Atos antidemocráticos têm impacto político mais prolongado e fortalecem Lula, diz JP Morgan
Para o banco, reação negativa do mercado deve ser de curto prazo, com os olhos se voltando para as decisões do dia a dia do governo
Raquel Brandão
Publicado em 9 de janeiro de 2023 às 12h11.
Última atualização em 9 de janeiro de 2023 às 12h28.
Após os atos antidemocráticos de domingo, 8, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sai fortalecido, segundo o banco JP Morgan. "O impacto político pode ser mais prolongado. Com o fortalecimento do presidente e o enfraquecimento da oposição, percebe-se uma maior radicalização da esquerda, talvez levando a agenda mais longe do que se imagina, ainda que o Congresso continue dominado pelos partidos de centro que, ao menos em tese, seriam uma força contra a radicalização", escrevem os analistas Emy Shayo Cherman, Cinthya M Mizuguchi e Pedro Martins Jr em relatório distribuído ontem.
De acordo com os analistas do banco norte-americano, o ato dos apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro foi mais midiático do que os ataques realizados nos Estados Unidos dois anos antes por apoiadores do também derrotado Donald Trump, que ocuparam o Congresso americano.
Neste contexto, para a equipe, a reação negativa do mercado deve ser de curto prazo. "Com a retomada do trabalho do governo no dia a dia, a atenção deve se voltar para as questões macro que estiveram no topo e, aos poucos, mas ganhando importância, as mudanças micro regulatórias que começam a ganhar mais espaço nas discussões governamentais."
Os analistas observam ser preciso observar se esses protestos irão surgir novamente e, em caso afirmativo, a intensidade deles. Eles citam, por exemplo, o risco de greve de caminhoneiros. Para eles, na agenda macro, os eventos relevantes futuros incluem a substituição de dois diretores do Banco Central, o novo plano econômico, que deverá ser apresentado pelo ministro Haddad e o formato da reforma tributária.
As ações brasileiras, argumentam eles, não têm tido vida fácil, mas é preciso esperar a "poeira baixar", quando o cenário global deve ocupar a prioridade na determinação dos preços. "O cenário político parece bom, mas a incerteza doméstica torna os ativos limitados por enquanto", escrevem, apontando preferência por ações de finanças, bens de consumo discricionário mais expostos às classes sociais mais baixas, alimentos e bebidas, matérias-primas.