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B3 quer audiência pública para corretoras poderem negociar com clientes

Hoje, a corretora não pode ser contraparte, ou seja, negociar com o cliente, limitando-se a fazer apenas o contato entre compradores e vendedores

Visitante observa painel eletrônico com cotações no pregão da B3 (Paulo Whitaker/Reuters)

Anderson Figo

Publicado em 18 de dezembro de 2018 às 11h04.

A bolsa B3 vem tendo uma série de discussões com várias corretoras de valores e com o regulador, a Comissão de Valores Mobiliários ( CVM ), para criar um sistema para que essas instituições possam oferecer liquidez aos clientes, comprando e vendendo ativos, e com isso facilitem o fechamento das operações, afirmou hoje Cícero Augusto Vieira Neto, vice-presidente de Operações, Clearing e Depositária da bolsa. Hoje, a corretora não pode ser contraparte, ou seja, negociar com o cliente, limitando-se a fazer apenas o contato entre compradores e vendedores usando o sistema Puma da bolsa. A informação foi antecipada pelo Portal do Pavini na sexta-feira.

Com o sistema, chamado também de “facilitation”, que já é muito usado no exterior, a corretora poderá comprar um ativo e vendê-lo a outro cliente. Algumas corretoras já oferecem esse sistema com robôs que casam as ofertas e depois as registram na bolsa, usando a chamada ordem direta intencional, mas há questionamentos se a operação é regular, por ser fechada primeiro fora da bolsa pelo algoritmo. “A gente espera, nos próximos dias, não tem nada definido ou aprovado, mas o que está definido é que vamos divulgar uma audiência pública sobre o tema, com uma visão nossa, e nos próximos 45 dias esperamos receber comentários de mercado e sugestões, a visão dos mais diferentes players, mas especialmente das corretoras”, disse, durante balanço do ano da bolsa.

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Ele explicou que o que será discutido não é a possibilidade de ter uma negociação das corretoras fora do ambiente da bolsa, mas sim uma funcionalidade dentro do próprio sistema Puma, da B3, para que a corretora possa oferecer liquidez para os clientes e com a garantia de obtenção do melhor preço pelo cliente. “Isso é muito importante, o sistema será dentro do Puma”, destacou. “Com isso, podemos assegurar que o cliente estará sempre obtendo o melhor preço ao negociar por uma corretora por intermédio do nosso sistema”, explicou.

Sobre as corretoras que já oferecem esse serviço, se elas terão de mudar, Vieira Neto explicou que o que está sendo proposto é um sistema novo. “A gente tem no nosso ambiente o registro de direto intencional, entre um cliente comprador e um vendedor dentro de uma corretora, e a gente tem várias corretoras usando esse direto”, disse. “Isso é uma forma de fazer algo que é parecido com o que a gente vai propor na audiência pública, mas não é igual, pois o direto é fechado dentro da corretora e depois registrado no Puma obedecendo a determinadas regras”, afirmou. “Essa funcionalidade que queremos apresentar ao mercado é uma oferta que funciona dentro do Puma e todas as ordens dos clientes são encaminhadas para o Puma e dentro de determinadas condições o negócio será fechado dentro do Puma, e não registrado como um direto”, afirmou.

O sistema será usado principalmente para os “traders”, investidores profissionais que negociam minicontratos futuros de índice Bovespa ou dólar futuro, e que se beneficiariam de um aumento da liquidez, que tornaria os preços mais ajustados. As corretoras também se beneficiam pois acabam aumentado seus volumes e podem ter ganhos nessas negociações, dentro dos parâmetros estabelecidos pela bolsa. O chamado “facilitation” acaba proporcionando receita para a corretora que, em geral, acaba dispensando a cobrança de tarifas para atrair ainda mais clientes.

Por isso, alguns corretores alegam que o sistema tem de ser bem calibrado, para não criar distorções no mercado de corretagem, com empresas grandes atuando sem tarifas para atrair clientes para o “facilitation” e quebrando as pequenas que se concentrem mais em serviços que na execução das ordens apenas e que dependam mais da corretagem. Uma queda nas corretagens seria muito ruim também para os agentes autônomos, que recebem parte das receitas cobradas pelos serviços.

Esta reportagem foi publicada originalmente na Arena do Pavini.

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