe uma razão para o desconto frente aos outros emergentes, que é o risco fiscal. Se ele for endereçado, a bolsa brasileira pode aproveitar melhor o momento global e subir ainda mais. Caso isso não aconteça, os ganhos vão vir em menor intensidade”, afirma.
O Bradesco BBI acredita que os ruídos domésticos devem diminuir nos próximos meses, o que daria força para ações brasileiras que não estão conseguindo participar “da festa do mercado global de ativos”.
Segundo relatório publicado pelo banco nesta semana, o MSCI Brasil está sendo negociado a múltiplos de preço/lucro dentro da média histórica, enquanto outros índices de economias emergentes e desenvolvidas estão operando acima de suas médias. Isso significa que os investidores estão pagando mais pela expectativa de lucro de companhias estrangeiras, enquanto as brasileiras ainda não embarcaram na onda de valorização.
Já para o Itaú BBA , as ações nacionais estão sendo negociadas um pouco acima de sua média histórica, mas com desconto de 25% em relação ao múltiplo médio dos mercados emergentes. Em relatório publicado em fevereiro, o banco prevê um cenário de recuperação para o Brasil, com o índice Ibovespa terminando 2021 aos 135.000 pontos.